A ONG Greenpeace apresentou hoje um relatório sobre a emissão de gás carbônico a partir do funcionamento da usina nuclear de Angra 3. Intitulado Cortina de Fumação: Emissões de CO2 e Outros Impactos da Energia Nuclear, o estudo mostra que as emissões da usina poderiam atingir até 400 g de gás carbônico (CO2) por quilowatt/hora gerado de energia.
O nível mínimo de emissões na atmosfera seria de 150 g de CO2 por quilowatt/hora. O estudo foi apresentado no Rio de Janeiro durante audiência pública promovida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A coordenadora da Campanha de Energia do Greenpeace, Rebeca Lerner, afirmou que o relatório quer "rebater esse argumento de que a energia nuclear seria uma energia mais limpa e uma solução para o aquecimento global". Ela reiterou a posição da Greenpeace, que é contra a retomada da usina e o uso da tecnologia nuclear para geração de energia de modo geral. Os números do relatório da organização não-governamental levam em consideração desde a etapa de extração do urânio nas minas até o descomissionamento (desinstalação) da usina ao fim de sua vida útil, estimada entre 30 a 40 anos. As etapas intermediárias seriam a fabricação do combustível nuclear, transporte do combustível, construção da infra-estrutura da usina; operação; e gerenciamento de rejeitos radioativos.
Para os cálculos, a ONG utilizou uma metodologia desenvolvida internacionalmente, aplicada na Inglaterra e na Alemanha, e adaptou ao caso nacional de Angra 3. "Essa metodologia estuda o gasto energético de cada uma dessas etapas da produção da energia nuclear. E a geração dessa energia que é consumida nesse ciclo provoca emissões de gases de efeito estufa", informou Lerner. A coordenadora da Campanha de Energia do Greenpeace reconheceu que o provável índice de emissões de 150 g de gás carbônico por quilowatt/hora de Angra 3 "é menor do que o de uma termelétrica a diesel ou a carvão mineral, mas é mais alto do que uma hidrelétrica, que o uso da biomassa, da energia eólica ou da energia solar". De acordo com o documento, o índice de emissões de uma usina nuclear como Angra 3 seria cerca de cinco vezes mais alto do que a poluição atmosférica gerada pela energia solar e pela energia eólica. As emissões de uma usina hidrelétrica oscilariam entre 20 e 300 g de CO2 por quilowatt/hora, índice menor que o da geração de energia nuclear. Já o maior nível de poluição é encontrado na usina térmica a carvão, de 800 a 1,3 mil g de gás carbônico pro quilowatt/hora. Rebeca Lerner revelou, ainda, que o índice de emissões de gases do efeito estufa de uma termelétrica a biomassa também é menor que o da usina nuclear e varia de 40 a 80 g de CO2 por quilowatt/hora.
Para Lerner, ao divulgar o documento, o Greenpeace deseja fomentar o debate. As últimas audiências públicas sobre Angra 3 foram realizadas pelo Ibama em junho, nos municípios de Angra dos Reis, Paraty e Rio Claro, na Costa Verde Fluminense. O Greenpeace também insiste na importância de encontrar locais adequados para a destinação dos rejeitos radioativos que, segundo expôs Lerner, continuam sem solução pela Eletronuclear, estatal que opera as usinas nucleares no país. "Os rejeitos que já são gerados hoje pelas usinas de Angra 1 e 2 continuam sendo armazenados de forma provisória no próprio local das usinas. E com a construção de Angra 3, esse problema vai se agravar". Rebeca Lerner afirmou que ainda não há encaminhamento para o licenciamento de um eventual depósito de lixo nuclear. A ONG ambientalista questiona, na Justiça, a legalidade da usina e solicita a suspensão da resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que autorizou a construção de Angra 3 em junho deste ano.
Fonte: Agência Brasil
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