quarta-feira, 31 de março de 2010

Mudança climática de Copenhague a Cochabamba

Por Franz Chávez, da IPS

Um novo modo de lutar contra o aquecimento global será testado na cidade boliviana de Cochabamba, quando a Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra reunir governantes e milhares de ativistas do planeta. As organizações sociais que patrocinam o encontro, que acontecerá entre 20 e 22 de abril, anunciam uma plataforma alternativa à 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que terminou em fracasso na gelada Copenhague, em dezembro.

A defesa da Mãe Terra, bandeira do presidente boliviano, Evo Morales, conta com apoio de mais de 240 movimentos populares e indígenas, organizações não governamentais, ativistas e intelectuais que defendem a necessidade de redigir uma carta de direitos do planeta. Os principais objetivos da conferência são organizar um referendo mundial dos povos sobre o aquecimento, redigir um plano de ação para criar um tribunal de justiça climática e assumir novos compromissos para negociar no contexto das Nações Unidas.

As prioridades dessa agenda são: dívida climática, migrantes-refugiados da mudança climática, redução de emissões, adaptação, transferência de tecnologia, financiamento, florestas e mudança climática, visão compartilhada e povos indígenas. “Nós, ativistas de diferentes movimentos sociais, caracterizamos o momento atual pela prepotência que se expressou em Copenhague, dos Estados Unidos, da União Europeia e das multinacionais”, que tentam “nada fazer para deter o aumento da temperatura do planeta”, afirmam na convocação do encontro.

Algumas dessas organizações são Aliança Social Continental, Amigos da Terra da América Latina, Central Sindical das Américas, Marcha Mundial das Mulheres, Campanha 350.org e Via Camponesa. O encontro será aberto por Morales no dia 20. As organizações identificam “uma crise ‘civilizatória’ do capitalismo” e denunciam “uma lógica sacrificial (sic), predadora, racista e patriarcal” que se expressa no “aumento da presença militar e de bases militares em diversas partes do mundo e ocupações ditas humanitárias”.

A guerra, a ocupação de mercados e territórios, e a militarização para o controle dos recursos energéticos, da água e da biodiversidade são apontados como métodos capitalistas para solucionar sua própria crise. A Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática buscará impulsionar o direito a “viver bem” em contraposição ao principio econômico do crescimento contínuo. Ao contrário de Copenhague, onde os países industrializados buscavam uma fórmula para a redução de emissões de gases que aquecem a atmosfera que não os comprometesse, em Cochabamba os setores populares pretendem erguer sua voz.

“Os povos indígenas e organizações sociais durante muito tempo não tiveram voz. É um movimento que vem se desenvolvendo sob cenários subterrâneos no campo e nos setores urbanos das cidades”, disse à IPS a ambientalista Carmen Capriles, da filial boliviana da Campanha 350.org. Seus “saberes” como agricultores ou criadores de gado os levaram a identificar as variações dos fenômenos climáticos dos quais dependem seu modo de vida e sua economia, acrescentou.

A Campanha 350.org se refere às 350 partes por milhão que os cientistas consideram como “limite máximo seguro” de concentração de dióxido de carbono na atmosfera para não desencadear uma catástrofe climática. O encontro tem a particularidade de “ser para e com os povos indígenas, ao contrário de qualquer outra conferência mundial já organizada”, explicou à IPS o economista boliviano especializado em meio ambiente, Stanislaw Czaplicki. O profissional esteve em Copenhague como membro da sociedade civil e coordenou redes de movimentos juvenis ambientalistas latino-americanos.

“Os povos e as organizações sociais já formam uma corrente mundial em defesa do planeta, e a sociedade civil tem um papel forte no desenvolvimento das políticas públicas”, disse Czplicki. Porém, “falta representatividade de mulheres e jovens”, observou. Capriles considerou necessário criar novos movimentos com capacidade de gerar propostas alternativas e reclamou vontade política dos países desenvolvidos para gerar mudanças estruturais em suas economias. Czaplicki disse que na Europa há movimentos políticos que rechaçam modelos de desenvolvimento que prejudicam o meio ambiente, mas não expressam um pensamento anticapitalista e não se dissociam das instituições financeiras internacionais.

Essas correntes aparecem em países onde se atingiu o desenvolvimento com impacto no meio ambiente, não em nações que ainda podem escolher um modelo de crescimento econômico. No caso da Bolívia, as políticas opostas ao capitalismo e à industrialização poluente não deram lugar à substituição do modelo de extração de matéria-prima, disse o economista. Anualmente, são desmatados 300 mil hectares de florestas, afirmou. Falta uma síntese, ressaltou. IPS/Envolverde

Fonte: Envolverde

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