quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Carregador de problemas

Caramujo-gigante africano, além da dor de cabeça ambiental, torna-se preocupação da saúde pública. Estudo aponta que espécie pode transmitir ao homem parasitas de graves doenças. (Gutemberg Brito/Fiocruz)

Washington Castilhos

O que era para ser solução virou dor de cabeça. Trazido para o Brasil há duas décadas como uma alternativa para substituir o escargot, o caramujo-gigante africano (Achatina fulica), além de representar grande dor de cabeça para o meio ambiente e a agricultura, tornou-se alvo de preocupação da saúde pública. Como a espécie acabou não servindo como opção culinária, os criadores começaram a se livrar de maneira inadequada dos exemplares, soltando-os em rios, matas e terrenos baldios, onde se multiplicaram rapidamente. Hoje, o Brasil está vivendo a fase explosiva da invasão e uma grande preocupação é que o caramujo possa servir como vetor de parasitas causadores de doenças fatais, como a meningite eosinofílica e a angiostrongilíase abdominal.

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) está monitorando a presença de parasitas em caramujos pelo país. “Temos encontrado exemplares grandes, a população está muito densa”, disse a bióloga Silvana Thiengo, pesquisadora do Laboratório de Malacologia do IOC e responsável pelo Centro Nacional de Referência em Malacologia Médica. “O ciclo da doença envolve o molusco e um roedor. O homem pode entrar acidentalmente no ciclo e ser infectado quando ingere o molusco contaminado com as larvas ou quando o manipula e leva a mão à boca. Ou ainda quando, sem os devidos cuidados, come hortaliças contaminadas com larvas do parasita, que saem no muco do molusco”, advertiu.

Por meio da técnica de digestão artificial, Silvana e colegas têm examinado centenas de caramujos, enviados pelas secretarias de saúde de diversos Estados. “Já encontramos larvas de parasitas de aves e de outros animais domésticos. Mesmo sendo até agora apenas de interesse veterinário, o fato indica que a população de caramujo africano já está inserida no ciclo dos parasitas que vivem no Brasil. Nossa maior preocupação é que, pela proximidade com residências, ele possa vir a se infectar com outras formas de parasitas e se tornar um hospedeiro no ciclo de doenças humanas”, disse. A técnica de digestão artificial consiste em digerir o molusco em uma solução composta de ácido clorídrico e pepsina, encontrados no suco gástrico do ser humano e também em roedores. “Em uma ingestão natural, a larva é liberada dos tecidos do molusco e vai até o intestino humano, onde se tornará um verme adulto. Se o molusco que recebemos chegar aqui com a larva, ele irá liberá-la durante o processo de digestão artificial. Com isso, saberemos o tipo de parasita que ele carrega”, explicou Silvana. Dois tipos de parasitas perigosos podem ser encontrados na secreção do caramujo-gigante africano. Um deles é o Angiostrongylus costaricensis, causador da angiostrongilíase abdominal, doença que pode resultar em morte por perfuração intestinal e peritonite e que ocorre principalmente no Sul do Brasil. O outro é o Angiostrongylus cantonensis, causador da meningite eosinofílica – doença endêmica na Ásia pelo hábito nativo de comer caramujos, peixes e crustáceos crus, mas há relatos da doença nos Estados Unidos e no Caribe.

Adaptação mundial

Cerca de duas décadas depois de ser introduzido no Brasil, o caramujo-gigante africano está presente, além do Distrito Federal, em 23 dos 26 Estados, incluindo a região amazônica e reservas ambientais. No total de 5.561 municípios brasileiros, há registros da presença do caramujo africano em 439 – cerca de 8%. Um dos Estados com maior infestação é São Paulo. No Rio de Janeiro, a espécie está presente em 57 dos 92 municípios. O Brasil não é o único país onde a espécie Achatina fulica conseguiu se adaptar. Nos Estados Unidos, o molusco foi introduzido no Havaí, em 1939, chegou à Califórnia no final da 2ª Guerra Mundial e alcançou a Flórida em 1975. “No Brasil, há uma serie de restrições ambientais para o combate ao caramujo. O uso de pesticida tem implicações ambientais muito sérias, pois pode matar toda a fauna. A saída deve ser a coleta e a educação e informação à população”, afirmou Silvana Thiengo. Para a pesquisadora do IOC, como não existe moluscicida ou método para eliminar o caramujo em grande número sem danos para o meio ambiente, a solução é o controle por parte da população.

Fonte: Agência Fapesp

2 comentários:

Unknown disse...

Gostaria de ter mas informação com relação ao ciclo que origina a angiostrongilíase. Estou a tentar terminar minha monografia mas tenho enfrentado muitas dificuldade por não ter profissionais que possam me orientar com relação a Achatina Fulica e os seus vermes que causam doença ao homem. só consegui evidenciar apenas um breve comentário quanto ao ciclo que tem como principal hospedeiro o rato... estou ficando perdida e gostaria de continuar com minha pesquisa... Desde já grata pela atenção. caso tenha algo refrente espero me informar por favor.

Unknown disse...

Gostaria de ter mas informação com relação ao ciclo que origina a angiostrongilíase. Estou a tentar terminar minha monografia mas tenho enfrentado muitas dificuldade por não ter profissionais que possam me orientar com relação a Achatina Fulica e os seus vermes que causam doença ao homem. só consegui evidenciar apenas um breve comentário quanto ao ciclo que tem como principal hospedeiro o rato... estou ficando perdida e gostaria de continuar com minha pesquisa... Desde já grata pela atenção. caso tenha algo refrente espero me informar por favor.