terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Sistema avalia gestão ambiental de atividades rurais

Claudio Morões

No Brasil, a diversificação de atividades alternativas agrícolas e não agrícolas, implementadas paralelamente aos tradicionais usos da terra, configura o que tem sido denominado recentemente de “Novo Rural”.

Diante dessa nova perspectiva de desenvolvimento rural sustentável, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, desenvolveram um Sistema de Avaliação Ponderada do Impacto Ambiental de Atividades Emergentes (APOIA-NovoRural) e, também um sistema de avaliação da qualidade do solo – “Módulo Complementar – Capacidade Produtiva do Solo”. O sistema APOIA-Novo Rural desenvolvido por Geraldo Stachetti Rodrigues e Clayton Campanhola, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, em 2003, integra 62 indicadores de sustentabilidade, aplicado à gestão ambiental de estabelecimentos rurais. A sua aplicação permite melhorar a gestão ambiental de atividades do meio rural, indicando os pontos críticos para correção do manejo, bem como os aspectos favoráveis das atividades, que contribuem para o desenvolvimento local sustentável. Os indicadores estão incorporados em diferentes aspectos, que passam pela preservação dos recursos naturais, pela gestão da propriedade e até pela geração de empregos no campo. Tudo é registrado e analisado pelo software em conjunto com os indicadores que compõem o sistema e que pode ser utilizado em qualquer área e tanto em produções orgânicas quanto convencionais.

De acordo com os resultados obtidos para o compartimento ambiental Solo, percebeu-se que apenas a análise química não foi suficiente para distinguir a qualidade do solo entre manejo orgânico e convencional. Por isso, foi desenvolvido em 2004, pelos pesquisadores Geraldo Stachetti Rodrigues, Pedro José Valarini e Clayton Campanhola, o Módulo Complementar para avaliação da qualidade do solo baseado em indicadores físicos e biológicos.“A partir daí, um novo projeto foi elaborado para validação desses indicadores, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para o período 2006 a 2008, que complementa a avaliação das propriedades químicas do solo”, diz o pesquisador, Pedro Valarini, coordenador desse estudo, realizado em duas microregiões do estado de São Paulo: Ibiúna e Socorro. Esses dois sistemas de avaliação da sustentabilidade do estabelecimento rural e da qualidade do solo, permitem fazer algumas recomendações ou cuidados de manejo adequado.O pesquisador, depois de aplicar ambos os sistemas em várias propriedades, constatou várias maneiras de se melhorar a gestão ambiental dessas propriedades rurais.Gestão ambiental adequada

Solo

Antes de estabelecer qualquer medida de preparo, correção da fertilidade e da estrutura do solo, é aconselhável realizar pelo menos uma vez ao ano, uma análise mais completa envolvendo indicadores químicos, físicos e biológicos. Assim, pode-se evitar desperdícios e reduzir custos de produção na lavoura. A erosão pode ser evitada por meio da cobertura vegetal(viva) como a adubação verde (plantio de leguminosas e gramíneas no inverno), pois as raízes dessas plantas tornam o solo mais arejado e com aumento da macro e microvida. Por outro lado, a cobertura morta (palhas, capins e serragens, por exemplo) também pode ser utilizada para esse fim porque protege a ação direta dos raios solares, da chuva e do vento. Além disso, a cobertura do solo reduz a irrigação, diminuindo os custos de produção.O plantio precisa respeitar a declividade do terreno evitando a erosão. Se preciso, deve-se fazer curvas de nível na propriedade. Nas curvas, aconselha-se plantar arbustos como quebra-vento e, assim, evitar a entrada e disseminação de doenças e pragas.É aconselhável plantar espécies com diferentes sistemas radiculares. Elas diversificam a matéria orgânica, evitam e auxiliam na descompactação do solo, aumentam a micro e macrovida e colaboram para a fertilidade da terra.A rotação de cultura proporciona a diversidade de sistemas radiculares e o equilíbrio do sistema de produção, pois garante a ele maior capacidade para reduzir ou mesmo evitar doenças e pragas.Não se deve revolver o solo a mais do que 20cm para não eliminar ou reduzir a população dos microrganismos pela exposição à luz solar e altas temperaturas. Por essa razão, é recomendado o cultivo mínimo do solo ou o plantio direto, com a semeadura feita em sulcos ou covas abertas num terreno coberto de palha e/ou resíduos da cultivo anterior.É importante manter diferentes áreas arborizadas em meio às pastagens. Elas proporcionam descanso para os animais e ajuda a fertilidade do solo e aumenta a biodiversidade do sistema.

Água

A preservação e recuperação das nascentes, dos rios, dos lagos e represas, com mata ciliar, cuja proteção é exigida por lei, é fundamental para que a água não seque ou não seja contaminada. A conservação do solo auxilia à preservação das nascentes, pois sem a erosão não há escorrimento de terra (matéria orgânica, adubos, metais pesados) para a água. A análise periódica da água para determinação de elementos indesejáveis a saúde (excesso de sais minerais, metais pesados, nitratos, fosfatos) é fundamental uma vez que dependendo do uso que se faz dela pode causar problemas na saúde do homem e do campo. As fossas sépticas tratam os resíduos domésticos e evitam a contaminação das fontes de água existentes na propriedade por coliformes fecais e outros agentes maléficos à saúde humana. A cobertura do solo e as plantas com função de quebra-vento ajudam a reter a umidade da terra e, por isso, auxiliam a economizar água e reduz o custo da propriedade.

Gases tóxicos

A queima de materiais ou de restos de culturas na propriedade rural é proibida uma vez que produzem gases tóxicos para o ser humano e para a natureza. Por isso, materiais sólidos (plástico, metal e vidro) devem ser reciclados. E a matéria orgânica pode ser usada como compostagem. A redução do uso de máquinas pesadas evita a produção de ruídos excessivos, a compactação do solo e a emissão de poeira e gases que provocam e disseminam doenças e pragas e ocasionam a perda da qualidade de vida.

Paisagem

Deve-se conservar os habitats naturais, como as áreas de proteção permanente (APP) - encostas, morros, mananciais e as áreas de Reserva Legal (RL) estabelecidas por lei (20%), que são as matas nativas que abrigam espécies de animais em riscos de extinção, amparadas em lei governamental e proibidos de serem explorados. O plantio de árvores melhora a qualidade do ar, o bem-estar dos animais, a fertilidade do solo e a qualidade de vida da zona rural. A preservação da mata ciliar recupera a paisagem natural e protege a fauna, a flora e fontes naturais de água.Um ambiente equilibrado favorece a permanência das famílias no meio rural. A paisagem recuperada ou intacta proporciona a implantação do turismo rural, que é receita complementar no campo. O plantio de árvores na propriedade, no sistema agrossilvopastoril, que integra floresta com a produção vegetal e animal, favorece simultaneamente o ambiente (qualidade do ar, do solo, da água, do animal e da produção de alimentos) e a qualidade de vida.

Valores socioculturais e econômicos

As melhorias que são realizadas na propriedade, como reforma das moradias, atividades de lazer com o estímulo de caminhadas ao longo das florestas, das cachoeiras, dos rios favorecem a fixação do homem do campo e melhora a qualidade de vida. Este fenômeno conhecido como turismo rural ou agroturismo surge como nova alternativa de renda, atraindo consumidores para visitas técnicas, atividades pedagógicas e de promover maior interação entre produtor e consumidor. Além de ser atividade econômica e de lazer, significa maior valorização (valor agregado) e “marketing” do produto oferecido, isto é, há uma fidelização do consumidor (compromisso e conscientização) para com o produtor. Assim, há um aumento de opções de mercado para o produto, seja orgânico ou convencional. Finalmente, é importante ressaltar que todos esses cuidados estão, de um modo geral, integrados e são complementares no processo de conservação dos recursos naturais e na produção de alimentos mais saudáveis, e além de tudo, promovem melhorias para a qualidade de vida dos produtores que se sentem mais felizes e dos consumidores que aprendem a valorizar o alimento e o homem do campo.

Fonte: Embrapa

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