quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Álcool pode inspirar luta contra aquecimento

Para brasileiro José Goldemberg, tecnologia está pronta para uso em outros países. Aumento de plantações poderia levar combustível a substituir 10% da gasolina mundial.

A maior revista científica dos Estados Unidos publica nesta semana uma avaliação dos 30 anos de uso do álcool de cana como combustível no Brasil, feita pelo físico José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP. A conclusão do artigo de Goldemberg na revista "Science" é ambiciosa: para ele, o programa brasileiro de álcool pode servir de modelo na busca por uma alternativa renovável de energia para outros países do Terceiro Mundo, e a tecnologia já estaria madura o suficiente para substituir 10% da gasolina consumida hoje no planeta. O álcool brasileiro tem atraído a atenção dos que procuram uma alternativa aos combustíveis fósseis (os derivados de petróleo e carvão), considerados os principais culpados pelo aquecimento global. E isso porque, ao contrário dos combustíveis fósseis, a queima de álcool parece ser um jogo de zero a zero: o dióxido de carbono (principal gás do efeito estufa) liberado pela combustão do álcool num ano seria reabsorvido pelas plantas que crescem na safra seguinte. Assim, não sobraria dióxido de carbono na atmosfera, o que impediria o agravamento do calor global.

Em seu artigo, Goldemberg, que é um dos ícones da pesquisa e da diplomacia brasileiras na área ambiental e de energia, argumenta que o álcool é vantajoso por se tratar de uma tecnologia já dominada e aplicada em larga escala. O mesmo não ocorre com outras possíveis fontes de energia limpa ou renovável, como a eólica (dos ventos) e a solar, as quais ainda lutam para se tornar economicamente viáveis. Muitos pesquisadores vêm com preocupação o foco em biocombustíveis como o álcool e o biodiesel, já que, para expandir esses tipos de lavoura, há o risco de desmatamento em áreas de fronteira agrícola - o que liberaria mais dióxido de carbono das árvores derrubadas na atmosfera, agravando o problema em vez de solucioná-lo.
Goldemberg, no entanto, argumenta que é possível produzir álcool suficiente para substituir 10% da gasolina produzida no mundo com uma modificação relativamente pequena da atual área cultivada no planeta. Segundo seus cálculos, essa meta seria atingida se a área plantada de cana-de-açúcar crescesse em 30 milhões de hectares (passando a um total de 50 milhões de hectares). Em comparação, a área já usada para fins agrícolas no mundo hoje ultrapassa 1 bilhão de hectares.

Para o físico, a produção de álcool brasileira alcançou a maturidade tecnológica e econômica e poderia ser facilmente replicada em outros países com condições de produzir cana em seu território como forma de substituir a gasolina em seus veículos.

Fonte: Globo.com

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