A redução da população de grandes herbívoros, como as girafas, pode interromper a relação de mutualismo entre acácias (em primeiro plano) e formigas. (Fotos: Todd Palmer).
Ausência de grandes herbívoros pode prejudicar relação benéfica entre árvores e formigas
Dani Dantas
A ação predatória do homem sobre a natureza pode ter conseqüências inusitadas. Um estudo publicado na revista Science desta semana revela que a redução da população de grandes mamíferos herbívoros, como elefantes e girafas, pode prejudicar até as árvores que lhes servem de alimento, pois a relação de dependência entre essas plantas e alguns tipos de formigas fica comprometida. O mutualismo, como é chamada essa relação amigável, acontece quando espécies diferentes se beneficiam diretamente uma da outra. Esse tipo de associação é freqüente na natureza. Ocorre, por exemplo, entre acácias, árvores comuns na savana africana, e três espécies de formigas mordedoras. As plantas, nesse caso, fornecem alimento (o néctar) e abrigo para os insetos, enquanto eles as protegem de animais herbívoros.
A constatação de que a falta de grandes mamíferos compromete o mutualismo entre árvores e plantas foi feita por Todd Palmer, pesquisador da Universidade da Flórida (Estados Unidos), a partir de uma simples observação. Em visita ao Quênia, na África, ele percebeu que acácias da espécie Acacia drepanolobium encontradas em terreno cercado, que impedia a aproximação de grandes animais, não pareciam tão viçosas quanto deveriam. “Isso não fazia muito sentido para mim. Eu esperava que, ao remover os herbívoros de seu local de alimentação, as árvores teriam um aspecto mais bonito”, conta o pesquisador à CH On-line. Depois de dez anos de estudo, Palmer e sua equipe concluíram que, sem o perigo iminente gerado pela presença dos animais, a árvore reduz a produção de néctar na base de suas folhas e rompe a relação amigável com as formigas. Sem alimento, o número de indivíduos na colônia, que era de aproximadamente 100 mil por árvore, diminui consideravelmente, o que torna menor o poder de fogo dos insetos contra os ataques externos. Assim, morador e moradia viram alvos fáceis de novos predadores, como um quarto tipo de formiga, que não estabelece uma relação benéfica com a planta. Ao contrário, esses invasores tornam-se parasitas: apenas se alimentam da árvore, mas não fornecem proteção em troca.
Além disso, favorecem a entrada de uma espécie de besouro cujas cavidades depois lhes servem de abrigo. A pesquisa revelou ainda que as formigas presentes nas acácias cercadas juntam mais néctar do que as de árvores em contato com herbívoros, o que também poderia enfraquecer as plantas. As árvores cercadas estavam duas vezes mais propensas a morrer e cresciam 65% mais devagar.
Prejuízos multiplicados
Palmer pretende dar continuidade à pesquisa na savana africana para responder questões ainda em suspenso. Sua intenção é descobrir os mecanismos fisiológicos envolvidos no fim do mutualismo entre árvores e formigas e se essa relação poderá se restabelecer caso as plantas sejam reintroduzidas em ambientes onde haja herbívoros.
Fonte: Ciência Hoje
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