quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Região Oceânica sofre com infestação por caracóis africanos

Niterói

Isabel de Araújo

A infestação de caracóis africanos (Achatina Fulica) continua a trazer transtornos para os moradores de Niterói. De acordo com informações do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) este tipo de molusco já foi identificado em todos os bairros da cidade, inclusive nos canteiros da Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres (Praia de Icaraí), na Zona Sul de Niterói. Mas entre os pontos mais críticos, estão as ruas da Região Oceânica.

Em Camboinhas, Piratininga e Itaipu, bairros que possuem muitos terrenos baldios, a rotina dos moradores já sofre os impactos das infestações. Toda semana, dezenas destes animais são recolhidos em baldes. O casal Luiz e Maria Marins Antônio contou que semanalmente saem pelas ruas de Camboinhas munidos de luvas, pá e balde para catar os moluscos. Na tarde da última terça-feira, eles incineraram o equivalente a um balde de oito litros em frente de casa.
"Isso aqui é uma praga. Todo dia que saio para caminhar na Praia encontro dezenas deles passando saindo dos terrenos baldios", lembrou Luiz. Ainda segundo ele, em sua rua há uma casa que está vazia, e para conter a proliferação dos caracóis, Luiz e sua esposa entraram em contato o dono do imóvel e pediram a chave para poder matar os bichos que estão se reproduzindo no quintal.
A Sociedade Pró Preservação Urbanística e Ecológica de Camboinhas (Soprecam) tem alertado aos moradores sobre os riscos que estes caracóis representam e pedido que entrem em contato com a sede em caso de identificação da espécie, para que funcionários os recolham de maneira adequada.

Contaminação
Segundo o CCZ, o caracol africano pode transmitir duas doenças: a angiostrongilíase mengioencefálica humana e angiostrangilíase abdominal. No primeiro caso, são provocadas fortes dores na cabeça e constante rigidez na nuca e distúrbios do sistema nervoso, e no segundo, perfuração intestinal e hemorragia abdominal, cujos sintomas são dor abdominal, febre prolongada, anorexia e vômitos.
A ingestão ou a simples manipulação dos caracóis pode causar a contaminação, pois os vermes transmissores das doenças são encontrados na secreção do molusco. E ao se instalar em hortas e pomares, podem contaminar frutas e verduras. No entanto, o chefe do CCZ, Francisco Faria, enfatizou que embora a reprodução destes moluscos tenha saído do controle na cidade, não foram identificados ainda caracóis portadores dos vermes responsáveis por estas doenças. Faria ainda esclareceu que a cada dois meses é coletado material para amostra e enviados para a Fundação Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
"Desde 2002 fazemos uma coleta de material para teste na Fiocruz. Somos pioneiros neste tipo de teste e até hoje não foi localizado um caso de foco de doença na cidade", garantiu Faria, destacando que muitos acham que esta espécie se trata erroneamente de caramujo, mas que, por se reproduzirem em terra seca, são caracóis. Francisco esclareceu ainda que o CCZ não tem um programa para combater este animal, e afirmou que a forma mais eficaz de matá-los é queimando ou armazenando e jogando sal grosso, para desidratá-los até a morte.
"Para exterminar grandes quantidades a melhor forma é jogar álcool ou gasolina e atear fogo. No caso de matar com sal grosso, o custo do extermínio fica mais caro", comentou Faria.

Infestação
A praga dos caracóis gigantes chegou a Niterói no início de 2005. Segundo relatos dos moradores da Região Oceânica, os moluscos apareceram no início de janeiro, logo após as chuvas e, segundo eles, começaram a se reproduzir com muita rapidez. O CCZ esclareceu que esta espécie por ter sido trazida para o Brasil na década de 80, por pessoas que pretendiam comercializar o caracol para o ramo alimentício em substituição ao escargot, mas como não teve boa aceitação no mercado, foi solto no meio ambiente. "Além de não possuir predadores naturais, o molusco é hermafrodita, o que facilita a reprodução. Um caracol pode produzir cerca de 400 ovos", contou Faria. Esses animais, ainda segundo ele, têm preferência por locais secos e saem para comer somente no entardecer por não gostarem de sol. Os africanos medem de 10 a 20 centímetros e pesam cerca de 200 gramas. Essa espécie de caracol é nativa do leste e nordeste da África.
Em outubro do mesmo ano, as infestações começaram a aparecer no Centro da cidade. O ponto de maior incidência foi a Praça do Rink, e a quantidade de animais que habitavam o entorno preocuparam os usuários do espaço.

Fonte: O Fluminense

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