quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Adaptação prioritária

Por Fábio de Castro, da Agência FAPESP

Cientistas de mais de 30 países se reuniram nesta quarta-feira (4/11) na sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), para discutir as possibilidades de adaptação às mudanças climáticas nas regiões mais vulneráveis do planeta: os países em desenvolvimento.

Organizado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e pelo Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (IGBP), em parceria com o Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CST) do Inpe, o encontro “Impactos, adaptação e vulnerabilidade: necessidade e prioridades de pesquisa nos países em desenvolvimento” termina no dia 6.
De acordo com o coordenador do evento, Carlos Afonso Nobre, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe, trata-se do maior encontro internacional sobre adaptação às mudanças climáticas já realizado até hoje envolvendo países em desenvolvimento.

“A ideia por trás do evento é estimular a expansão de uma comunidade de cientistas que trabalhe a questão da adaptação nos países em desenvolvimento, a fim de identificar quais são as grandes lacunas de pesquisa nessa área. Essa comunidade já existe, mas ainda é pequena. Queremos que ela tenha um papel maior no próximo relatório do IPCC, pois essa questão tem importância central”, disse à Agência FAPESP.

Segundo Nobre, que também é coordenador executivo do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, os países mais pobres têm, geralmente, mais dificuldades de adaptação a qualquer transformação, seja ambiental, econômica ou social. O mesmo ocorre no caso do clima. “As projeções para o século 21 mostram que muitas das mudanças climáticas têm relação com o ciclo da água e, portanto, afetam especialmente as regiões áridas e semiáridas. O que ocorre é que justamente essas regiões concentram a maior parte da pobreza no mundo. A soma dessa característica com a dificuldade de adaptação típica desses países faz com eles se tornem as regiões mais vulneráveis do planeta”, apontou.

Identificar as lacunas de pesquisa sobre impactos das mudanças climáticas – e sobre as possibilidades de adaptação – nos países em desenvolvimento, poderá motivar pesquisadores dos países mais ricos a trabalhar em cooperação com os colegas de países da América Latina, da África e da Ásia, segundo Nobre. “Com isso, os problemas específicos dessas áreas ganharão mais destaque nas avaliações do IPCC e, consequentemente, no direcionamento de políticas públicas”, disse.

O climatologista afirma ser importante influenciar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), que será realizada em Copenhague, na Dinamarca, de 7 a 18 de dezembro, na questão da adaptação, pois se trata de um tema que está claramente em segundo plano em relação à mitigação das emissões de gases de efeito estufa. “Todos sabem que a mitigação é um problema global que precisa de uma solução global. Não podemos pensar que a adaptação, por se manifestar localmente, não precise de soluções globais”, afirmou.

Mais informações sobre o encontro “Impactos, adaptação e vulnerabilidade”: www.ess.inpe.br/iavbrazil

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