quarta-feira, 30 de julho de 2008

Canto das baleias azuis intriga especialistas

Os chamados vêm caindo firmemente de freqüência já há sete ciclos populacionais de baleias azuis em todo o mundo, nos últimos 40 anos, de acordo com pesquisadores do Instituto Scripps de Oceanografia, da Administração Nacional da Atmosfera e Oceano norte-americana (NOAA)e da WhaleAcoustics, uma empresa privada de pesquisa.

Os cientistas analisaram dados recolhidos com hidrofones e outras ferramentas e constataram que as canções, que acreditam serem uma forma com a qual os machos procuram por parceiras, tiveram uma queda de freqüência de até 30% em determinadas populações. Boa parte das canções são entoadas em freqüências graves demais para que ouvidos humanos sejam capazes de detectá-las. O estudo, ainda não publicado, foi revisado por diversos especialistas nesse campo de estudo, que em entrevistas definiram a tendência como "dramática", "significativa", "convincente" e "irrebatível".

Os cientistas não conseguem explicar porque as baleias azuis de lugares distantes entre si, como o Pacífico Norte e o Oceano Antártico, começariam a emitir chamados em freqüências mais baixas. Cada população de baleias azuis tem um tempo e tom característicos para seus cânticos.
John Hildebrand, professor de oceanografia no Scripps e um dos autores do estudo, disse que a queda de freqüência poderia significar uma recuperação na população de baleias azuis desde que a proibição à exploração comercial de baleias foi adotada nos anos 70. Os cientistas acreditam que apenas as baleias azuis cantem. As fêmeas da espécie escolhem parceiros com base em tamanho, um processo seletivo que deu origem às dimensões monumentais da espécie. E talvez sons mais graves sejam indicativos de tamanho maior.

Quando as populações eram menores, as baleias talvez tivessem tido que cantar mais alto a fim de que seus chamados fossem ouvidos. Agora, os machos podem estar competindo para produzir chamados mais graves, disse Sarah Mesnick, ecologista comportamental do serviço de pesca da NOAA e uma das autoras do estudo. "A idéia é que, à medida que a densidade populacional cresce e mais indivíduos precisam competir por parceiras, é esperado que os chamados de acasalamento se alterem", ela afirmou. "Podemos estar assistindo a essa tendência em ação de duas maneiras, no caso das baleias azuis: os sons estão se tornando mais graves e o volume também se reduziu".

Os sons mais graves tipicamente percorrem maiores distâncias. "Mas, na faixa de alcance vocal das baleias azuis, que fica entre os 10 e os 100 hertz", disse Mark McDonald, diretor científico do estudo e físico especializado em acústica submarina, "não existe diferença prática nas propriedades de transmissão sonora do oceano profundo". Roger Bland, especialista em acústica submarina da Universidade Estadual de San Francisco, diz que "é mais fácil gerar um som poderoso em freqüências elevadas". Mas as populações de baleias azuis podem estar crescendo em 5% ao ano, diz Trevor Branch, especialista em fauna marinha da Universidade de Washington e estudioso das baleias.

No entanto, é difícil confirmar números e eles variam em qualidade a depender da população, porque as baleias azuis, ao contrário das corcundas, são tímidas e raramente se aproximam da costa. Branch, que não participou do estudo, estima que hoje existam cerca de 25 mil baleias azuis no planeta, ante 300 mil antes que a espécie começasse a ser caçada. As estimativas são de que a população total de baleias azuis chegou a cair a 10 mil espécimes.

A explicação da recuperação populacional, embora especulativa, convence David Mellinger, professor do Centro Hatfield de Ciência Marinha, na Universidade Estadual do Oregon, e estudioso das baleias azuis há 16 anos. Mellinger, que não tomou parte do estudo, disse que "é difícil ver o que mais poderia ter afetado todas essas populações e gerado a queda de freqüência, além do aumento da população".

Fonte: The New York Times

Nenhum comentário: