Thiago Romero
Um grupo formado por quatro pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, desenvolveu um tijolo para a construção civil que utiliza resíduos de espécies frutíferas da maior floresta tropical do mundo como matéria-prima, algo bem diferente dos produtos convencionais feitos de argila.
A novidade, que levou oito meses para ser concluída e está em processo de patenteamento, é confeccionada com o ouriço e com a casca da castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) e com fragmentos vegetais do tucumã (Astrocaryum aculeatum), palmeira que chega a medir 20 metros de altura.
O projeto de desenvolvimento do tijolo ficou com a segunda colocação na categoria “Econômica – Tecnológica” do prêmio Professor Samuel Benchimol 2008, concedido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior a iniciativas que visam ao desenvolvimento sustentável da Amazônia.
De acordo com o idealizador do produto, Jadir Rocha, pesquisador titular da Coordenação de Pesquisa em Produtos Florestais do Inpa, os componentes vegetais são triturados e aglutinados com resinas fenólicas, obtidas pela reação de condensação e polimerização entre um fenol e um aldeído (compostos químicos orgânicos), para em seguida passar por um processo de prensagem em altas temperaturas. “Além das matérias-primas serem vegetais e, por isso, poderem ser recicladas após o uso em construções, outra novidade é que o tijolo se mostrou excelente isolante térmico. Ele tem um sistema de encaixe tipo macho-fêmea, sem precisar de massa ou cimento, o que facilita e reduz o tempo de construção das paredes e divisórias”, disse Rocha à Agência FAPESP.
“Os resultados dos testes em laboratório foram bastante satisfatórios. As matérias-primas utilizadas na sua confecção são de alta durabilidade, conferindo resistência mecânica semelhante à dos tijolos convencionais”, afirmou. Participaram do trabalho as pesquisadoras Cynthia Pontes, Tereza Bessa e Vânia Lima, do Laboratório de Engenharia da Madeira do Inpa.
Rocha conta que o tijolo, que ainda passará por novos estudos antes de chegar ao mercado, poderá ser utilizado em qualquer tipo de edificação até quatro andares. Segundo ele, é possível construir uma casa popular de cerca de 40 metros quadrados, por exemplo, com aproximadamente 5 mil tijolos. “O desenvolvimento do tijolo foi motivado pela necessidade de pesquisas voltadas para o aproveitamento e a valorização da potencialidade da biodiversidade vegetal da Amazônia. É importante diminuir a pressão sobre os estoques de espécies arbóreas economicamente desejáveis, que vêm sendo reduzidas drasticamente na natureza”, ressaltou.
Uma das justificativas para o desenvolvimento do projeto foi a grande disponibilidade de matéria-prima na região amazônica.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são produzidas anualmente mais de 30 toneladas de castanha-do-brasil no Norte do país. Estima-se que sejam gerados pelo menos duas vezes mais resíduos, que normalmente são jogados no lixo após a colheita do fruto. “Ser agraciado com o prêmio Professor Samuel Benchimol é extremamente gratificante, pois se traduz no reconhecimento dessa proposta para o desenvolvimento sustentável da floresta amazônica”, disse Rocha, ressaltando que a tecnologia do tijolo vai ao encontro dos planos de governo e prioridades de políticas públicas da região por se enquadrar nos objetivos do Plano Amazônia Sustentável (PAS), do Ministério do Meio Ambiente.
Fonte: Agência Fapesp
Nenhum comentário:
Postar um comentário