terça-feira, 23 de outubro de 2007

Grandes Lagos encolhem e preocupam transportadoras

De seu escritório no porto de Oswego, Jonathan Daniels contempla a marca de nível de água entalhada nas rochas adjacentes a um dos píeres comerciais - uma linha escura e grossa bem acima da superfície do Lago Ontário - e imagina o quanto mais a água pode baixar. "O que precisamos é de alguma chuva", diz Daniels, diretor da Autoridade do Porto de Oswego, uma das diversas agências portuárias públicas do lado norte-americano dos Grandes Lagos. "Quanto mais água perdemos, menos carga os navios que viajam pelos Grandes Lagos poderão transportar, e a cada vez que isso acontece os armadores perdem dinheiro", ele afirmou. "Em última análise, pessoas como eu e você é que pagarão o preço".

Os níveis de água nos Grandes Lagos estão em queda. O Lago Ontário, por exemplo, está cerca de 18 cm abaixo de sua marca do ano passado. E, para cada cm de água perdido, os navios que transportam materiais a granel pelas vias aquáticas precisam reduzir em cerca de 100 t a sua carga, para não correrem o risco de encalhar, de acordo com a Associação das Transportadoras dos Lagos, uma associação setorial dos armadores norte-americanos que operam na região. Como resultado, mais navios se tornam necessários, o que eleva em milhões de dólares os custos operacionais das companhias de navegação, estimam especialistas em comércio marítimo. "Quando um navio deixa a doca e não está transportando sua plena capacidade, o efeito é o mesmo que o de um avião que decola com assentos vazios: a capacidade de faturamento do veículo se reduz", disse Richard Stewart, co-diretor do Centro de Pesquisa de Transportes e Logística da Universidade de Wisconsin-Superior. "Porque estamos falando principalmente de matérias-primas, o consumidor médio pode registrar elevação de alguns centavos no preço que paga por, digamos, um carro novo ou uma nova máquina de lavar", disse Stewart. Para as grandes empresas do setor industrial ou companhias que administram grandes projetos, porém, a elevação nos custos do transporte é "muito mais significativa", ele disse.

O porto de Oswego recebe resíduos de alumínio do Canadá, e o material passa por laminação em uma usina local e é enviado a montadoras de automóveis; recebe soja, que é usada no processamento de biocombustível em uma usina na vizinha Fulton; e peças de moinhos de vento usados para gerar energia eólica em uma fazenda ao sul do Lago Canandaigua, perto de Rochester, diz L. Michael Treadwell, diretor da Operação Oswego County, uma agência de desenvolvimento econômico sem fins lucrativos. As peças para os moinhos vêm do Brasil e da Indonésia, em navios que entram no Lago Ontário pela rota aquática do rio St. Lawrence, pela qual a região dos lagos se conecta ao Oceano Atlântico. O porto também recebe soja cultivada na região central do Estado de Nova York, para exportação ao Oriente Médio, e cargas de potassa, um mineral utilizado na fabricação de fertilizantes, bem como sal para combater o acúmulo de gelo nas estradas, que é transportado por ferrovia e em caminhões para empresas localizadas ao longo do território leste dos Estados Unidos.

O nível de água nos cinco Grandes Lagos - Superior, Michigan, Huron, Erie e Ontário - está abaixo das médias de longo prazo para a região, e a probabilidade é de que o problema permaneça até março, de acordo com o Corpo de Engenharia do Exército. (O mesmo pode ser dito sobre o Lago St. Clair, que fica na fronteira entre o Estado de Michigan, nos Estados Unidos, e a província canadense de Ontário, e não é considerado como um dos Grandes Lagos, ainda que esteja integrado ao sistema de navegação dos Grandes Lagos). A maioria dos pesquisadores ambientais acredita que o baixo índice de precipitação pluvial, os invernos não muito intensos e o índice elevado de evaporação, causado em larga medida pela falta de coberturas espessas de gelo para impedir que as águas geladas do lago fiquem em contato com o ar mais quente que as recobre, estejam causando a queda no nível de água dos lagos.

Os Grandes Lagos seguem um ciclo natural, com seu nível de água subindo durante a primavera até atingir um pico no verão, quando elas começam a baixar até que chegam ao seu ponto mais baixo durante o inverno, com a elevação no índice de evaporação. Nos últimos dois anos, a evaporação vem sendo superior à média histórica, e não vem acontecendo chuvas e nevascas em volume suficiente na região dos lagos mais setentrionais - Superior, Michigan e Huron -, que servem como fonte de água para os lagos mais meridionais. Por isso, o sistema não vem sendo restaurado e a água não está retornando aos seus níveis normais, disse Keith Kompoltowicz, um meteorologista do Corpo de Engenharia do Exército norte-americano, em Detroit, cuja missão é monitorar o nível de água nos lagos. "A Mãe Natureza é, em larga medida, a força que determina o nível de água nos lagos, e desempenha um papel muito importante nas projeções que desenvolvemos quanto aos níveis de água", ele afirmou.

A Comissão Internacional Conjunta, uma agência bilateral que assessora o Canadá e os Estados Unidos quanto a questões de recursos hídricos, está conduzindo um estudo com prazo de cinco anos e orçamento de US$ 17 milhões a fim de determinar se a redução no nível de água e na área dos Grandes Lagos se relaciona aos ciclos sazonais de elevação e queda do nível de água ou se resulta das alterações no clima mundial, informou Greg McGillis, porta-voz da comissão. O relatório final da organização sobre o tema deve ser divulgado apenas em março de 2012.

Fonte: The New York Times

2 comentários:

Anônimo disse...

Nem li mto grande meu

Anônimo disse...

Nem li mto grande meu