Eu passei os últimos dias conversando com um americano e com muita gente ligada ao meio ambiente e à sustentabilidade não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina. Estava em Manaus participando de um encontro de comunicação, Amazônia e Sustentabilidade, promovido pela revista Imprensa.
Bom, o encontro não tratou da política norte-americana, mas nos bastidores os olhos estavam grudados nas TVs para saber como estava a eleição.
Uma das coisas interessantes que surgiu nas conversas foi: “E se o Al Gore fosse convidado por Obama para trabalhar a questão ambiental de forma global”. Ele teria a legitimidade para conversar com o mundo e negociar metas e estratégias contra os principais problemas ambientais. Mas seria factível? “Factível não sei, mas desejável seria”, me confidenciou Mattheu Shirt, editor da National Geografic no Brasil. Realmente seria um sonho para todos que querem ver uma nova maneira de tratar o mundo.
E qual será a política ambiental de Obama? Por enquanto ainda é uma incógnita, mas algumas coisas a gente já pode começar a inferir. A própria formação do homem, filho de um queniano com uma americana, passou parte da infância na Indonésia e conhece o terceiro mundo em sua forma mais degradada. A aposta é que seja um presidente que volte a colocar os Estados Unidos como um ator global e não mais como um gerdaime do mundo. Aliás, esta é a aposta de muita gente tanto na Europa como na América Latina. Os EUA não podem mais ficar isolados e tomando decisões unilaterais. Isto quer dizer, principalmente, retornar aos foros de negociação, como o Protocolo de Quioto e outros.
Produtores brasileiros de álcool preferiam ver o adversário republicano John McCain na Casa Branca. Ele prometeu durante a campanha liberar a importação de álcool produzido no Brasil. Obama não falou sobre isso, mas dificilmente poderá realizar uma política energética coerente com suas idéias em outras áreas sem investir fortemente na substituição de combustíveis e em ficar livre da dependência do petróleo do Oriente Médio. O álcool do Brasil é uma parte pequena nesta equação e sua liberação vai sinalizar ao mundo que os Estados Unidos de Obama não vão manter barreiras protecionistas sem sentido. Os trilhões de dólares que Bush está gastando para salvar bancos são centenas de vezes mais custosos do que os poucos bilhões que serão necessários para destravar as negociações da Rodada de Doha, que pretende um comércio internacional de produtos agrícolas mais livre e não distorcido por subsídios nacionais.
Obama pode ser o presidente que vai ajudar o mundo a fazer uma guinada para a sustentabilidade.
Não vai ser fácil, não vai ser rápido, mas ele tem a credibilidade e a legitimidade para isso. Nos próximos dias vamos ter mais detalhes do que o novo governo pretende em termos ambientais. O importante é que o lobby do combustível fóssil e dos “céticos” perde espaço para um governo que, possivelmente, não estará comprometido com nenhuma corporação energética. Bom, agora precisamos dar um pouco de tempo ao tempo.
Fonte: Envolverde
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