quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Áreas úmidas ajudam a preservar biodiversidade amazônica, diz pesquisa

Por Esterffany Martins, da Agência Fapeam

As áreas úmidas da Amazônia têm alto valor em comparação a outros ecossistemas, como áreas para produção de pesca, pecuária, agricultura e silvicultura. Esses ambientes atuam como tampões no ciclo hidrológico da região, uma vez que atuam como barreiras contra incêndios, estocam carbono (CO2), limpam a água e ajudam a preservar a biodiversidade – são habitats para plantas e animais. As informações são do projeto ‘Caracterização, classificação e avaliação do potencial de uso como base para uma política do manejo sustentável das áreas úmidas do Estado do Amazonas’, coordenado pela cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Maria Teresa Fernandes Piedade. 

O projeto foi desenvolvido via Programa de Apoio a Núcleos de Excelência em Ciência e Tecnologia (Pronex), uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). A pesquisa teve início no primeiro semestre de 2007, finalizou em 2011 e consistiu em conhecer e classificar as áreas úmidas e alagáveis. Os levantamentos foram feitos em rios da Amazônia. O grupo de pesquisa identificou propriedades físicas e químicas da água, composição das espécies de vegetais e as formas de uso compatíveis para esses ambientes. “Os dados do trabalho podem ajudar a planejar e orientar as políticas públicas de manejo sustentável do Estado”, pontuou.

No total, foram realizadas onze grandes expedições que cobriram municípios do Amazonas, como Tabatinga, Tefé e Santa Isabel do Rio Negro, distantes, respectivamente, 1.105 km, 575 km, e 846 km, além de outros pontos. Os pesquisadores cobriram os rios Japurá, Juruá, Negro e Tapajós. Ela destacou a importância da visita feita ao Rio Tapajós, uma vez que é um sistema de águas claras, o qual serviu de contraponto para os estudos, especialmente de vegetação. “Foi possível comparações mais precisas com os demais tipos de ambientes”, lembrou. 

Os dados são relevantes, de acordo com Piedade, porque estimativas indicam que 25% da Amazônia pertencem à categoria de áreas úmidas, são áreas de grandes extensões, com diferentes tipos e características. Consequentemente, afeta o potencial produtivo desses sistemas e o potencial econômico para a população. Ela explicou que, antes, não existiam levantamentos detalhados nem uma classificação destas áreas. 

Os resultados indicam que, como as áreas úmidas são ambientes onde as águas predominam um período longo do ano, essa característica ajuda a conter comunidades de plantas e animais específicos do local. Mas a pesquisadora alertou que esses lugares não podem ser confundidos com locais onde chove com frequência. Com a pesquisa também foi possível refazer a tipologia das áreas úmidas e alagáveis e refinar a classificação dentro de vários parâmetros, como físico químico, condutividade e pH, além de identificar os tipos de coberturas vegetais desses ambientes. 

“Atualmente, estamos elaborando uma tipologia para igapós e várzeas para poder destacar as diferenças dentro do mesmo de áreas úmidas. Pretendemos indicar as diferentes formas de uso pelo homem para cada uma delas”, informou. 



Alerta

Conforme a pesquisa, as áreas úmidas são altamente vulneráveis às mudanças hidrológicas provocadas pelo homem e às mudanças climáticas. A saída para a preservação, segundo Piedade, é uma política moderna e bem elaborada para o manejo sustentável, com base em levantamentos detalhados e classificações feitas com dados científicos.

Áreas Alagáveis

Piedade explicou que as áreas alagáveis são divididas em dois grandes grupos: várzeas e igapós. A várzea é associada a rios de águas brancas, tendo o Rio Amazonas/Solimões como o mais importante representante. Os igapós são regiões associadas aos rios de água preta ou clara, como é o caso do Rio Negro (água escura) e o Tapajós (água clara). A diferença entre esses rios é que os igapós nascem em regiões geologicamente muito antigas, consequentemente, não possuem muitos minerais para colocar no sistema e suas águas são ácidas. O resultado é que apresentam limitações para o crescimento de vegetação e para propósitos agrícolas.

“As várzeas são intensivamente usadas para agricultura, pois são associadas aos rios de água barrenta. Isso se deve ao fato de serem geologicamente recentes, ainda sofrem intensa ação de intemperismo pelo vento e precipitação. Durante esse processo, eliminam sedimentos ricos em minerais, como fósforo, potássio, nitrogênio que conferem fertilidade ao solo. Todavia, caso sejam utilizadas para práticas agrícolas de forma intensa podem sofrer prejuízos. Uma alternativa é usar pequenas áreas”, alertou.

Inundações na Amazônia

As áreas marginais ao longo dos grandes rios da Amazônia, conforme a pesquisadora, recebem um volume enorme de água durante o período de enchente. São mais de dez metros de altura em média entre o pico de seca e de cheia. Significa que a expansão lateral das águas durante as cheias atinge vários quilômetros de extensão em diferentes ambientes, como savanas e interflúvios. Todas essas áreas alagadas, periodicamente, são classificadas como áreas úmidas. Ela explicou que se essas áreas estiverem situadas ao longo dos grandes rios são chamadas de áreas alagáveis, ou seja, submetidas a grandes pulsos de inundação.

Apoio da FAPEAM

Piedade informou que o Pronex foi importante para a concretização das expedições, pois foi possível reunir mais de 40 pesquisadores, entre estudantes de mestrado e doutorado, bem como a realização de workshops para a divulgação dos resultados. “A FAPEAM está de parabéns pela atitude cooperativa, conferindo suporte irrestrito”, destacou. 

Sobre o Pronex
Criado pela FAPEAM, em parceria com o CNPq, este programa consiste em apoiar com recursos financeiros grupos de alta competência que tenham liderança e papel nucleador no setor de atuação em Ciência e Tecnologia no Amazonas.



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