Por Luiz Pires*
No dia 8 de outubro de 2009, 320 pessoas presenciaram o nascimento um novo movimento que reúne líderes empresariais engajados para a construção coletiva de um novo modelo econômico para o Brasil baseado na economia de baixo carbono. Assim tem sido chamada a nova configuração do modo de produção e trocas da economia mundial, que tem como ingredientes eficiência e alternativas energéticas, redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE), adoção de novas tecnologias e inovação, entre outras propostas. O pano de fundo da nova economia é a mudança do clima. Ao exigir estratégias de mitigação e adaptação, a crise climática fundiu dois dos maiores desafios das empresas nas últimas décadas: a competitividade e a sustentabilidade.
Um grupo de 25 empresas pioneiras (detalhes em www.fgv.br/ces/epc) confiou ao Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas a coordenação de tão ambicioso projeto que tem por objetivo a construção das bases desse novo modelo econômico.
São empresas líderes em seus segmentos, pioneiras na elaboração de inventários de gases de efeito estufa, e que identificaram na proposta uma oportunidade de reverem seus modelos produtivos e contribuírem para a redução dos efeitos das mudanças climáticas globais.
Falamos de um modelo econômico moderno, baseado na inovação tecnológica, na pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços com menor emissão de gases de efeito estufa e que tem tudo para ser a nova moda mundial. Produzir para atender à demanda da humanidade e emitir menos. Essa deve ser a missão de todas as empresas!
A produção a qualquer custo é um modelo econômico fracassado! Ao longo dos últimos 30 anos, a comunidade científica acompanhou o crescimento exponencial das emissões de gases de efeito estufa e seus efeitos sobre o clima planetário. Estudos científicos publicados diariamente relacionam o incremento da temperatura global com o aumento da concentração de CO2 e demais gases estufa na atmosfera do nosso planeta.
E o que ganham esses empresários pioneiros? Eles ganham a oportunidade! A oportunidade de serem os pioneiros na identificação de riscos e oportunidades de negócios decorrentes das alterações climáticas, a oportunidade de se adaptarem mais precocemente aos efeitos ambientais previstos pelos cientistas, a oportunidade de desenvolverem produtos e serviços de acordo com a nova economia e conseguirem assim o reconhecimento público e ganhos em competitividade ... e com uma lista de oportunidades é que a competitividade associada à sustentabilidade pode ser a salvação desse visionário grupo, e também do mundo.
Os efeitos no Brasil são visíveis, infelizmente. Quer seja pela notícia da seca na Amazônia, que compromete o regime de chuvas em todo o país, quer seja pelas tempestades torrenciais e rajadas de ventos nas regiões Sul e Sudeste, os efeitos das mudanças climáticas ultrapassam a coletividade e começam a chegar ao bolso dos consumidores.
Nicholas Stern, renomado economista britânico, coordenou um dos primeiros relatórios econômicos sobre as mudanças climáticas. E anunciava, em outubro de 2006, que os efeitos das mudanças climáticas seriam catastróficos sobre a economia global. Em termos do PIB, uma ação imediata custará aos cofres mundiais de 1% a 2% de todas as riquezas produzidas no planeta enquanto uma ação somente em 2050 nos custaria cerca de 20%. E essas despesas serão investidas na garantia de suprimento de água potável à população, na recuperação de cidades atingidas por catástrofes ambientais como tempestades e tufões, na recomposição de lavouras e indústrias responsáveis pelo processamento de alimentos, entre outros.
Não se trata de uma “nova crise econômica” na qual as instituições sofreram os maiores reveses, mas sim da garantia de vida dos habitantes de um país. E a economia globalizada, mundialmente interligada, “sente” qualquer alteração rapidamente. Um exemplo: o intenso regime de chuvas na Ásia promoveu uma queda de produtividade dos cultivares de açúcar indiano. Essa poderia ser uma ótima notícia para o Brasil, um grande exportador de açúcar, se a produção de etanol não tivesse a mesma matéria-prima.
As empresas já visualizavam os efeitos das mudanças climáticas antes mesmo delas se concretizarem fisicamente, por meio de chuvas desproporcionais e atípicas. E com essa visão estratégica os maiores grupos sucroalcooleiros já acenavam para um incremento na produção de açúcar na atual safra. Como resultado, o incremento nos lucros, pois o preço do açúcar está cerca de 45% superior ao do etanol.
Apesar de estarmos em meio a uma ótima safra – período no qual teríamos uma natural queda no preço do combustível decorrente do incremento na oferta –, hoje pagamos mais pelo combustível do que na última entressafra, pois a mesma cana-de-açúcar que seria utilizada para a produção do etanol foi destinada ao abastecimento do mercado mundial de açúcar. Mesmo com a elevada cotação do real frente ao dólar, as exportações de açúcar estão em alta e quem paga por isso é o consumidor que, ao abastecer o carro, paga os efeitos da crise ambiental mundial.
Eis o ponto em que eu quero chegar. O elo mais fraco de toda a cadeia é sempre o consumidor final, mesmo tendo um enorme poder para ditar tendências e escolher produtos menos agressivos ao meio ambiente e à sociedade. É ele que pagará a conta das mudanças climáticas, seja pelo aumento do custo de produtos ou serviços, seja pela criação de novos impostos sobre a emissão de carbono como propõem alguns países.
E nesse sentido, me “aposso” do discurso introdutório de Kofi Annan, secretário geral da ONU entre 1997 e 2006 e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2001, para a regravação do hit Beds are burning, da engajada banda australiana Midnight Oil, no âmbito da campanha de ações globais para o clima (GCCA, na sigla em Inglês) e digo: Nós temos que fazer algo sobre isso. É nossa responsabilidade tornar nosso planeta um lugar melhor!
* É Biólogo, Coordenador do Programa Empresas pelo Clima, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas.
No dia 8 de outubro de 2009, 320 pessoas presenciaram o nascimento um novo movimento que reúne líderes empresariais engajados para a construção coletiva de um novo modelo econômico para o Brasil baseado na economia de baixo carbono. Assim tem sido chamada a nova configuração do modo de produção e trocas da economia mundial, que tem como ingredientes eficiência e alternativas energéticas, redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE), adoção de novas tecnologias e inovação, entre outras propostas. O pano de fundo da nova economia é a mudança do clima. Ao exigir estratégias de mitigação e adaptação, a crise climática fundiu dois dos maiores desafios das empresas nas últimas décadas: a competitividade e a sustentabilidade.
Um grupo de 25 empresas pioneiras (detalhes em www.fgv.br/ces/epc) confiou ao Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas a coordenação de tão ambicioso projeto que tem por objetivo a construção das bases desse novo modelo econômico.
São empresas líderes em seus segmentos, pioneiras na elaboração de inventários de gases de efeito estufa, e que identificaram na proposta uma oportunidade de reverem seus modelos produtivos e contribuírem para a redução dos efeitos das mudanças climáticas globais.
Falamos de um modelo econômico moderno, baseado na inovação tecnológica, na pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços com menor emissão de gases de efeito estufa e que tem tudo para ser a nova moda mundial. Produzir para atender à demanda da humanidade e emitir menos. Essa deve ser a missão de todas as empresas!
A produção a qualquer custo é um modelo econômico fracassado! Ao longo dos últimos 30 anos, a comunidade científica acompanhou o crescimento exponencial das emissões de gases de efeito estufa e seus efeitos sobre o clima planetário. Estudos científicos publicados diariamente relacionam o incremento da temperatura global com o aumento da concentração de CO2 e demais gases estufa na atmosfera do nosso planeta.
E o que ganham esses empresários pioneiros? Eles ganham a oportunidade! A oportunidade de serem os pioneiros na identificação de riscos e oportunidades de negócios decorrentes das alterações climáticas, a oportunidade de se adaptarem mais precocemente aos efeitos ambientais previstos pelos cientistas, a oportunidade de desenvolverem produtos e serviços de acordo com a nova economia e conseguirem assim o reconhecimento público e ganhos em competitividade ... e com uma lista de oportunidades é que a competitividade associada à sustentabilidade pode ser a salvação desse visionário grupo, e também do mundo.
Os efeitos no Brasil são visíveis, infelizmente. Quer seja pela notícia da seca na Amazônia, que compromete o regime de chuvas em todo o país, quer seja pelas tempestades torrenciais e rajadas de ventos nas regiões Sul e Sudeste, os efeitos das mudanças climáticas ultrapassam a coletividade e começam a chegar ao bolso dos consumidores.
Nicholas Stern, renomado economista britânico, coordenou um dos primeiros relatórios econômicos sobre as mudanças climáticas. E anunciava, em outubro de 2006, que os efeitos das mudanças climáticas seriam catastróficos sobre a economia global. Em termos do PIB, uma ação imediata custará aos cofres mundiais de 1% a 2% de todas as riquezas produzidas no planeta enquanto uma ação somente em 2050 nos custaria cerca de 20%. E essas despesas serão investidas na garantia de suprimento de água potável à população, na recuperação de cidades atingidas por catástrofes ambientais como tempestades e tufões, na recomposição de lavouras e indústrias responsáveis pelo processamento de alimentos, entre outros.
Não se trata de uma “nova crise econômica” na qual as instituições sofreram os maiores reveses, mas sim da garantia de vida dos habitantes de um país. E a economia globalizada, mundialmente interligada, “sente” qualquer alteração rapidamente. Um exemplo: o intenso regime de chuvas na Ásia promoveu uma queda de produtividade dos cultivares de açúcar indiano. Essa poderia ser uma ótima notícia para o Brasil, um grande exportador de açúcar, se a produção de etanol não tivesse a mesma matéria-prima.
As empresas já visualizavam os efeitos das mudanças climáticas antes mesmo delas se concretizarem fisicamente, por meio de chuvas desproporcionais e atípicas. E com essa visão estratégica os maiores grupos sucroalcooleiros já acenavam para um incremento na produção de açúcar na atual safra. Como resultado, o incremento nos lucros, pois o preço do açúcar está cerca de 45% superior ao do etanol.
Apesar de estarmos em meio a uma ótima safra – período no qual teríamos uma natural queda no preço do combustível decorrente do incremento na oferta –, hoje pagamos mais pelo combustível do que na última entressafra, pois a mesma cana-de-açúcar que seria utilizada para a produção do etanol foi destinada ao abastecimento do mercado mundial de açúcar. Mesmo com a elevada cotação do real frente ao dólar, as exportações de açúcar estão em alta e quem paga por isso é o consumidor que, ao abastecer o carro, paga os efeitos da crise ambiental mundial.
Eis o ponto em que eu quero chegar. O elo mais fraco de toda a cadeia é sempre o consumidor final, mesmo tendo um enorme poder para ditar tendências e escolher produtos menos agressivos ao meio ambiente e à sociedade. É ele que pagará a conta das mudanças climáticas, seja pelo aumento do custo de produtos ou serviços, seja pela criação de novos impostos sobre a emissão de carbono como propõem alguns países.
E nesse sentido, me “aposso” do discurso introdutório de Kofi Annan, secretário geral da ONU entre 1997 e 2006 e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2001, para a regravação do hit Beds are burning, da engajada banda australiana Midnight Oil, no âmbito da campanha de ações globais para o clima (GCCA, na sigla em Inglês) e digo: Nós temos que fazer algo sobre isso. É nossa responsabilidade tornar nosso planeta um lugar melhor!
* É Biólogo, Coordenador do Programa Empresas pelo Clima, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas.
Um comentário:
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