Transtornos em animais migratórios também resultariam do aquecimento. Aves seriam primeiros animais a sentir as mudanças.
Os transtornos nos ciclos reprodutivos e migratórios dos animais, e o ressurgimento de doenças extintas são alguns dos efeitos da mudança climática que estão começando a ser vistos no planeta, afirmam vários cientistas. Os especialistas citam as aves como exemplo dos primeiros animais a sentirem as conseqüências do aquecimento global. Na Espanha, em 2006 os termômetros marcaram quase um grau e meio a mais do que em qualquer outro ano da história, segundo dados oficiais. Um aumento da temperatura média provoca mudanças nos ritmos migratórios dos pássaros e faz com que eles tenham problemas durante os períodos de procriação, apontaram os cientistas.
O Parque de la Albufera, na região mediterrânea, registrou nos últimos meses uma queda na chegada de patos, gaivotas, cegonhas e garças procedentes do centro e do norte da Europa. Localizado a cerca de 10 quilômetros da cidade de Valência, o parque abrange um ambiente úmido e uma parte do litoral mediterrâneo. É uma das áreas da Espanha com maior riqueza de aves. A diminuição da chegada das aves deve-se, segundo os cientistas, ao fato de que as temperaturas na Europa continuam altas para a época do ano (inverno no hemisfério norte), e os pássaros não sentem a necessidade de emigrar. "Esta é uma das temporadas na qual menos aves chegaram dos últimos 20 anos" ao La Albufera. Nesta época, o parque costumava abrigar entre 30.000 e 40.000 aves, enquanto o número atual ronda as 20.000, disse Juan Antonio Gómez, que trabalha em um centro de recuperação de fauna da área. Também na região valenciana, foi detectada uma antecipação de duas semanas no ciclo reprodutivo do chapim-real, um ave pequena que reside na comunidade, afirmou o biólogo Emilio Barba. Para Barba, professor da Universidade de Valência, as conseqüências do aquecimento global são agravadas ainda mais pela velocidade com a qual o fenômeno provocado pelo homem está acontecendo. "A adaptação dos animais requer muito tempo, mas a mudança está sendo tão rápida que algumas espécies não conseguem enfrentá-la", disse.
O aquecimento global provoca ainda um deslocamento para o norte de determinadas espécies, motivo pelo qual algumas aves que até alguns anos atrás só eram vistas na África estão começando a se instalar na Espanha. Isso pode levar, no médio prazo, ao ressurgimento de doenças extintas ou que nunca haviam existido em uma determinada região, destacou Ricardo Jiménez, diretor do serviço de Controle de Pragas da Universidade de Valência. O cientista explicou que temperaturas mais altas podem favorecer a instalação de espécies, como mosquitos, transmissoras de doenças que não existiam na Europa ou que haviam desaparecido há muito tempo do continente, como a malária, a febre amarela, o dengue e o vírus do Nilo ocidental. Acrescentou que, com uma temperatura de 24 graus, o mosquito comum das cidades demora 15 dias para evoluir do ovo à idade adulta. Com dois graus a mais, o ciclo se reduz a 8 dias.
A preocupação com a mudança climática inquieta tanto os cientistas como as autoridades da Espanha. O Governo do país aprovou hoje uma iniciativa sobre Qualidade do Ar e Proteção da Atmosfera a fim de garantir a qualidade do meio ambiente e reduzir a poluição. Há nove dias, a Comissão Européia, órgão executivo da União Européia, alertou em estudo que o litoral mediterrâneo enfrentará no futuro grandes secas, perdas na agricultura e outros problemas relacionados ao aquecimento do planeta. Além disso, o relatório revelou que a Espanha e outros países do sul da Europa correm o risco de deixar de ser grandes destinos turísticos, pois os visitantes devem optar pelo norte do Velho Continente, onde os efeitos da mudança climática serão menos devastadores.
Fonte: Globo.com
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