Sérgio Machado Correa
A qualidade do ar de uma grande cidade depende de inúmeros fatores e a relação entre eles não pode ser encarada de uma forma simples. Dentre esses fatores, estão as emissões de poluentes pelas fontes móveis (frota veicular) e fixas (indústrias), a meteorologia, a topografia e as reações químicas na atmosfera. Não é possível estimar o efeito na qualidade do ar pela alteração de um destes fatores, por exemplo, o uso de um novo combustível (biodiesel ou GNV), sem o uso da ferramenta da simulação.
Para fazer previsões, é necessário construir uma base de dados experimentais consistente para uma certa localidade, que contemple as variações dos fatores que afetam a qualidade do ar, ao longo do ano. Este estudo vem sendo conduzido desde 1997, em parceria com o grupo de pesquisa da professora da UFRJ Graciela Arbilla, com financiamento de Faperj, CNPq e Petrobras. A base de dados consiste em campanhas de monitoramento na cidade, em conjunto com a Feema. Os poluentes atmosféricos são divididos em duas classes, os legislados e os não-legislados. Entre os legislados destacam-se o ozônio, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, dióxido de enxofre, hidrocarbonetos totais e material particulado (poeira). Estes são acompanhados pela Feema em suas estações de monitoramento automático pelo Estado. Para tais poluentes, existem equipamentos comerciais que indicam seus teores a cada minuto. Os poluentes não-legislados, na ordem de centenas, são tão importantes quanto os legislados, tanto no tocante à química da atmosfera como em termos de saúde pública, como é o caso do benzeno, que provoca leucemia. Entretanto, para estes poluentes não há equipamentos automáticos de monitoramento. É preciso recolher amostras de ar, realizar tratamento e análises químicas, resultando em um processo trabalhoso e dispendioso. Este monitoramento vem sendo realizado pelo grupo de pesquisadores, alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado.
Depois de consolidada a base de dados para a cidade do Rio de Janeiro, empregou-se um modelo de qualidade do ar, desenvolvido pela Agência Ambiental dos EUA, denominado OZIPR, em conjunto com um modelo químico (SAPRC) adaptados pela equipe para as condições brasileiras. Basicamente, os dados de entrada do simulador são:concentrações no início do dia (hora do rush) dos poluentes legislados; concentrações no início do dia (hora do rush) dos poluentes não-legislados; dados meteorológicos (temperatura, pressão, umidade e altura da camada de mistura); emissões de poluentes primários pelas fontes; localização geográfica e data (para calcular o fluxo solar); cobertura de nuvens; coeficientes de deposição seca e úmida. Os dados de saída são as concentrações médias horárias das espécies químicas que se desejar.
Uma vez validado o simulador, ou seja, quando ele consegue reproduzir ao longo do dia os dados experimentais dos principais poluentes, passa-se à fase de estudo de cenários. Por exemplo, qual será a qualidade do ar:
- em eventos meteorológicos críticos (inversão térmica)?
- com uso intensivo do biodiesel?
- com incremento do uso do etanol?
- com uso crescente dos carros flex e com GNV?
- pela inserção de uma nova atividade poluidora em uma localidade?
- pela alteração na composição da gasolina ou diesel?
- pelo rodízio de veículos?
- pela expansão da malha metroviária?
Algumas limitações do simulador merecem destaque:seu uso apenas para o período diurno e o fato de considerar toda a cidade como uma atmosfera homogênea. Entretanto, esta poderosa ferramenta pode ser de grande valia para as agências governamentais, no tocante ao planejamento de políticas de transporte, habitação, energia, entre outras. O simulador não indicará qual a solução para os problemas de qualidade do ar, mas sinalizará se políticas públicas serão eficazes ou não, evitando-se a implantação de atividades trabalhosas e onerosas, cujos resultados podem não ser eficazes.
Fonte: Uerj
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