Igor Guimarães
“Moratória” da derrubada de florestas em Minas Gerais. Essa foi uma solução apontada pela superintendente- executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Dalce Ricas, para frear o ritmo do desmatamento, que tem como uma das principais causas a produção do carvão vegetal.
O produto é usado principalmente para alimentar os altos-fornos da indústria de siderurgia. “Nossa preocupação com o consumo de carvão nativo cresce a cada dia”, afirma Dalce. A gravidade do problema é reconhecida pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). Por questões de conflitos entre a legislação federal e estadual, o órgão foi obrigado a autorizar o uso alternativo de 156 mil hectares de solo em propriedades particulares. Segundo o diretor de controle e fiscalização do órgão, Júlio de Oliveira, estima-se que 90% dessa área liberada tenha sido destinada ao desflorestamento. “Muitos produtores adquiriram direitos para desmatar”, afirma. O problema do uso do carvão vegetal foi tema de audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa, na última quinta. Na avaliação de Dalce, a alternativa da moratória poderia ser aplicada pelo menos nos casos das indústrias produtoras do ferro-gusa, apontadas como vilãs do desmatamento.
Além da derrubada de vegetação, ainda provocam a poluição do ar. “É preciso dar tempo para as matas se recuperarem nas áreas mais críticas”, reclama Dalce. Um alternativa para manter os altos-fornos das empresas do setor em funcionamento seria o investimento maior em florestas de replantio. Sobre a recuperação das matas nativas, Dalce sugere incentivos fiscais ou o pagamento de cotas em dinheiro aos donos de terra que preservarem a vegetação, tal como acontece na Costa Rica. Parte da produção de carvão vegetal em Minas provém do cultivo de eucaliptos, mas uma distorção no mercado serve para estimular a derrubada de árvores nativas, inclusive em Estados fronteiriços, como Goiás e Bahia. Na Grande Belo Horizonte, informa a Amda, o metro cúbico do carvão oriundo de madeira nativa custa R$ 110, enquanto o de eucalipto custa R$ 120. A diferença é ainda maior no Triângulo Mineiro. O carvão retirado do Cerrado e da Mata Atlântica sai por R$ 90, contra R$ 115 do eucalipto.
Além da devastação decorrente da produção de carvão, o diretor de controle e fiscalização do IEF, Júlio Silva de Oliveira, aponta outras causas para a degradação de áreas de floresta.
O crescimento dos grandes centros urbanos é um deles. Terrenos periféricos de regiões metropolitanas, diante da falta de planejamento, invadem áreas verdes por meio da criação de novos loteamentos e favelas. Segundo ele, o desmatamento proveniente da produção de carvão vegetal representa em torno de 10% da derrubada de árvores. Outra causa para o desflorestamento é o agronegócio.
Um dos pilares da economia no Triângulo Mineiro, a atividade foi responsável por tornar a deixar a região com um dos menores índices de vegetação nativa em Minas Gerais, pois demanda grandes áreas para pastagens e plantio. A produção de cana-de-açúcar e a criação de gado, diz Oliveira, estão entre os maiores responsáveis pelo desflorestamento. Mesmo assim, 8.000 ha de vegetação foram derrubados no ano passado no Triângulo.
Fonte: O Tempo
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