sexta-feira, 2 de maio de 2008

Conhecimento é peça-chave contra a leishmaniose visceral

Fernanda Marques

“O nível de conhecimento da população em relação à leishmaniose visceral se restringe a informações superficiais sobre a doença e atitudes preventivas inespecíficas, o que dificulta a implementação eficiente de práticas de controle”.

Esta é a conclusão de uma pesquisa feita em Belo Horizonte e publicada no periódico científico Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. Pesquisadores da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais e da Gerência de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Belo Horizonte visitaram 82 domicílios onde residiam pessoas que já tiveram leishmaniose visceral (casos) e 164 domicílios cujos moradores nunca apresentaram a doença (controles).

Eles entrevistaram um adulto por casa e, na análise dos dados coletados, verificaram que uma pessoa que nunca freqüentou a escola (ou se classifica como analfabeta) tem oito vezes mais chances de ser acometida pela leishmaniose visceral do que um indivíduo alfabetizado. De modo geral, todos os entrevistados apresentavam baixo nível de escolaridade – quase 70% deles não chegaram a concluir o ensino médio.

As leishmanioses – um conjunto de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania – dividem-se em tegumentar, que ataca a pele e as mucosas, e visceral, que ataca os órgãos internos. O parasito é transmitido ao homem (e também a outras espécies de mamíferos) por insetos vetores ou transmissores, conhecidos como flebótomos. Neste contexto, o cão doméstico funciona como um importante reservatório de protozoários: o inseto pica um cachorro infectado, contamina-se e passa a transmitir o parasito ao homem, também por meio da picada.

“Em relação ao conhecimento sobre a leishmaniose visceral, verificou-se que 50% dos indivíduos acometidos pela doença desconheciam-na completamente quando foram infectados, 26,8% já tinham ouvido falar da doença, 3,7% conheciam os sintomas e apenas 1,2% conhecia o vetor. Entre os controles, a leishmaniose visceral era desconhecida para 30,5% do grupo, 40,2% já tinham ouvido falar da doença, 4,3% conheciam os sintomas e apenas 3% conheciam o vetor”, relatam no artigo a bióloga e doutoranda em ciência animal Bárbara Kellen Antunes Borges, da UFMG, e co-autores. “A precariedade de informação sobre a leishmaniose visceral, traduzida nesses resultados, aponta a necessidade da realização de práticas educativas em diferentes frentes, que podem contar com a participação de médicos e veterinários, durante consultas, professores e agentes de saúde em palestras e durante as visitas domiciliares”, recomendam.

Os pesquisadores também observaram um grande número de casos de leishmaniose visceral em crianças menores de 10 anos de idade. “A susceptibilidade desta faixa etária se deve, possivelmente, ao contato mais freqüente das crianças com animais, em comparação aos adultos”, dizem os autores no artigo, ressaltando, ainda, que as crianças apresentam maiores taxas de carência nutricional e sistema imunológico em formação.
Outra constatação dos pesquisadores é que a leishmaniose visceral acomete, sobretudo, o sexo masculino – fato que permanece sem explicação científica definitiva. “Essa disparidade entre gêneros ainda permanece sem explicação científica, mas provavelmente a maior exposição masculina acontece pelo mais freqüente trânsito do trabalho para casa em horários que coincidem com os de alimentação do flebótomo (ao entardecer e à noite)”, sugerem no artigo.

De acordo com os autores, embora os casos de leishmaniose visceral sejam relativamente recentes em Belo Horizonte – começaram a ser registrados no início dos anos 90 –, a doença já alcançou altos coeficientes de morbidade e letalidade nas populações afetadas na capital mineira. O controle da leishmaniose visceral inclui o tratamento dos casos humanos, a eliminação dos cachorros infectados e a redução da população de flebótomos, por meio da aplicação de inseticida nos domicílios situados em áreas endêmicas.
A estas ações devem ser somadas medidas educativas, conforme demonstram os resultados do estudo da UFMG e da Prefeitura de Belo Horizonte. “De modo geral, qualquer conhecimento sobre a leishmaniose visceral foi considerado fator de proteção, capaz de minimizar o risco de ocorrência de leishmaniose visceral em 2,24 vezes”, destacam os pesquisadores no artigo.

Fonte: Fiocruz

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