Por Fábio de Castro, de Itatiba (SP), da Agência FAPESP
O jornalismo voltado para a cobertura de ciência foi um dos temas debatidos por especialistas em Itatiba (SP), diante de uma plateia composta por alguns dos mais proeminentes cientistas do Brasil e do Reino Unido em diferentes áreas do conhecimento.
O debate ocorreu durante o UK-Brazil Frontiers of Science Symposium, evento que terminou nesta segunda-feira (30/8) e integra o programa Fronteiras da Ciência da Royal Society. A instituição britânica – que comemora 350 anos – e a FAPESP organizaram o evento em parceria com o Consulado Britânico em São Paulo, a Academia Brasileira de Ciências, a Academia Chilena de Ciências e a Cooperação Reino Unido-Brasil em Ciência e Inovação.
Com base em seus estudos sobre jornalismo científico e a percepção pública da ciência, o sociólogo Yurij Castelfranchi defendeu que o envolvimento do público com o universo científico é importante para a sociedade e fundamental para a própria ciência. De acordo com o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Brasil tem atualmente um ambiente favorável para essa aproximação entre ciência e sociedade.
“Quando aprofundamos os estudos sobre o tema, nos surpreendemos ao descobrir que o apoio do público à ciência no Brasil é imenso. Cerca de 80% das pessoas têm uma atitude positiva em relação à ciência. Isso não quer dizer que as pessoas compreendam a ciência. A questão que nos interessa é como transformar essa ‘confiança ignorante’ na ciência e na tecnologia em conhecimento real”, disse.
Segundo ele, não se trata apenas de transmitir informação de forma autoritária, trazendo “a luz do conhecimento” para o público. A tarefa consiste em mostrar ao público, por meio de um jornalismo crítico, como a ciência funciona do ponto de vista político e epistemológico. O jornalista não seria um vulgarizador, mas “uma ponte entre dois mundos”.
“Se transmitirmos a ideia da ciência como uma máquina de invenções maravilhosas, tentando conquistar o interesse do público com uma brilhante lista de descobertas, o efeito pode ser o inverso do desejado. Isso equivale a apresentar a ciência como uma solução mágica. Não temos que fazer marketing da ciência, mas mostrar como ela é feita a partir de um ponto de vista crítico”, afirmou.
A jornalista Mariluce Moura, diretora da revista Pesquisa FAPESP apresentou uma análise da evolução do jornalismo científico no Brasil nas últimas décadas. Segundo ela, nos últimos dez anos, o foco da mídia brasileira sobre o conhecimento científico tem se acentuado de forma extraordinária. A própria revista, derivada do boletim Notícias FAPESP, lançado em 1995, teve um papel central nessa evolução.
“A Pesquisa FAPESP é um exemplo de sucesso em relação à cooperação entre cientistas e jornalistas. A revista se tornou muito próxima da comunidade científica paulista, estabelecendo uma relação de confiança”, disse.
Essa cooperação, segundo Mariluce, é exercida por um procedimento particular adotado na produção da revista: antes de chegar ao público, a informação apurada pelos jornalistas é, em geral, revisada pelos entrevistados.
“Pertencendo a uma instituição pública, normalmente enviamos o texto final para os pesquisadores. Entretanto, há uma recomendação expressa: eles podem corrigir todo tipo de informação científica, mas o texto é a nossa área de excelência. A noção estética e a ideia de produto jornalístico cabem ao profissional da área”, afirmou.
O britânico Tim Hirsch comentou as dificuldades do jornalismo científico e destacou as diferenças marcantes das experiências de divulgação da ciência no Brasil e no Reino Unido. Hirsch foi correspondente da área de meio ambiente da BBC News entre 1997 e 2006 e hoje atua no Brasil como consultor e jornalista independente.
Segundo ele, a interação entre os cientistas e os meios de comunicação de massa é bastante difícil. “Há uma área de cooperação, mas nem sempre isso é possível. O limite entre a informação científica responsável e a liberdade da comunicação não é nada fácil de estabelecer. Não há respostas fáceis nesse terreno. É preciso unir talento e coragem para traduzir um processo de expertise em uma linguagem que seja acessível ao grande público”, afirmou.
Para contornar essas dificuldades, a saída seria desenvolver um relacionamento de confiança entre cientistas e jornalistas. “No Brasil, parece-me, a autocrítica em relação à cobertura jornalística da ciência é muito severa. Há bastante preocupação com a tensão entre jornalistas e cientistas e com a qualidade do material publicado, mas o fato é que grande parte do noticiário é muito bom”, afirmou.
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