quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Adolescentes comem menos frutas e verduras que o recomendado

Os adolescentes que comem poucas FLV tem um consumo médio destas de 70 g/dia
Da Agência USP

Na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, um estudo envolvendo 812 adolescentes com idades entre 12 e 19 anos residentes na Capital paulista constatou que somente 6,4% deles consumiam 400 gramas (g) por dia ou mais de frutas, legumes e verduras (FLV), valor mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Dos entrevistados, 22% não comeram sequer alguma fruta, legume ou verdura no dia da avaliação.

A pesquisa baseou-se em dados levantados em 2003 pelo Inquérito de Saúde do município de São Paulo (ISA), da Secretaria Municipal de Saúde. O trabalho envolveu diversos pesquisadores da FSP. “Há sempre a ideia de que o adolescente come muito mal, porém, não tínhamos dados para confirmar este fato, pensávamos que havia um exagero nas afirmações. Mas os dados levantados são piores do que o esperado”, diz a nutricionista Roberta Bigio, responsável pela pesquisa.

A nutricionista afirma que esse número é alarmante e ainda aponta outros dados preocupantes: 71,6% dos entrevistados consumiram em média 70 g/dia. “Essa quantidade é muito abaixo do mínimo necessário. Quando se fala em comer ao menos 400 g/dia, isso quer dizer que o adolescente deveria, no mínimo, comer um prato raso de salada de folhosos, como um alface, uma porção de cerca de 80 g de hortaliça cozida, como uma cenoura, e três frutas de porte médio durante o dia, como uma banana ou uma maça”, comenta.

A pesquisadora alerta que o baixo consumo de FLV afeta o valor nutricional da dieta dos jovens, o que pode resultar em complicações a curto e em longo prazo. Ela explica que algumas vitaminas encontradas nesses alimentos são antioxidantes, como a C, a A e a E, e que a falta delas pode levar a inúmeros problemas, como os de doenças cardiovasculares e câncer. “Além disso, frutas, legumes e verduras são produtos de baixa caloria e os adolescentes os substituem por produtos altamente calóricos, podendo levar ao excesso de peso e outras doenças decorrentes deste”, acrescenta.

Variáveis
No estudo, também foi analisada a relação do consumo de FLV com a renda per capita e com a escolaridade dos pais dos adolescentes. Percebeu-se que essas variáveis influenciavam no consumo, que aumentou nas categorias de maior renda e maior escolaridade do chefe da família. A pesquisa não aborda as causas dessa relação, mas Roberta sugere algumas suposições. A nutricionista acredita que quanto maior a renda, maior é o alcance para consumir um tipo de alimento que é considerado mais caro.

Além disso, ela comenta que há aquelas pessoas que moram na periferia longe de feiras ou outros lugares que vendem frutas e verduras, “sem contar a pessoa que não compra a mais do que aquilo que ganha na cesta básica”, diz. Quanto à escolaridade, Roberta lembra que quem tem melhor instrução possui um entendimento maior da importância do produto.

Entrevistas
Os dados do ISA foram obtidos por meio de entrevistas com os adolescentes selecionados. Numa etapa, a família do jovem respondeu a um questionário. Depois, os dados do que eles consumiam foram coletados em conversa por telefone, em que eram perguntados todos os detalhes do que o adolescente comera no dia anterior: quais alimentos, quantas porções aproximadas destes, a marca do produto consumido e se tinham condimentos, como açúcar e adoçante. Uma vez coletadas as informações sobre os alimentos consumidos, os pesquisadores analisaram o seu valor nutricional.

A pesquisa teve a participação dos pesquisadores Eliseu Verly Júnior, Michelle de Castro, Regina Fisberg e Dirce Marchioni da FSP. Um artigo sobre o tema deverá ser publicado em uma revista científica especializada na área.

Atualmente, Roberta está aprofundando os estudos sobre o tema para a sua dissertação de mestrado pela FSP, sob a orientação da professora Dirce Maria Lobo Marchioni, do Departamento de Nutrição. A pesquisadora pretende entrevistar novos adolescentes e analisar mais de um dia de consumo, para apresentar um quadro mais fidedigno. Além disso, o estudo terá indicadores bioquímicos, com coleta de sangue de todos os adolescentes participantes do estudo.

Mais informações: roberta_bigio@yahoo.com.br

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