Luís Mansuêto
Quando você deseja saber se está com alguns quilinhos a mais ou a menos, basta pesar-se em uma balança. O processo pode até ser simples para você, mas imagine fazer o mesmo para determinar o peso de centenas de árvores (biomassa) - algumas com mais de cem - de toda a floresta amazônica. Não será nada fácil. Para isso seria necessário cortar e pesar todas as árvores, o que não é bem o que se deseja, ainda mais em tempos de aquecimento global.
A esse processo de pesagem, chama-se medida direta. Como não é possível fazer o mesmo com as árvores, existem modelos matemáticas (alométricos), fórmulas, que permitem calcular a biomassa a partir do diâmetro da árvore para, então, determinar se as árvores estão "ganhando peso" ao longo do tempo. Com as informações do peso das árvores é possível estimar a quantidade de carbono estocado na vegetação, que corresponde a 48% do peso seco. Segundo a pesquisadora responsável pelo trabalho, Carolina Volkmer de Castilho, doutora em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT), os dados são importantes para se determinar o papel da floresta no ciclo do carbono e sua importância para o clima global. "A floresta tem a capacidade de absorver e emitir carbono. É um ciclo contínuo. Com as medidas da biomassa arbórea é possível determinar quanto de carbono está estocado na vegetação. Dessa forma, poderemos calcular quanto, ao longo de um determinado período, ela está perdendo ou ganhando "peso". Assim, saberemos o que está sendo absorvido e/ou emitido para a atmosfera", explica. Durante o projeto, "Variação espacial e temporal da biomassa arbórea na Amazônia: subsídios para o entendimento do ciclo global do carbono em florestas tropicais", financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), aprovado no âmbito do Programa Primeiros Projetos (PPP) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), será avaliado o efeito do solo e da topografia na taxa de mudança da biomassa arbórea em uma escala intermediária (64 km²). Ou seja, saber como a biomassa varia no espaço e no tempo.
O projeto é uma continuação do trabalho de doutorado de Castilho, concluído em 2004. Na época foram estudadas 72 parcelas permanentes de floresta da Reserva Adolpho Ducke, uma área com mais de 50 km², localizada na zona Leste da cidade de Manaus (AM). Foram também analisadas, na época, a composição das espécies de árvores, verificado a quantidade, distribuição diamétrica, entre outros. Com as informações foi possível determinar a taxa de crescimento, mortalidade, além de poder calcular a taxa de mudança da biomassa, um dos principais objetivos do trabalho. Segundo Castilho, com o financiamento da Fapeam a pesquisa poderá fazer uma nova medição de todas as árvores após um intervalo de seis anos. "O ideal é refazer as medidas, anualmente, para os resultados serem relacionados com os eventos climáticos. O objetivo é relacionar um certo evento com a taxa de mudança de biomassa arbórea da floresta. Mas, como são muitas árvores, mais de 60 mil, o esforço é muito grande, tanto de recurso quanto de pessoal para fazer a medição", afirmou. Durante o projeto de doutorado foi visto que existe uma relação entre a biomassa, o solo e a topografia. A partir dessa relação será possível propor um modelo para estimar a biomassa de árvores para áreas maiores por meio dos dados de solo e topografia. Concluiu-se também que a variação temporal tem um componente espacial. No caso, as árvores em solos argilosos apresentam tendência de aumento de biomassa. O inverso foi observado em solos arenosos.
Pode-se incluir no modelo esses componentes para uma área maior e estimar como a biomassa mudará com o tempo. De acordo com Castilho, o projeto subsidiará outras pesquisas que trabalham com imagens de satélite ou modelos digitais de elevação do terreno. Ela diz que existem outros trabalhos que medem a quantidade de carbono que é liberado pela floresta para a atmosfera, por exemplo, o Programa de Larga Escala da Biosfera Atmosfera da Amazônia (LBA/Inpa). Contudo, a medição é feita de forma direta, por meio de aparelhos que medem as emissões de gases, por exemplo, CO2, em determinados locais da mata. Para isso, eles utilizam algumas torres distribuídas em reservas experimentais. A pesquisa também concluiu que a floresta teve um aumento da taxa de biomassa, confirmado por meio de outros estudos com florestas tropicais. Todavia, Castilho explica que apesar da notícia ser ótima, deve-se analisar com cautela. Isso porque o estudo foi feito no período de 2000 a 2002 e, depois, em 2004, após o el niño de 1998. "A elevação da biomassa pode ter sido uma recuperação do "peso perdido", já que o fenômeno causa mortalidade entre as árvores. Uma resposta é certa: a longo prazo, ainda não se sabe se a taxa continuará aumentando ou se é apenas um ciclo. Por isso, é fundamental a continuação do trabalho", informa.
De acordo com os dados do projeto, parte da variação espacial da biomassa também é influenciada pelo solo e pela topografia da região. No caso do solo, foi estudado a textura, ou seja, a quantidade de areia, argila e nutrientes. Na oportunidade, verificou-se que quanto mais argiloso o solo maior será a biomassa encontrada ao contrário do solo arenoso. Em relação à topografia, os dados utilizados foram o de altitude e inclinação do terreno. "Na região de Manaus, as características do solo estão muito relacionadas à topografia. Ou seja, quando se caminha das áreas baixas (baixios), próximas aos igarapés, para as mais altas e planas (platô) aumenta a quantidade de argila no solo. Nas áreas de platô, a floresta tem mais biomassa do que no baixio", explica.
Ciclo do carbono em florestas tropicais
Fonte: Assessoria de Comunicação do Inpa
Nenhum comentário:
Postar um comentário