Pablo Ferreira
Em breve, os consumidores poderão contar com uma variedade de tomate com redução significativa nos níveis de agrotóxicos. É o chamado tomate ecologicamente cultivado (Tomatec), produzido por agricultores orientados pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa), com a parceria do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fiocruz, que analisou a presença dos agrotóxicos no produto. O Tomatec só não chegou aos supermercados ainda por contar com número muito pequeno de produtores, quantidade que se pretende ampliar logo.
O tomate é muito suscetível a pragas, o que faz com que tradicionalmente seu cultivo seja cercado de cuidados e exigências extremas. Desse modo, é comum a aplicação excessiva de agrotóxicos (também chamados no meio científico de “ingredientes ativos”). “Para que se tenha uma idéia, até o momento, em torno de cem deles são permitidos no plantio do tomate”, complementa Armi Wanderley Nóbrega, engenheiro químico e coordenador do grupo do INCQS participante do projeto. Tal aplicação gera diferentes problemas de saúde pública: por exemplo, é comum, entre os agricultores, o surgimento de alergias, alterações imunológicas, genéticas, malformações congênitas, câncer, efeitos sobre o sistema nervoso, entre outros desdobramentos à saude. Também pode ocorrer a contaminação do meio ambiente – sobretudo do solo e da água – nos arredores de onde se planta o tomate, o que afeta a vida de insetos que não são pragas e de animais que são seus predadores. Por fim, o fruto que chega ao consumidor pode apresentar níveis residuais de agrotóxicos.
Dado esse quadro, ambientalistas têm valorizado alternativas como a cultura orgânica, que não utiliza produtos químicos. O tomate orgânico, no entanto, apresenta alto custo na produção, sendo de duas a três vezes mais caro que o tradicional. “O Tomatec deverá ter um preço intermediário entre o tomate tradicional e o orgânico”, esclarece Nóbrega. Em função desse quadro, pesquisadores da Embrapa, coordenados pelo agrônomo José Ronaldo de Macedo, foram ao município de São José do Ubá, um dos principais produtores de tomate do Estado do Rio de Janeiro, onde entraram em acordo com alguns agricultores para começar a empregar a nova técnica de plantio do tomate. Esta, entre numerosas outras ações, prioriza a conservação do solo e da água, pratica o chamado manejo integrado de pragas (técnica que somente lança mão de produtos, naturais ou químicos, quando a infestação da praga atinge o chamado “nível de dano econômico”) e faz o ensacamento das pencas de tomate. “Essa é a grande inovação: os sacos isolam o fruto, protegendo-o quando há a necessidade de aplicação de agrotóxicos”, diz Macedo.
Testes na Fiocruz
Para comprovar o sucesso da nova técnica, os profissionais da Embrapa pediram ajuda ao INCQS, que averiguou a presença de resíduos de agrotóxicos em amostras do novo tomate. Para tanto, foi acionado o Laboratório de Resíduos de Agrotóxicos, sob orientação da química Lucia Helena Pinto Bastos. Esta afirma que “a tarefa foi facilitada pelo fato da Embrapa nos listar quais agrotóxicos foram utilizados”.
O projeto Tomatec continua em andamento. Além de pretender que o produto esteja em breve nas prateleiras dos supermercados, a Embrapa também quer criar um selo de qualidade para diferenciar seu fruto do tradicional. A Embrapa buscou o INCQS não só por sua excelência, mas também por este ter acesso às chamadas SQRs para agrotóxicos. Elas servem como uma espécie de padrão para os laboratórios e são necessárias para se quantificar a presença de resíduos de produtos químicos nas amostras analisadas. Sua disponibilidade, porém, é um problema nacional, pois geralmente são importadas, caras, e quando compradas levam muito tempo para chegar ao Brasil. Como conseqüência, laboratórios públicos nacionais, que priorizam a qualidade de seus serviços, têm dificuldades em conseguí-las, o que torna extremamente árduo o monitoramento e o controle da qualidade de produtos a eles submetidos.
Devido a esse panorama, o INCQS pretende, no futuro, produzir e distribuir tais substâncias para os demais laboratórios do Brasil. Nas análises laboratoriais do Instituto, só uma parte é usada, podendo o restante ser fornecido aos outros: “Para tanto, queremos diluir esse restante e com isso criar novos frascos com concentrações mais baixas, que serão empregados por nós ou distribuídos para quem necessita”, explica Nóbrega. No INCQS, já existe a estrutura física para esse projeto, com um laboratório recém inaugurado em agosto deste ano, que trabalha exclusivamente com SQRs para agrotóxicos.
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