terça-feira, 27 de abril de 2010

Projeto investe em agroflorestas na Amazônia para seqüestrar carbono

Por André Alves
Recuperar áreas degradadas com sistemas agroflorestais (SAFs) para fixação de carbono e geração de renda. Esta é a proposta do projeto Poço de Carbono Juruena que está sendo executado no município, a 830 km de Cuiabá-MT. Implementado pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena – ADERJUR e com o patrocínio do Programa Petrobras Ambiental, o projeto irá envolver cerca de 150 famílias, entre pequenos e médios agricultores, além do estabelecimento de diversas parcerias para que em dois anos cerca de 660 hectares sejam recuperados e outros sete mil hectares tenham seu desmatamento evitado pelo estímulo a atividades econômicas que conservam a floresta.

“Nós temos a oportunidade de sermos uma referência na adoção de SAFs para seqüestro de carbono e induzir novas formas de produção, menos impactantes para a biodiversidade local”, aponta Paulo Nunes, coordenador técnico do projeto. “Para trabalhar com a agricultura familiar numa região como o Noroeste de Mato Grosso tem que levar em conta a agregação de valor aos produtos e a geração de renda, pois há enormes dificuldades no desenvolvimento de atividades, seja por conta da distância do mercado consumidor, seja pela falta de infra-estrutura para escoamento da produção”.

Para atingir os resultados esperados o Poço de Carbono Juruena irá beneficiar as comunidades Assentamento Vale do Amanhecer, Gleba 13 de Maio, Comunidade Santo Antônio, Linhas: Sapucaia, Sorriso, Jota, Monte Azul e Vale do Canamã. A seleção das famílias se deu por meio de reuniões e oficinas de sensibilização onde os técnicos do projeto apresentaram a proposta de implantação dos SAFs, baseados em quatro modelos: quintais produtivos, cafezais com sombreamento, palmeiras e silvopastoris. A escolha desses sistemas levou em conta diversos aspectos, como a agregação de renda, sustentabilidade, segurança alimentar e tradição com a cultura, além de intercalar espécies madeireiras, frutíferas, palmáceas comerciais e espécies fixadoras de nitrogênio.

De acordo com o interesse e área a ser recuperada de cada agricultor, é feito um estudo sobre as possibilidades de consórcios de espécies, mas a decisão de quais serão plantadas é de cada produtor. Os técnicos do projeto irão fornecer mudas e todo acompanhamento técnico necessário para que na seleção das espécies plantadas possam vir a gerar renda a pequeno, médio e longo prazos, assim como garantir a fixação de carbono por meio de espécies como a castanheira, a seringa, o ipê, entre outras.

José Lorivaldo de Souza está desde 1998 em seu lote, que é diferente do modelo de ocupação daquele comumente encontrado na região. Ele consorcia plantas, “planta árvores com capim para o boi ter sombra”, tem uma produção diversificada de arroz, mandioca, cupuaçu, limão, laranja, jambo, jabuticaba e outras duzentas espécies. Nem todas são para garantir renda, conforme ele mesmo explica, mas para o solo ter qualidade e para sua alimentação. Mesmo com essa diversidade e se considerando uma exceção na região, seu Loro, como é conhecido, quis fazer parte do projeto. “Sempre tive um lado de preservação, mas claro que fazia algumas coisas erradas. Com apoio a gente consegue fazer mais coisas da forma certa”, explica.

Já Cecílio Rosa é um mineiro da região de Governador Valadares que foi jovem para os Estados Unidos em busca de um futuro melhor. Depois de sete anos fazendo bicos e trabalhando em diversos empregos de forma árdua, juntou dinheiro, voltou ao Brasil e hoje cria gado leiteiro, produz arroz e milho e investe em piscicultura no município. Entrar para o projeto é uma oportunidade para ele recuperar a área de preservação permanente da represa onde cria os peixes. “Fiz os cálculos e ia sair R$ 1,50 cada muda para recuperar a APP, agora eu vou ter as mudas de graça. Vou entrar apenas com meu trabalho”, explica. “Quero plantar ipê, garrote, cupuaçu, castanheira e outras espécies. Vai ficar mais bonito, com um clima melhor para viver como é na floresta e meus netos e bisnetos terão renda com as árvores que vamos plantar”, anima-se.

Saiba mais sobre o Poço de Carbono Juruena
Além da implantação dos SAFs, o projeto investe em ações de Educação Ambiental e apóia formas de organização social em torno do planejamento e gestão para conservação de reservas legais e recuperação de áreas alteradas, ajudando a firmar parcerias como a da madeireira Rohden que vai permitir a extração de castanhas-do-Brasil da sua área por agricultores de uma cooperativa, ou da Secretaria Municipal de Educação, que compra biscoitos de castanha de uma associação de mulheres para reforçar a merenda escolar.

A escolha do município de Juruena para realização do projeto é porque, além de ser a sede da ADERJUR, há a atuação de diversos parceiros como o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Juruena, Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (COOPAVAM) e do projeto “Conservação da Biodiversidade e Uso Sustentável das Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso”, executado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) além de uma forte rede de parcerias contribuindo para a maior chance de sucesso de novos empreendimentos.

Sobre a ADERJUR
A Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena - ADERJUR foi fundada em 1994 e sua principal finalidade é realizar atividades que contribuam com o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar rural, de uma forma que possibilite trazer melhoria da qualidade de vida para seus associados, beneficiários e parceiros. Funciona como uma “central das associações”, buscando apoiar todas as comunidades do município através das demais associações constituídas nas comunidades, corroborando com projetos em parcerias.Através do Programa de Apoio Direto às Iniciativas Comunitárias – PADIC, da Secretaria de Planejamento do Estado de Mato Grosso, conseguiu implantar uma agroindústria para despolpar frutas, processando parte da produção do município de Juruena.

A ADERJUR, em parceria com o INCRA, trabalhou na proposta de adequação ambiental do assentamento Vale do Amanhecer visando valorizar a Reserva Legal comunitária, a partir da implantação de uma Unidade de Beneficiamento de Castanha do Brasil e recuperar áreas degradadas a partir da implantação de sistemas Agroflorestais. Hoje o assentamento conta com uma unidade de Beneficiamento de Castanha do Brasil com capacidade de beneficiamento de 10 toneladas/mês, beneficiando a produção de castanha dos agricultores familiares dos assentamentos, índios das etnias Rikbaktsa e os seringueiros da Reserva Extrativista dos rios Guariba e Roosevelt.

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