sábado, 12 de agosto de 2006

Cidades mineiras ignoram o seu lixo

Belo Horizonte, 12/08/06

Renata Nunes

A coleta seletiva no país cresceu 38% nos últimos dois anos e cerca de 25 milhões de brasileiros têm acesso a esse tipo de programa operado pelas prefeituras. Mas, apesar da evolução, os números ainda estão distantes do ideal, como aponta a pesquisa Ciclosoft 2006 do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre).

Apenas 3,16% dos municípios mineiros possuem programas de recolhimento seletivo do lixo. Ou seja, 27 das 853 cidades do Estado. O índice é inferior ao nacional (6%), no qual estão incluídos 327 municípios. “Em muitas prefeituras, temos baixo nível de capacitação técnica dos profissionais envolvidos com limpeza urbana e escassez de recursos financeiros oriundos da má gestão. Somado a isso está a resposta lenta da população aos investimentos na área”, comentou o diretor-executivo do Cempre, André Vilhena. A coleta seletiva é um sistema de recolhimento de materiais recicláveis – como papel, plástico, vidro, metais e produtos orgânicos – e aparece em diferentes modalidades.
Previamente separados na fonte geradora, os produtos passam por uma triagem e, então, são encaminhados para cooperativas ou vendidos diretamente às indústrias recicladoras.
Segundo a técnica da divisão de saneamento da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Melissa Seixas Lima, a abrangência dos programas em Minas, como no resto do país, ainda é pouca porque a questão do lixo não evoluiu. “Há uma cultura errada e antiga. As pessoas depositam lixo comum nas ruas e, depois, ele segue para um local de exposição inadequado, os chamados lixões”, comentou. De acordo com ela, o trabalho de conscientização da população sobre a importância da coleta seletiva é de longo prazo e só tem um efeito prático em pelo menos 15 anos. “O grande caminho é a educação, o trabalho nas escolas. As prefeituras também não podem deixar morrer esses programas. Eles trazem economia em processos produtivos e melhoria para o meio ambiente, já que ajuda a diminuir a geração de lixo como um todo”, reforçou. Segundo Vilhena, a pesquisa mostrou um engajamento crescente das prefeituras e um aumento das parcerias com as cooperativas. Isso significa redução de custo nos programas de coleta seletiva e melhoria de renda para população carente que busca a atividade como alternativa. De acordo com ele, estimativas apontam mais de 500 mil pessoas trabalhando como catadores no país. Em função disso, ele defende a aprovação de um projeto de lei, em tramitação no Congresso Nacional, que prevê a regulamentação dos resíduos sólidos e reconhece as cooperativas como atores importantes na atividade. Do total dos programas pesquisados, 43,5% mantêm relação direta com cooperativas de catadores.

Deliberação no Estado

A deliberação normativa 52, de 2001, exige que todos os municípios, independentemente do porte, implantem sistemas adequados de disposição final para os resíduos sólidos. De acordo com a assessoria de comunicação da Feam, 562 municípios ainda possuem lixões. Setenta por cento do lixo do Estado, vem de cidades com mais de 30 mil habitantes (81 no total) e todas deveriam trabalhar com aterros sanitários. “Quando acabam os lixões, os catadores saem de locais inadequados e são reinseridos na sociedade. Enquanto no Brasil não se definir a disposição final dos resíduos sólidos, a coleta seletiva ainda fica prejudicada”, se pronunciou o órgão por meio de sua assessoria.

Fonte: O Tempo

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