segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Gravação de "Survivor" no Brasil causa danos em área, dizem moradores

Sara Uheski

A próxima temporada do reality show norte-americano "Survivor" será ambientada no Brasil, em uma unidade de conservação do Estado do Tocantins conhecida como Jalapão.
As gravações da 18ª temporada do programa começaram no mês passado e se tornaram polêmica na região, que abrange seis municípios em uma área de 34 mil km quadrados.

A chapada do Jalapão é conhecida por suas nascentes, cachoeiras e rios cristalinos e por sua paisagem intocada, de vegetação rasteira e pontuada por dunas. Produzido pela rede norte-americana CBS, o programa --que já ganhou uma versão nacional na Globo, o "No Limite"-- traz os participantes isolados em alguma região do mundo onde disputam entre si e ainda lutam para sobreviver. Atualmente, o canal pago People&Arts exibe o "Survivor - Guatemala".

Moradores e a imprensa local reclamam que as filmagens estão prejudicando a área. O programa costuma realizar gincanas em cenários grandiosos, com estruturas complexas com piscinas, morros e fossos. Há também acampamentos onde os participantes têm que morar.
Segundo o jornalista Jaime Júnior, morador de Palmas, cerca de 300 pessoas estão no local, entre equipe de produção e participantes, e foram construídos abrigos e até um posto de combustível na unidade de conservação. Ele diz ainda que "o acesso à região agora é restrito e controlado pela equipe de gravação". "O governo afirma que não pode se manifestar sob pena de pagar uma multa no valor de US$ 5 milhões", conta Jaime.

Sigilo

Em um texto postado em seu blog, a jornalista Fernanda Bruni afirma que "o problema está no desastre ecológico que a equipe está causando na região quando coloca tratores e sistema de esgoto". "Além de interditar as dunas do Jalapão colocando placas bilíngües com escritas dizendo 'Fechado para o público' e 'Propriedade Particular', parece que eles estão tirando dos cofres da emissora mais alguns milhões de dólares para manter a imprensa de boca fechada", diz o texto da jornalista. Suzana Barros, assessora da Secretaria de Comunicação do Tocantins, rebate as críticas afirmando que não existe nenhum contrato envolvendo o governo do Estado e a CBS.

"Nada foi assinado em troca das gravações. O governo ganha somente com a mídia espontânea que o programa irá gerar quando for ao ar", explica. Segundo a assessoria do governo do Tocantins, o governador e alguns jornalistas que visitaram a área onde as filmagens estão sendo feitas tiveram que assinar um termo de confidencialidade. "Como é um reality show que ainda será editado, a produtora precisa manter as informações em sigilo para que isso não vaze para o mundo todo", disse Suzana.

Ainda de acordo com informações da assessoria, o Jalapão não sofreu desmatamentos para que as gravações pudessem acontecer. "Eles gravam em uma área de campo limpo, que não precisou ser alterada por conta das filmagens", diz a assessora. Segundo ela, a CBS também contratou uma empresa para reparar danos ambientais depois que deixar o local. "Somente a região onde a gravação acontece é interditada. E os turistas e moradores são avisados com antecedência", explica Suzana.

O Naturatins, instituto responsável pelas unidades de conservação do Tocantins, entre elas o Jalapão, afirma que a região passou por um licenciamento ambiental antes da gravação e que representantes do órgão fazem um constante monitoramento da região.

Esclarecimentos

No final de novembro, o deputado estadual Marcello Lelis (PV) encaminhou ao governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), um pedido de esclarecimento a respeito dos critérios que envolveram a autorização das filmagens no Jalapão. O pedido, apresentado na Câmara Estadual, foi negado pela bancada do governo e arquivado.

Segundo o assessor de imprensa do deputado, neste final de semana ele irá, acompanhado por uma comitiva da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), até a região das filmagens verificar se o acesso está restrito à equipe de filmagem.

Fonte: Folha online

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