Por Michelly Rosa, da Agência UFRJ de notícias
Laboratório da UFRJ identifica DNA de pescado brasileiro e auxilia no combate a fraudes no comércio e na pesca
Você confia na autenticidade do peixe que leva para casa? Como saber se houve ou não troca de espécies?
O Laboratório de Biodiversidade Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ desenvolveu através da Rede Nacional de Identificação Molecular de Peixes (Renimp) um método para identificar o pescado que pode dar mais segurança ao consumidor e indicar possíveis erros ou fraudes na comercialização e importação de peixes no Brasil.
O projeto, coordenado pelo professor Antonio Mateo Solé-Cava, diretor do Instituto de Biologia da UFRJ, identifica o pescado através do sequenciamento e armazenamento das informações genéticas de 165 espécies, que representam mais de 95% de pescado comercializadas no Brasil. “O objetivo é criar uma ‘biblioteca’ de DNA para identificação do pescado mais rápida e eficiente”, explica o professor.
A ideia de um instrumento de identificação do pescado através de DNA surge com a vontade do laboratório em desenvolver uma pesquisa aplicada e com os recorrentes casos de erros de rotulagem e fraudes em mercados e feiras de peixe.
“Você via em feiras a troca do peixe namorado pelo peixe batata (espécie muito mais barata e parecida). Em muitos supermercados se comercializavam outros tipos de peixe salgado no lugar de Bacalhau e até o atum em lata foi trocado por outra espécie”, revela Antonio.
Ainda de acordo com o biólogo, a grande vantagem em usar o DNA como instrumento de análise é a possibilidade de identificar peixes mesmo após o processamento, como no caso dos filés, postas e enlatados.
A Renimp, que conta com apoio do Ministério da Pesca, junto ao Ministério da Agricultura e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), é composta por três fases. A primeira, com início em setembro de 2009, e ainda em andamento, se baseia no sequenciamento do DNA das espécies. “O processo é demorado, pois de cada espécie foram coletadas 20 amostras para dois genes diferentes, ou seja, são mais de 6 mil sequências a serem computadas e armazenadas”, afirma Antonio Solé.
A segunda etapa é a construção de uma rede descentralizada da Renimp, com polos regionais e cursos de formação para atender às demandas locais de identificação de pescado. “O processo de identificação ainda está muito concentrado na UFRJ. Nós já temos a parceria da Universidade Federal do Pará (UFPA) no mapeamento da Região Norte e pretendemos abrir polos na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e na Embrapa.”
Já a terceira etapa, com previsão para 2012, almeja a criação de kits de identificação rápida para espécies com mais recorrência em fraudes. Segundo o pesquisador, os kits são mais baratos e mais práticos que o processo atual, em torno de 20 reais por análise.
Sociedade, pesquisa e comércio beneficiados
A possibilidade de fiscalização mais rápida e fácil do comércio e pesca traz uma lista de benefícios não só ao governo, como também ao comércio, à população e ao mundo acadêmico. Segundo Solé, a partir do momento em que o comércio descobre que existe a fiscalização, haverá a mudança de comportamento por medo de punição.
Além disso, o comerciante brasileiro garante que o produto importado é de qualidade e a exportação também se beneficia por se adequar à necessidade de certificação de origem exigida por consumidores da Europa, por exemplo, o que agrega valor ao produto brasileiro no comércio exterior.
Outro ponto positivo do projeto é o auxílio na proteção de espécies ameaçadas e controle da pesca ilegal. “Há um problema grande da pesca ilegal que é a comercialização de pescado da natureza em períodos proibidos, como se fossem espécies criada em fazendas. A identificação do pescado facilita o controle do período exato de proteção da pesca.”
A área de pesquisa da universidade, a partir do projeto, ganha também uma experiência construtiva, ou seja, desenvolve experimentos que podem ser aplicados imediatamente no meio social.
Para Antonio Solé, essa interação dos alunos com a sociedade gerou a possibilidade de associação com a cadeia produtiva e adaptou os pesquisadores do laboratório a seguir protocolos mais rígidos durante suas pesquisas, compatíveis com procedimentos jurídicos peculiares a esse tipo de análises.
“Essa atividade de extensão significa promoção da UFRJ, melhor formação dos alunos e benefício para a sociedade como um todo”, analisa o professor.
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