Jim Robbins
A cientista canadense Diana Beresford-Kroeger apontou para uma grande árvore nas cercanias de sua casa. O freixo acinzentado que ela estava apontando era como uma indústria química, explicou, e os produtos que ele gera são parte de uma sofisticada estratégia de sobrevivência.
As flores contêm óleos terpenos, que repelem os mamíferos que poderiam tentar se alimentar delas. Mas a árvore precisa atrair agentes de polinização, de modo que emite um poderoso aroma de lactone, que é considerado agradável pelas grandes borboletas e abelhas.
Os produtos químicos que o freixo gera, por sua vez, diz ela, oferecem proteção química às borboletas, contra os pássaros, porque dão a elas um sabor amargo. Muitas relações químicas semelhantes e invisíveis acontecem no mundo que nos cerca. "Elas ocupam posição central na conectividade da natureza", disse Beresford-Kroeger.
A cientista nasceu na Irlanda, e se formou em botânica e bioquímica médica. A carreira de Beresford-Kroeger, 63, a levou à escola de medicina da Universidade de Ottawa, onde publicou diversos estudos sobre os aspectos químicos do sangue artificial. Ela se define como uma cientista renegada, no entanto, porque tenta combinar métodos de cura aborígenes, medicina ocidental e botânica, e advoga um papel incomum para as árvores.
Beresford-Kroeger defende um chamado bioplano, que envolveria reflorestar cidades e áreas rurais com árvores selecionadas de acordo com suas propriedades medicinais, ambientais, pesticidas, herbicidas e nutritivas, um conjunto de características que ela define como suas "ecofunções". O freixo, por exemplo, poderia ser usado para a agricultura orgânica, ela diz, plantado em forma de barreira para atrair borboletas para longe das safras. Castanheiros negros e alfarrobeiras poderiam ser plantados ao longo das estradas para absorver poluentes, ela propõe. "As idéias dela são uma abordagem rara, se não inteiramente inédita, quanto à história natural", diz o biólogo Edward Wilson, da Universidade Harvard, que escreveu o prefácio de um livro de Beresford-Kroeger sobre as árvores norte-americanas. "A ciência de selecionar árvores para diferentes usos, em todo o mundo, não foi estudada devidamente".
Miriam Rothschild, naturalista britânica que morreu em 2005, escreveu elogiosamente sobre a idéia de bioplanejamento proposta por Beresford-Kroeger, e a classificou como "uma das respostas à 'Primavera Silenciosa', porque usa produtos químicos naturais em lugar de sintéticos". Mas algumas das alegações de Beresford-Kroeger quanto às virtudes de saúde das árvores vão bem além do que a ciência convencional aceita. Ainda que alguns compostos encontrados em árvores tenham propriedades medicinais e sejam tema de pesquisa e tratamento, ela vai além das provas científicas e diz que eles afetam a saúde humana em suas formas naturais.
A castanheira negra, por exemplo, contém limolene, um composto encontrado em frutas cítricas e outros vegetais e que tem propriedades de combate ao câncer demonstrada em alguns estudos de laboratório com animais. Beresford-Kroeger sugeriu, sem provas, que o limolene inalado por humanos em forma de aerosol ajudaria a prevenir câncer. David Lemkay, diretor geral da Associação Florestal Canadense, uma organização sem fins lucrativos que promove o uso sustentável das florestas canadenses, conhece o trabalho da pesquisadora. "Ela defende vigorosamente a idéia de que, se você viver na aura de um castanheiro negro, sua saúde será beneficiada", ele afirma. "Eu acho que mais provas científicas seriam necessárias para sustentar esse tipo de afirmação".
Memory Elvin-Lewis, professora de botânica da Universidade Washington, em St. Louis, e seu marido Walter Lewis, co-autores de um manual sobre usos médicos da botânica, dizem que pode ser verdade que as árvores efetivamente exerçam esse papel. Na Índia, afirmou a pesquisadora, compostos extraídos de árvores neem são apontados como agentes antivirais e antiinflamatórios, e as árvores são plantadas em torno dos hospitais e sanatórios. "Não é uma teoria implausível", segundo Elvin-Lewis - ela simplesmente não foi estudada.
Em campo cientificamente mais sólido, Beresford-Kroeger também está preocupada com o destino das florestas setentrionais, devido à exploração madeireira excessiva e à destruição de ecossistemas.
Cientistas do governo federal dos Estados Unidos estimam que 93% das árvores originais da América do Norte foram cortadas até agora. À medida que as florestas se fragmentam, elas se ressecam, perdendo espécies de animais e insetos. Como resultado, as sutis relações que formam o centro nervoso da biodiversidade estão se desfazendo antes que tenha sido possível estudá-las em profundidade. "Em uma caminhada por uma floresta primeva, existem milhares, se não milhões, de produtos químicos em ação, e eles exercem efeitos sinérgicos uns sobre os outros", afirma Beresford-Kroeger. "O que as árvores fazem quimicamente no meio ambiente é algo que estamos apenas começando a compreender". As árvores também absorvem poluentes do solo, filtram particulados do ar e abrigam insetos benéficos.
Alguns estudos sustentam a idéia de que árvores podem ter um papel a exercer no cuidado com a saúde humana. Um trabalho recente de pesquisadores da Universidade Colúmbia constatou que crianças em bairros arborizados têm incidência de asma 25% menor do que crianças de bairros sem árvores. O Centro para Pesquisa de Florestas Urbanas estima que cada árvore remove cerca de 800 gramas de poluentes do ar. As árvores também são úteis para absorver mercúrio e outros poluentes do solo, um processo conhecido como fito-remediação. E, evidentemente, as árvores armazenam dióxido de carbono, que mitiga o aquecimento global.
Wilson, de Harvard, disse que são imperativas novas pesquisas sobre o papel das árvores no meio ambiente, e que era alarmante o grau de desconhecimento sobre esse tema. "Precisamos de mais pesquisas nessas área a fim de aprendermos a usar as coisas de que dispomos, como as árvores, ao máximo", ele afirmou.
Wilson e Beresford-Kroeger propõe usar mudas de florestas primevas para plantar novas florestas, na esperança de aproveitar os bons genes. "Existe uma enorme diferença entre as florestas primevas e árvores novas plantadas", disse Wilson.
Fonte: The New York Times
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