quinta-feira, 15 de julho de 2010

Inventário de moluscos

Por Alex Sander Alcântara, da Agência FAPESP

Um levantamento sobre a fauna de moluscos no Estado de São Paulo foi feito por pesquisadores da Divisão de Programas Especiais da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), órgão vinculado à Secretaria Estadual da Saúde.

O objetivo do estudo foi inventariar a fauna malacológica de gastrópodes (como caramujos, lesmas, caracóis) de água doce e terrestres de importância para a saúde pública, além de descrever possíveis formas larvais de helmintos (parasitas) associadas a ela – malacologia é o ramo da biologia que estuda moluscos.

Os resultados da pesquisa deram origem ao Manual de gastrópodes límnicos e terrestres do Estado de São Paulo associados às helmintoses. O inventário fornece dados sobre a morfologia, distribuição, biologia e ecologia das espécies de moluscos, bem como identifica áreas potenciais de ocorrências de zoonoses.

“O manual contém informações de interesse da saúde pública e serve como instrumento de consulta para profissionais da área da saúde e pessoas leigas que tenham interesse em obter conhecimentos mais precisos sobre os moluscos e as doenças por eles transmitidas”, disse Fernanda Pires Ohlweiler, do Laboratório de Malacologia do Sucen e coordenadora da pesquisa, à Agência FAPESP .

O inventário é resultado da pesquisa, coordenada por Fernanda, intitulada “Gastrópodes límnicos e terrestres do Estado de São Paulo associados às helmitoses”, apoiada pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular . O livro recebeu apoio da Fundação por meio de um Auxílio à Pesquisa – Publicações.

Os gastrópodes são hospedeiros intermediários de helmintos, fazendo parte do ciclo de vida desses parasitas. “O fato de muitos helmintos terem os moluscos como hospedeiros intermediários durante a fase larvária os torna importante fonte de infecção para o homem e outros animais”, explicou.

Segundo Fernanda, um dos objetivos do estudo é auxiliar no controle e na vigilância de doenças transmitidas ao homem por moluscos, principalmente com relação à esquistossomose mansônica (transmitida pelo Schistosoma mansoni).

O inventário foi realizado a partir de coletas realizadas em coleções hídricas e seu entorno, bem como em ambientes urbanos dos municípios paulistas.

Para atualizar e ampliar o inventário as foram obtidas informações a partir de dados bibliográficos e de coleções malacológicas como da Sucen, Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotônica do Rio Grande do Sul e Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.

O estudo gerou mapas de distribuição geográfica no Estado de São Paulo. “A falta de investigação malacológica e a ausência de monitoramento das áreas de ocorrência, associadas a não notificação de casos pelo sistema de vigilância epidemiológica, contribuem para a subestimação de dados de prevalência das doenças no Estado”, destaca.

A distribuição dos moluscos é bastante ampla, podendo ser encontrada em ambientes naturais e antrópicos. “Um exemplo importante é o molusco terrestre Achatina fulica, de origem africana, que tem distribuição bastante abrangente, podendo ocorrer em vários países, inclusive no Brasil. Inicialmente, a espécie era encontrada em ambientes antrópicos e, em vista da saturação dessas áreas, passou a invadir ambientes naturais”, disse.

A espécie é uma ameaça à fauna nativa, praga agrícola e de interesse epidemiológico, por ser hospedeira intermediária de nematódeos. Segundo a pesquisadora, a presença da Achatina fulica no Brasil é alarmante, tanto pelos prejuízos causados à agricultura como para a saúde pública, uma vez que a espécie tem se adaptado perfeitamente às condições ambientais no país.

“Mesmo que nenhum caso autóctone de angiostrongilíases (angiostrongilíase abdominal e meningoencefalite eosinofílica) registrado no Brasil seja de responsabilidade da Achatina fulica, deve-se ampliar a vigilância a fim de se evitar a possível instalação de focos destas parasitoses no país por responsabilidade deste molusco”, alertou.

A angiostrongilíase abdominal, segundo a pesquisadora, causa dores abdominais, febre prolongada, falta de apetite e vômitos. “Além disso, pode provocar perfuração intestinal, hemorragia abdominal e infecções que podem levar à morte”, disse.

Já a meningoencefalite eosinofílica provoca cefaleia, rigidez da nuca e em alguns casos paralisia temporária. Possui, normalmente, curso benigno, raramente levando ao óbito.

Com relação à Achatina fulica existe registro da espécie portando larvas de Angiostrongylus cantonensis no município de São Vicente.

“Os moluscos têm uma distribuição bastante dispersa no Estado de São Paulo, existindo ainda muitas lacunas a serem preenchidas, principalmente com relação aos terrestres”, disse Fernanda.

Com relação às parasitoses, a esquistossomose (causada pela Biomphalaria glabrata) é responsável por focos da doença na bacia do rio Paranapanema, no oeste do Estado.

“Os focos de esquistossomose, por responsabilidade da Biomphalaria tenagophila, são mais recorrentes no Vale do Ribeira, Baixada Santista e no Vale do Rio Paraíba do Sul. O único registro da espécie Biomphalaria straminea portando larvas do parasita foi no município de Cruzeiro”, indicou.

Devido às lacunas existentes com relação à distribuição dos moluscos no Estado de São Paulo, o grupo está realizando agora um inquérito malacológico na região da Grande São Paulo, que abrange 39 municípios.

O atual projeto, intitulado “Diversidade da malacofauna de importância epidemiológica na grande São Paulo”, tem apoio da FAPESP, na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, e conclusão prevista para abril de 2011.

O livro Manual de gastrópodes límnicos e terrestres do Estado de São Paulo associados às helmintoses custa R$ 40 incluídas despesas de envio ou R$ 35 se não houver taxas de correio. A obra pode ser solicitada pelo e-mail fernanda@sucen.sp.gov.br ou pelo telefone (11) 3812 – 4859  (11) 3812 – 4859  – ramal 225.

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