quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Empreendedorismo e conservação florestal

Thiago Romero

Mais de duas centenas de municípios paulistas ampliaram suas áreas de Mata Atlântica na década passada, formando verdadeiras manchas de recuperação florestal no mapa do Estado de São Paulo. As constatação foi feita por Eduardo Ehlers, diretor de Graduação do Centro Universitário Senac, em estudo publicado na Revista de Economia e Sociologia Rural.

Segundo o trabalho, de 1990 a 1995, a área de mata perdeu 3,6% de sua extensão no estado, mas, contrariando essa diminuição, em 85 municípios o aumento da cobertura florestal superou as perdas. Esses municípios ampliaram em 13.947 hectares suas áreas totais de Mata Atlântica.
Já na segunda metade da década, entre 1995 e 2000, a tendência se repetiu: a mata encolheu mais 1,7% em todo o estado, enquanto em 131 municípios a cobertura vegetal também aumentou, de acordo com o trabalho, ganhando 23.048 hectares a mais de floresta. Dos 204 municípios paulistas que tiveram área de mata ampliada, 12 deles aparecem nas duas listas, ou seja, tiveram saldo positivo nos dois períodos analisados.

Com base nesses dados sobre a perda de cobertura vegetal no Estado, que foram colhidos nas bases de dados e outros estudos divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Socio-ambiental (ISA), o objetivo do trabalho foi saber os fatores que contribuíram para esse aumento de cobertura florestal. “Partimos da hipótese, que se confirmou no estudo, de que esse inusitado aumento estaria relacionado ao avanço dos empreendimentos que não só valorizam os recursos ambientais mas que também promovem o aproveitamento econômico dessas heranças da natureza”, disse Eduardo Ehlers à Agência FAPESP. Segundo ele, esses empreendimentos, principalmente hotéis e comércios ligados ao turismo, acabaram se tornando importantes parceiros da conservação ambiental. “Empresários de cidades como Brotas, Dourados e Corumbataí, que abrigam um conjunto de empreendimentos turísticos que dependem da natureza conservada, vêm se unindo para a criação de associações de proteção ambiental”, conta. “A valorização do patrimônio natural passou a ser uma vantagem competitiva para a atração de clientes”, disse Ehlers. Os resultados são originários de uma pesquisa de doutorado defendida pelo pesquisador no Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP).

Fiscalização eficiente

Para chegar a essas conclusões, além de revisão da produção científica sobre os principais fatores que vêm provocando a degradação da biodiversidade e sua importância ecológica e econômica, o pesquisador dividiu os procedimentos de coleta de dados em três etapas. A primeira consistiu em uma análise da variação da cobertura florestal em municípios que, entre outros quesitos, tiveram maiores variações de população entre 1991 e 2000, possuem unidades de conservação estaduais e contam com pólos de ecoturismo credenciados pela Empresa Brasileira de Turismo (Embratur).

Nessa fase, foram selecionadas ainda as cidades com elevada densidade de microempresas ou empresas de pequeno porte formalmente constituídas para que, na segunda etapa, fossem realizadas entrevistas com gestores municipais para identificar a relação dos empreendimentos com a conservação da natureza. Na terceira etapa da coleta de dados foram entrevistados pessoalmente representantes de 20 municípios que ampliaram a Mata Atlântica, nos dois períodos analisados, com o objetivo de descobrir o que estaria contribuindo para a expansão dos fragmentos florestais. “O estudo conclui que, mais importante que a associação entre os empreendimentos e a recuperação florestal, o principal motivo do ganho de cobertura vegetal nos municípios é a fiscalização cada vez mais intensa decorrente de uma legislação ambiental rigorosa, que vem sendo elaborada pelos órgãos do governo estadual desde o final da década de 1980”, explica Ehlers. “Essa legislação, que é respeitada sobretudo nas grandes fazendas, faz com que a floresta não seja desmatada e também com que regiões como leitos de rios e morros não sejam utilizados para o plantio de culturas agrícolas, permitindo a regeneração natural da vegetação dessas áreas”, acrescenta o pesquisador.

Para ler o artigo Empreendedorismo e conservação ambiental no interior de São Paulo, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.

Fonte: Agência Fapesp

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