sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Posição internacional forte e mais atenção à biodiversidade no país

Por Ligia Paes de Barros, da WWF Brasil

Na 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 10/CDB), que acontece em outubro no Japão, a expectativa é que o Brasil influencie positivamente os países-membro para chegar a posicionamentos fortes sobre conservação da biodiversidade. No Brasil, é urgente a necessidade de diversos setores da sociedade brasileira se sensibilizarem para a importância do tema e apoiar a conservação da natureza.

Esse foi o tom do debate na primeira sessão do Seminário para Atualização para Jornalistas, organizado pelo WWF-Brasil, que teve como foco as metas nacionais de biodiversidade para 2010 e o Plano Estratégico da CDB para 2020.

Paulino de Carvalho Neto, chefe da divisão de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE), foi claro nas posições gerais que o Brasil vai defender na Conferência: para negociar um Plano Estratégico da CDB ambicioso o país irá exigir a regulamentação da transferência de recursos para países em desenvolvimento para investir no cumprimento dessas metas e ainda a assinatura de protocolo que garanta a repartição justa de benefícios e acesso aos recursos genéticos.

“Não podemos ter obrigações ambiciosas de redução da perda de biodiversidade no plano internacional sem compromisso dos países desenvolvidos de fornecer recursos adicionais para essa conservação”, aponta Paulino Carvalho Neto. “Nossa estratégia diplomática é que podemos cumprir metas ambiciosas se houver recursos financeiros para países em desenvolvimento. Queremos aumento do percentual da assistência aos países”, afirmou o representante do MRE.

Bráulio Dias, diretor de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), reforçou esta posição. “A transferência de recursos de países ricos para pobres tem se reduzido nos últimos anos e essa ajuda é fundamental”.

Os jornalistas, que não se esqueceram da decepção com os resultados da COP da Convenção de Clima em Copenhague no ano passado, questionaram os palestrantes sobre qual a expectativa de resultados concretos na Conferência de Biodiversidade.

“É preciso ter em mente que os problemas ambientais não serão resolvidos imediatamente com uma ‘canetada’ na COP 10”, foi a resposta de Bráulio Dias. “Os esforços de negociação da CDB são fundamentais por se entender que muitos aspectos dependem de acordo internacional, mas os resultados no campo tem uma defasagem de tempo, não são sentidos de imediato”, afirmou o diretor do MMA.

Envolvimento de diferentes setores da sociedade brasileira
Ao falar sobre a transferência de recursos internacionais, Dias chamou a atenção para um problema interno do país nesse sentido, afinal o Brasil, assim como todos os outros 192 países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica, chegarão à COP sem ter cumprido completamente as metas estabelecidas para 2010.

“A economia brasileira está crescendo e temos que começar a andar com as próprias pernas. Não se pode esperar que soluções venham apenas do dinheiro internacional. E nisso entra a responsabilidade da sociedade”.

Segundo o diretor de Biodiversidade, apesar de os recursos naturais prestarem um serviço enorme para a sociedade, os brasileiros parecem não ter noção disso. “É preciso que a questão ambiental deixe de ser tratada apenas pelo MMA ou ambientalistas. Todos os setores da sociedade se beneficiam da biodiversidade e têm que fazer a sua parte. Para conseguir acabar com a perda de biodiversidade é preciso ter uma mobilização geral da sociedade”, afirma Dias.

A cargo da mediação da mesa, Cláudio Maretti, superintende de conservação do WWF-Brasil, ressaltou a necessidade de o Brasil defender suas posições internacionalmente, pressionar os outros países a assumir compromissos, mas também ser um exemplo de conservação da biodiversidade.

“Quanto melhor for o exemplo dado pelo Brasil, que tem enorme potencial para liderar uma economia verde, mais legitimidade terá no momento de se posicionar na COP 10 da CDB”, concluiu Maretti.

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