sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Baratas: projeto desmistifica conhecimento sobre o inseto

Entre as diversas espécies de baratas existentes, 
há grande diversidade de formas, tamanhos e cores


Por Danielle Kiffer, da Agência Faperj

Não é novidade que baratas causam asco. Acredita-se até que sejam capazes de sobreviver a um ataque nuclear. O que poucos sabem, no entanto, é que existe um grande número de espécies silvestres e que na natureza, elas têm uma função importante. Atuam como saprófagos, ou seja, se alimentam de matéria em estado de putrefação e têm grande importância na cadeia alimentar, já que servem de alimento para outros animais. "O grande problema com esses insetos é que, em excesso, acabam invadindo nosso ambiente e disseminando doenças", afirma o biólogo Hatisaburo Masuda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do projeto "Baratas: procuradas vivas ou mortas".

Nele, uma série de vídeos procura desmistificar e divulgar informações sobre esse inseto negativamente popular. Com co-coordenação da bióloga Suzete Bressan Nascimento, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e a participação dos doutorandos Roberto Eizemberg e Paula Santos de Souza Ferreira, a pesquisa contou com apoio do edital de Difusão e Popularização da C&T, da FAPERJ.

Onívoras, muitas delas de hábitos noturnos e com enorme capacidade de adaptação, as baratas são consideradas uma praga urbana. Mas menos que 1% das quase quatro mil espécies existentes faz jus a tal fama, já que moscas, pulgas e besouros causam mais danos aos seres humanos do que elas. Algumas espécies silvestres – e elas são várias – não se parecem nem um pouco com as que comumente partilham o ambiente urbano. A Nivea panchlora, por exemplo, tem coloração verde e costuma viver em árvores. Mas na disputa entre as mais exóticas, a Blaberus giganteus, nativa da América Central e do Sul, pode chegar aos 10 centímetros. Outro grande exemplar é a chamada barata-rinoceronte. Apesar do nome, a australiana Macropanesthia rhinoceros é menor do que sua prima latina, atingindo apenas 7 a 8 centímetros de comprimento.

Curiosidades como essas fazem parte da série de vídeos criada pela equipe do projeto, coordenado por Masuda. "Quando os alunos me perguntam se as baratas sobreviveriam a um ataque nuclear, respondo que elas são tão suscetíveis às mutações e destruição resultantes da radioatividade quanto nós, mas elas têm uma grande vantagem: como vivem em locais como esgotos e galerias, no subsolo, e seus ovos são protegidos em ootecas, elas teriam mais chances de sobrevivência", diz Suzete.

"Um único casal de baratas poderia, em condições ideais, gerar milhares de descendentes no período de um ano. Segundo levantamento realizado em São Paulo pelo Instituto Nacional de Pesquisas Biológicas, há 200 baratas / por habitante daquela metrópole. Número que não deve ser muito diferente para o Rio de Janeiro. O estado, por sinal, concentra em seus espaços naturais uma grande diversidade de espécies, boa parte delas endêmica. "A observação e filmagem dessas espécies, realizada no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, região serrana fluminense, visou registrar seu comportamento em condições naturais. Dessa forma, o projeto também contribui para ampliar o conhecimento científico-tecnológico na própria comunidade científica", diz a entomologista Suzete Bressan.


A barata da espécie Nivea panchlora costuma viver em árvores

Seguindo o estilo das produções estrangeiras exibidas no Discovery Channel ou no National Geographic Channel, os vídeos têm caráter informativo e serão exibidos em colégios e em locais abertos ao público. Também faz parte do projeto o estudo desenvolvido por Suzete, no laboratório de Entomologia Médica, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho. Pesquisando o controle biológico das baratas por meio da ação parasitária da vespa Evania appendigaster, ela explica que, dentre tantos inimigos naturais das baratas, essa espécie de vespa, bastante comum no Rio de Janeiro, tem uma característica peculiar.


Ao colocar seu ovo no interior da ooteca de uma barata – uma espécie de cápsula impregnada de cálcio que contém de 15 a 18 ovos –, ela faz com que sua larva, ao nascer, se alimente de todos os ovos e embriões de baratas em gestação. "Sempre que apresento uma palestra relacionada ao assunto, digo que se pode trocar 15 baratas por uma vespa, reduzindo-se naturalmente uma praga urbana", explica Suzette.

Na verdade, as baratas, principalmente as espécies Periplaneta americana, também conhecida como barata de esgoto ou cascuda, e a Blatella germanica, a popular francesinha, tornaram-se pragas devido ao excesso de lixo que a vida urbana demanda. Vivendo entre esgotos e lixo urbano, elas acabam levando para o ambiente de residências e hospitais fungos e bactérias. Além disso, suas fezes também podem ser causadoras de alergias respiratórias", diz Masuda.

Numa parte do vídeo, em trechos de entrevistas com pessoas na rua, analisa-se o conhecimento que a grande maioria tem sobre o inseto, desmistificando crenças populares e respondendo as perguntas feitas com explicações científicas. "Essa é uma parte muito importante, já que a informação é uma arma eficiente no controle desses insetos e para se investir na prevenção das doenças que elas transmitem", afirma Roberto Eizemberg.

O grupo participa ainda do Espaço Ciência Viva, museu de ciências que funciona num galpão cedido pelo governo do estado na Praça Saens Peña, na Tijuca. Lá, e em visitas a escolas, eles difundem os conhecimentos não só sobre baratas, mas também sobre outros insetos. "Uma de nossas preocupações é desmistificar a visão, comum entre crianças e adolescentes, de que inseto é necessariamente ruim.

Para isso, levamos informações sobre borboletas e abelhas, e mostramos as espécies de baratas silvestres, que têm aparência bem diferente das espécies urbanas populares", acrescenta Paula. Dessa forma, as crianças acabam se encantando e perdendo o medo. "Além disso, conhecendo melhor baratas e outros insetos é a melhor, e mais educativa, forma de prevenir sua proliferação", finaliza.

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