Thiago Romero
Uma dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-graduação em Botânica Tropical, mantido pelo Museu Paraense Emilio Goeldi (Mpeg) e pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), concluiu que a planície costeira da porção leste da Ilha do Marajó (PA), ao norte da floresta amazônica, era formada por áreas de manguezais há cerca de 2,7 mil anos.
Lívia Rodrigues, autora do trabalho, e a orientadora Cristina Senna identificaram tal mudança a partir de análises palinológicas – o estudo da estrutura de grãos de pólen semifossilizados, encontrados no solo da região costeira leste da ilha.
Elas analisaram amostras sedimentares do período geológico Holoceno Superior, datadas de 2.730 anos atrás e extraídas da Fazenda Bom Jesus. As análises microscópicas foram feitas no Laboratório de Palinologia e Paleoecologia da Amazônia do Mpeg. Segundo a paleontóloga Cristina Senna, pesquisadora da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia do Mpeg, por ser um órgão reprodutor masculino cuja função é atingir o órgão feminino das plantas para gerar frutos, o pólen tem características genéticas e evolutivas, relacionadas, por exemplo, à sua forma, estrutura e ornamentação, que os tornam extremamente resistentes às intempéries ambientais. “Esse é um material fantástico, em termos de preservação, para contar a história da vegetação dos ecossistemas”, disse Cristina à Agência FAPESP. “Apesar de perder seu conteúdo interno, normalmente analisamos a membrana externa dos grãos de pólen semifossilizados por meio de técnicas e protocolos de classificação mundiais, utilizados na identificação e comparação de grãos de diferentes espécies botânicas.”
Um grão de pólen tem menos de 200 micrômetros – milésima parte de milímetro. “Mesmo sendo tão pequenos, o interessante é que esses grãos chegam a se preservar melhor do que restos vegetais como folhas, troncos e raízes”, explicou Cristina. As pesquisadoras descobriram a existência de mangues na região após identificarem, nos grãos de pólen colhidos das amostras sedimentares do Holoceno Superior, características de plantas pertencentes aos gêneros Rhizophora e Avicennia, indicadores de florestas de mangue. “Por ainda estar em processo de fossilização, os grãos estudados guardam relações ambientais com suas plantas de origem, que, no caso das espécies dos gêneros Rhizophora e Avicennia, são comumente encontradas em áreas de mangue da costa norte amazônica”, disse Cristina.
O trabalho evidenciou forte tendência de colonização de ambientes de manguezais por campos de várzeas. “Isso significa que as planícies aluviais, caracterizadas pela formação de campos inundáveis, estão avançando sobre os sistemas de mangue na planície costeira interna da ilha de Marajó”, afirmou. Cristina está prestes a orientar uma tese de doutorado que, com base em novas amostras sedimentares da Ilha do Marajó, tentará desvendar as causas do desaparecimento ou redução periódica de parte dos manguezais da região, evento que, segundo ela, provavelmente está relacionado a variações climáticas, como períodos de seca e processos erosivos do solo.
Fonte: Agência Fapesp
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