quarta-feira, 23 de março de 2011

Ilusões e realidade para a sustentabilidade

Por Vilmar S. D. Berna*

Precisamos sonhar com a possibilidade de um futuro, de um mundo melhor, pois os sonhos nos motivam para a ação, nos animam a romper com a inércia e a suportar a dor do esforço no rumo a outro jeito de ser e estar no Planeta e na sociedade, ambientalmente sustentável e socialmente mais justo. Os sonhos nos dão energia para as boas práticas e a confiança de que é possível.

Entretanto, entre declarações de políticas e promessas ambientais e a realidade, existe um vazio proporcionalmente tão grande e profundo quanto nossa capacidade de sonhar. Um vazio que pode e precisa ser preenchido com gestão, planejamento, investimento de tempo e dinheiro. Entre os oito e o oitenta, em gestão ambiental, será preciso passar por um monte de outros números. Sonhar é relativamente fácil, difícil é colocar em prática. Então, é natural que entre a intenção e o gesto exista um tempo de maturação para acontecer.

O importante é demonstrar o movimento, saber valorizar e divulgar os bons resultados, mesmos pequenos, para renovar o incentivo e estimular o aumento na velocidade das mudanças, e também refletir sobre os maus resultados, pois pode ser o caso de precisar rever metas e objetivos. Se os sonhos forem pouco ambiciosos - apenas para produzir uma pequena mudança -, este vazio será menor e o esforço requerido para preenchê-lo de realizações também. Entretanto, os resultados também poderão ser pequenos e podem nem valer à pena, podendo produzir mais desgastes que levar a alguma mudança. E não adianta fazer pouco e tentar compensar depois no marketing, por que o tiro pode sair pela culatra, e uma reputação manchada é de difícil recuperação depois. Se for grande demais, por mais que se persiga o sonho, este sempre parecerá inatingível. Ainda assim poderá valer a pena para nos manter seguindo em frente, apesar das adversidades.

Muitas das grandes mudanças na Humanidade começaram de um pequeno desvio, como o empreendedorismo dos tropeiros arriscando-se no comércio ambulante entre as cidades da Idade Média e que resultaram no mercantilismo e no fim da estrutura feudal de poder.

Alguns sonhos podem ser sonhados sozinhos, e ainda assim serem possíveis de se realizar, como serem consumidores mais responsáveis, ou menos gananciosos e mais solidários. Outros precisam ser sonhados juntos para se tornarem realidade, como a construção de uma sociedade sustentável, requerendo de nós o esforço de sensibilizar e convencer aos demais.

Outros sonhos podem demorar gerações para acontecer, contando com o esforço e o engajamento de gente que ainda nem nasceu. As catedrais da Idade Média, por exemplo, levavam gerações para serem concluídas, e ainda assim pôde ser realizada por pessoas que sabiam que se não fizessem bem a sua parte, a geração que viria depois teria de começar do zero.

Um pouco como a mudança para a sustentabilidade. Nossa geração começou agora uma obra cujos frutos talvez só venham a ser colhidos em quantidade pelos que virão depois. Melhor isso que deixar como herança um Planeta esgotado, poluído e incapaz de sustentar a vida como a conhecemos.

Alguns se dão por satisfeitos apenas em reclamar imaginando que o mundo melhor que desejam deve começar no outro. Outros preferem se iludir com falsas promessas ou soluções milagrosas, em vez de encarar a realidade de que somos a raiz dos problemas do mundo e também podemos ser a solução, dependendo das escolhas que fizermos.

Precisamos ajustar nossas percepções para saber aproveitar as oportunidades como elas se oferecem e não como gostaríamos que aparecessem. E saber lidar com as frustrações e com a dor do esforço e da incapacidade de alcançar certos objetivos, por que talvez ainda não seja a hora ou ainda não estejamos prontos.

Para os que acreditam em divindades, é hora de pedir que nos acolham em nossas dores e angústias e nos salvem de nós mesmos. Entretanto, tal conforto espiritual não chega para todos. O que temos nas mãos é a possibilidade aqui e agora de arregaçar as mangas e trabalhar pelas mudanças, a partir de nós próprios, assumindo que somos os resultados de nossas escolhas, e que o nosso sucesso ou fracasso resultarão de nossos sonhos e da capacidade realizá-los.

* Vilmar é escritor, com mais de 20 livros publicados. Em 1996, fundou a REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental e edita a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente. Em 1996, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente – www.escritorvilmarberna.com.br e http://www.portaldomeioambiente.org.br/.

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