segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Temporada de incêndios mal começou

Belo Horizonte, 06/08/06

Igor Guimarães

Depois de um mês de julho de intenso registro de incêndios florestais em unidades de conservação mineiras, brigadistas e bombeiros de plantão tiveram um período de trégua na semana passada. A chegada de uma frente fria ao Estado provocou chuvas e deixou o tempo mais úmido. Portanto, menos propício ao fogo. Mas essa calmaria não ilude os integrantes da força-tarefa estabelecida para atuar no combate às chamas nesta época do ano, pois eles sabem que o problema das queimadas mal começou.

Até a última sexta, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) registrou 1.386 focos de calor desde o dia 1º de julho, data da implantação da força-tarefa responsável por monitorar os incêndios no Estado. O número é inferior aos registros de setembro e outubro dos últimos quatro anos (ver quadro), época em que a aridez climática tende a se agravar. Segundo o Programa de Combate a Incêndios Florestais (Previncêndio), cerca de 66% dos 12.444 focos de incêndio registrados em Minas em 2005 – entre julho e novembro – ocorreram em outubro. No mesmo mês, mas em 2004, foram 3.242 focos, o equivalente a 30% dos 10.846 focos de calor registrados no período da seca.

Para este ano, a expectativa é que uma ajuda extra venha dos céus. “Nossa esperança é que tenhamos bastante chuva em setembro para que tenhamos mais umidade do ar no mês seguinte”, diz o coordenador do Previncêndio e diretor de controle e fiscalização do IEF, Júlio Silva de Oliveira. A ação de agricultores durante a limpeza de pastos ou de restos de cultura, por meio da queima controlada, é um dos principais causadores de incêndios. O procedimento é permitido, mas nem sempre é feito com os critérios exigidos pelos órgãos ambientais. “Temos percebido uma melhora na maneira de se fazer queimadas controladas, em função das campanhas de conscientização e pela aplicação de multas para os infratores”, diz Oliveira.
Metal e vidro - Incêndios também são provocados por atos de displicência e falta de educação, como os praticados por motoristas e passageiros de automóveis, ao atirar pontas de cigarro, garrafas e latas de bebidas na beira das estradas. O vidro e o metal, em meio à vegetação seca, têm o mesmo potencial incendiário que a cinza de um cigarro, alerta o coordenador do Previncêndio. “Esses objetos têm a capacidade de potencializar os raios solares, tal como uma lente de aumento, e causar a combustão do mato."Pior que a displicência, só mesmo o vandalismo. “Há pessoas que sentem prazer na possibilidade de ver grandes incêndios”, diz o gerente do Parque Estadual do Itacolomi, o engenheiro florestal Alberto Vieira de Melo Matos.

Segundo o IEF, 134 hectares de campos rupestres – ou de altitude – da reserva foram queimados no último dia 20 de julho. O combate às chamas durou quase três dias e demandou o empenho de dezenas de brigadistas, bombeiros, helicópteros e aviões especiais. A suspeita é de incêndio criminoso. O foco começou na parte baixa do parque, às margens de uma estrada do distrito de Passagem de Mariana. O local tem uma bica d’água e serve de ponto de parada de carros. O fogo alastrou e atingiu a área do parque. “Não sei o que se passa na cabeça de uma pessoa que chega no mato e coloca fogo. Parece existir um ímpeto só para ver a chama grande”, afirma o gerente do parque. Matos acredita que possa ocorrer uma mudança de comportamento das gerações futuras, pois, para ele, as crianças estão sensibilizadas em relação à necessidade de preservação do meio ambiente. “O problema é o adulto, que é difícil de mudar a mentalidade”, diz.

Fonte: O Tempo

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