quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Franceses criam "vale-poluição"

Pedaço de papel compensa as emissões de dióxido de carbono. Dinheiro da compra é investido em projetos ambientais

Procurando um presente para recém-casados com sensiblidade ambiental? Tente isto: um vale de 180 euros (US$ 234) em emissões de carbono. Menor que uma torradeira, porém mais significativo, esse pedaço de papel compensará as nove toneladas de dióxido de carbono (CO2) correspondentes ao volume de poluição que os noivos provavelmente emitiriam numa festa de casamento para 150 convidados e no vôo para a lua-de-mel. O vale, lançado por uma empresa francesa, a Climat Mundi, é o único em uma linha crescente de produtos para o mercado de emissões de carbono. Em termos simples, emissões de carbono são como um imposto que pessoas com consciência ambiental pagam por livre vontade, devido à preocupação de que o custo de seu estilo de vida para o meio ambiente não esteja refletido no preço dos combustíveis fosséis.

A queima de petróleo, gases e carvão emitem dióxido de carbono (CO2), que elevam a temperatura na atmosfera. Este efeito estufa provocado pelo homem, responsável pelo aquecimento global, está provocando mudanças de potencial catastrófico no clima da Terra. Alterações no fluxo das águas, inundações, o encolhimento da cobertura de neve, o derretimento das geleiras e de solo permanentemente congelado, furacões e tufões: estes são os elementos esperados na mudança climática do século 21. A compensação das emissões de carbono é uma prática que começou há doze anos e inclui entre seus representantes o ex-vice presidente americano Al Gore, realizador do documentário "Uma Verdade Inconveniente", indicado ao Oscar, que alerta sobre os perigos do aquecimento global.

Para compensar a inevitável poluição por CO2, investe-se em projetos para redução ou eliminação dessas emissões. Por exemplo, ao sediar o encontro do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC), entre 29 de janeiro e 1º de fevereiro, o governo francês calculou que a reunião geraria 1.150 toneladas de CO2 ou seu equivalente em outros gases estufa, principalmente devido ao transporte aéreo. Para ajudar no cálculo, cada um dos 500 cientistas participantes do encontro preencheram um questionário, detalhando seu intinerário ou meio de viagem. Para garantir que a reunião manteria sua "neutralidade de carbono", a França reduziu 1.150 toneladas de CO2 em outra parte, financiando fornos de cozinha na zona rural da Eritréa, no norte da África. Estes fornos são aquecidos com madeira, o combustível tradicional do país, mas têm uma eficiência energética 50% superior aos modelos anteriores. Corporações e pessoas que quiserem diminuir a culpa por consumir carbono, ou obter credenciais verdes, podem comprar vales de compensação através de intermediários.

Alguns investem em mega-projetos estrangeiros, como iniciativas em biogás na China que buscam diminuir a dependência em carvão de um dos países mais populosos do mundo. Geralmente, esquemas como esse são iniciativas do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ou da iniciativa Implementação Conjunta do Protocolo de Kyoto. Outros esquemas são menores, de alcance local, mais apropriados a iniciativas individuais. A companhia britânica Carbonneutral, por exemplo, calcula que dirigir um carro movido a gasolina, com motor que consome entre 1,4 e 2,0 litros, por uma distância de 10.000 quilômetros, gera em torno de 2 toneladas de CO2 por ano. Segundo a empresa, com 14,80 libras ou US$ 29,6, uma pessoa poderia ajudar na plantação de árvores na floresta nativa britânica, que absoveriam estas emissões, neutralizando o dano. A abrangência da inovação das compensações está em despertar debates sobre a qualidade de alguns esquemas.
No início do mês, o governo britânico iniciou uma consulta sobre padrões e um código de prática como salvaguarda contra excessos ou decepções que prejudicariam uma atividade promissora. "As pessoas precisam se certificar que a forma como compensam (seu consumo) realmente faz diferença", disse o Secretário do Meio Ambiente, David Milliband.

Alister Scott, porta-voz do Grupo de Energia da Universidade de Sussex, um grupo independente que pesquisa projetos de energia, disse que as compensações são "bem intencionadas", mas de efeito variável. Os melhores esquemas são aqueles que constróem capacidade. Em outras palavras, geram reduções de emissões futuras por conta própria. "Pegar, simplesmente, um número exato de CO2 e pensar que você está resolvendo o problema é um pouco ingênuo", disse Scott. "Não é o suficiente, você precisa olhar a questão de forma crítica".

Fonte: Globo.com

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