segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Especialista critica "escarcéu" sobre águas-vivas

Helder Júnior

Único especialista no Brasil a traçar um perfil epidemiológico de casos de lesões causadas por águas-vivas e caravelas, o médico Vidal Haddad Júnior diz que não há motivo para alarmismo e critica a falta de informação sobre o assunto. Segundo o pesquisador e professor da Unesp de Botucatu, as cerca de 900 ocorrências de acidentes desse tipo na Baixada Santista há duas semanas "geraram histeria desnecessária na população".

Segundo Haddad Júnior, que se deslocou para a cidade litorânea para acompanhar o problema, "houve um aumento real de casos nas praias do Sudeste, o que era algo que já ocorria no Norte e no Nordeste. Se o surto acontecesse lá, não haveria esse escarcéu todo", disse. Ele lembrou que não é a primeira vez que o número de águas-vivas aumenta na Baixada Santista, bem como o contato com os banhistas. No verão da temporada 92-93, o Guarujá superou problema semelhante, motivo pelo qual ele não concorda plenamente com a tese de que o aquecimento global seja o principal responsável pelo fenômeno. "É impossível precisar razões. Uma série de fatores contribuiu para que esses animais, que geralmente não andam em bandos, tivessem se concentrado em Praia Grande. Entre eles, a ausência de frentes frias", afirmou Haddad Júnior.

"É importante salientar também que, na época do surto no Guarujá, há 15 anos, a quantidade de ocorrências era parecida e a população, muito menor. Agora, havia 1 milháo e 300 mil pessoas em Praia Grande." "De qualquer maneira, o escarcéu contribuiu para chamar atenção aos tratamentos adequados. Produzi um folheto explicativo uma vez e ninguém deu atenção. Se eles estivessem pregados nos prontos-socorros agora, ajudariam bastante", disse Haddad Júnior, que avalia as fichas médicas de pacientes atendidos em Praia Grande para produzir um estudo mais elaborado. "Alguns médicos não estão bem preparados para esses casos, mas não por culpa deles, e sim por falta de fontes e obrigatoriedade na hora de estudar", disse.

Crendices

O médico afirmou que a repercussão do problema trouxe à tona muitas crendices. "Até dizer queimadura, ataque ou autodefesa de águas-vivas é errado, embora eu mesmo fale de vez em quando. O correto é envenenamento, pois não há queimadura. E elas não atacam ninguém ou se defendem. Apenas liberam o veneno quando há algum contato, mesmo que seja com um pedaço de madeira", disse. "Em caso de contato com um ser humano, há quem aconselhe até urinar sobre o ferimento. "Tenha dó. Há até bactérias na urina", afirmou o especialista. De acordo com o pesquisador da Unesp, o aconselhável é lavar a região afetada com vinagre ou no próprio mar, porém jamais com água doce. A água do mar gelada proporciona um efeito anestésico e alivia a dor. "Mas, às vezes, os banhistas derramam uma garrafa de água mineral no local atingido. Isso só piora as coisas. A água quente e doce, além de não conter substâncias do mar, ainda estimula as células que não dispararam a toxina a fazê-lo", explicou. Segundo ele, mortes por contato com águas-vivas são raríssimas no mundo.

Fonte: Redação Terra

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