Protótipo da casa feita com bambus e raspas de pneus, finalizado em sete dias a partir da limpeza do terreno
Casas construídas com bambus e raspas de pneus são menos poluentes e mais resistentes Uma casa que, no lugar de tijolos, tem uma estrutura de bambus envolta em uma argamassa elaborada com raspas dessa planta e de pneus.
Pode parecer inusitado, mas construções desse tipo já existem e podem ser até mais resistentes que as convencionais. Além das vantagens ecológicas, essas casas têm custo de produção reduzido e seu processo de construção é muito mais rápido. Esse projeto vem sendo desenvolvido desde 1994 por uma equipe de pesquisadores liderada pelo ex-professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Edson Sartori. Mas somente agora está se tornando um empreendimento, por meio da pesquisa de doutorado do engenheiro civil Thiago Galindo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
O bambu, além de ser abundante no Brasil, tem resistência mecânica bastante elevada e, por isso, pôde ser usado na construção. Essa resistência foi comprovada com a realização de testes pelo Laboratório de Materiais da Universidade Federal de Juiz de Fora. “Para se ter uma idéia, uma casa erguida com essa nova estrutura apresenta uma resistência dez vezes maior do que a necessária para suportar a laje e o telhado de uma habitação de um pavimento”, destaca Galindo. O material já é utilizado em construções em vários países do mundo, como a Colômbia, a China, a Índia e alguns da África. Outra vantagem do bambu é que se trata de um material renovável e, quando podado, cresce de novo em um ritmo bastante acelerado.
Solução para o descarte de pneus
O uso de pneus também contribui para o aspecto ecológico dessa nova argamassa. Por ser um material pouco degradável, seu destino após o descarte ainda é um problema. A possibilidade de reutilizá-lo na fabricação de casas poderia ajudar a solucionar a questão. “Alguns países europeus chegam a pagar para que levem pneus de seu território”, diz o engenheiro. Além disso, as raspas de pneu aumentam a quantidade de látex presente na argamassa. Assim, a nova casa se torna termoacústica, ou seja, não deixa passar muito barulho através de suas paredes ao mesmo tempo em que se mantém fresca quando a temperatura está quente ou aquecida quando a temperatura está fria. Outra propriedade do látex é tornar a argamassa hidrofóbica, isto é, dificilmente ela será atacada pela umidade e infiltração. Para difundir a tecnologia, foram construídas duas casas de 50 m² para habitação no município de Três Rios (Rio de Janeiro) e uma em Maceió (Alagoas), com a ajuda do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A construção, que geralmente leva de três a quatro meses, durou apenas dez dias até sua finalização. “Com a diminuição no tempo de fabricação, a casa tem uma redução de 40% no seu custo de produção, devido aos cortes com mão-de-obra”, ressalta. “Até agora, ainda não recebemos nenhuma reclamação dos moradores.” A argamassa, no entanto, ainda não está sendo comercializada. Galindo prevê que em junho de 2007 já esteja concluída uma fábrica para sua produção e ela finalmente entre no mercado. “A única desvantagem do produto é que, uma vez construído o projeto, existe pouca flexibilidade para alterações”, comenta. “Apesar disso, diante de tantas vantagens ecológicas e financeiras, acredito que ele seja bastante válido. Só o fato de evitar que se utilizem materiais como o cimento, que é altamente poluente, já seria um grande ganho para a engenharia civil.”
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