sábado, 3 de fevereiro de 2007

ONG quer nova matriz energética no Brasil

Relatório "Revolução Energética - Brasil" foi lançado nesta sexta-feira. No cenário, o país operaria com 50% de energia renovável em 2050

Na esteira dos alertas pessimistas com relação ao futuro ambiental do planeta após a divulgação do Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC), nesta sexta-feira (02) em Paris, o Greenpeace lançou o relatório "Revolução Energética - Brasil", onde propõe uma nova matriz energética para o País com ênfase em fontes de energias renováveis como eólica, biomassa e fotovoltaica. "O IPCC nos questionou duas coisas: o desmatamento da Amazônia e a nossa matriz energética. Estamos tentando dar a segunda resposta", conta o diretor de campanha do Greenpeace, Marcelo Furtado. O relatório foi realizado em parceria com o Grupo de Engenharia de Energia e Automação de Elétricas/ POLI-USP (GEPEA), com um programa de software da Europa, baseado no aumento populacional, crescimento do PIB e fontes e tecnologias de energia disponíveis.

O estudo do Greenpeace exclui fontes sujas de energia, óleo, carvão e nuclear. Em 2005, segundo o Greenpeace, a matriz energética se constituía desta forma: 84% hidrelétrica, 4% biomassa, 4% gás natural, 4% diesel e óleo combustível, 3% nuclear. No cenário de Revolução Energética da entidade, em que se trabalha com 50% de energia renovável, projeta-se para 2050 uma outra matriz, sendo 38% hidrelétrica, 26% biomassa, 20% eólica, 12% gás natural e 4% solar fotovoltaica (energia solar). Um cenário, diz Furtado, que "respeita os limites naturais". Questionado se o projeto é de fato possível, respondeu: "Sim, acho que é possível. Sei que é uma visão ambientalista, mas o próprio sistema de software que usamos nos apontava 'otimismos excessivos' quando não era viável." Entretanto, ressalta: "Precisamos de políticas públicas e vontade do governo para isso. E também de investidores. Trabalhamos com um ambiente que depende do governo e do investidor."

Economia

Furtado pondera que embora o custo inicial da energia renovável seja mais alto que o da convencional, no longo prazo a relação se inverte gradualmente, devido aos custos adicionais das emissões de CO2 dos combustíveis fósseis. A ênfase em medidas de eficiência energética, avalia o Greenpeace, resulta na economia de 413 TWh/ano (Terawatt hora por ano), o equivalente à capacidade de geração de mais de 4 usinas como Itaipu.
A entidade sustenta que o seu modelo é mais econômico do que a matriz projetada pelo governo a partir de dados da Empresa de Planejamento Energético (EPE), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia. Segundo o Greenpeace, o modelo governamental custaria R$ 530 bilhões por ano. "A matriz que constituímos tem um custo de R$ 350 bilhões. Desses R$ 180 bilhões de diferença, R$ 70 bilhões virão de eficiência energética, aquela energia economizada que não precisou gerar, e o restante (R$ 110 bilhões) pelo simples fato de termos conseguido fontes de energia com custo final mais barato", avalia Furtado.

Eficiência

De acordo com o Greenpeace, os resultados do estudo global indicam que, sob o cenário de Revolução Energética, a demanda mundial de energia pode ser reduzida em até 47% em 2050, com forte ênfase em medidas de eficiência energética. E diz que o setor de eletricidade será o pioneiro na utilização em larga escala de energia renovável. "Em 2050, cerca de 70% da eletricidade global será produzida a partir de fontes renováveis. Uma capacidade instalada de 7.100 GW produzirá 21.400 TWh/ano de eletricidade em 2050. No setor de aquecimento, a contribuição das renováveis pode chegar a 65% até 2050", considera o relatório, lembrando, ainda, que os combustíveis fósseis serão substituídos por tecnologias mais modernas, particularmente biomassa, coletores solares e geotérmicos.
Furtado finalizou considerando que há espaço para se obter essas conquistas e que o Brasil precisa trabalhar sua independência energética o quanto antes. "Há espaço para a gente economizar energia se tivermos um plano de economia bom. É importante se criar geradores de energia independentes. Afinal, não sabemos como estará a situação com os países que exportam energia para nós daqui até 2050", pontua.

Fonte: Globo.com

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