Inimigo íntimo Araras-azuis dependem do tucano-toco, principal predador de seus ninhos, para se reproduzir
Ironias da natureza: um estudo brasileiro realizado no Pantanal indica que a sobrevivência das araras-azuis, espécie ameaçada de extinção, depende indiretamente do principal predador de seus ninhos – o tucano-toco. Esse animal é um dos maiores dispersores das sementes de manduvi, árvore que serve de abrigo para os ninhos das araras. A conclusão foi tirada por um estudo feito por Marco Aurélio Pizo, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e colaboradores. O resultado mostra como existem na natureza relações muito sutis entre as espécies que nem sempre são facilmente percebidas pelos pesquisadores, mas podem estar fortemente ameaçadas pela ação humana.
A pesquisa foi realizada na região da Fazenda Rio Negro, em Mato Grosso do Sul, entre os anos de 2002 e 2007. Os pesquisadores visavam inicialmente estudar a relação entre frutos da região do Pantanal com animais dispersores de sementes, e descobriram esta curiosa ligação entre as três espécies. Os resultados finais do estudo foram publicados na última edição da revista Biological Conservation. Também assinam o artigo Neiva Maria Guedes, da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp), Mauro Galetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, e Camila Donatti, da Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA).
Dieta restrita
Durante os anos de 1999 e 2003, a bióloga Neiva Guedes escalou manduvis para analisar quase 300 ninhos de araras-azuis. Nos locais onde havia ocorrido a ação de predadores, ela analisou vestígios como pêlos, penas e marcas, e constatou que os tucanos-toco foram responsáveis por 53% dos ovos destruídos.
Principais dispersores
Os tucanos-toco (Ramphastos toco) também se alimentam dos frutos do manduvi. Porém, ao contrário da maioria das outras aves que comem as sementes desse fruto, o tucano consegue ingeri-las inteiras e espalhá-las por uma extensa área. Esses animais percorrem grandes distâncias em campos abertos entre uma área de floresta e outra, garantindo uma dispersão eficiente para o manduvi. Dessa forma, a reprodução das araras-azuis está indiretamente ligada à relação entre o tucano-toco e o manduvi. Essa relação está seriamente ameaçada pelo desmatamento e pela expansão dos pastos na região, principalmente porque as araras-azuis dependem das árvores mais antigas para se reproduzir. Segundo Pizo, os hábitos muito específicos dessa ave preocupam os pesquisadores. “A arara-azul é um animal ‘próprio’ para ser ameaçado”, afirma. “Esse grupo está bastante reduzido e já está extinto em diversas regiões. Mas essa espécie está se recuperando na região do Pantanal, graças a esforços de conservacionistas e proprietários de fazendas da região.”
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