Catarina Chagas
O Serviço de Zoonoses do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), uma unidade da Fiocruz, vem acompanhando um surto bastante particular de esporotricose felina, micose subcutânea causada pelo fungo Sporothrix schenckii. Na epidemia que atinge o Rio de Janeiro os gatos atuam como transmissores da doença, inclusive para humanos, enquanto a forma clássica de infecção é pelo contato com vegetais ou solo contaminados. Baseado na experiência que adquiriu no atendimento de mais de 2.500 gatos com esporotricose, o Ipec compilou recomendações a veterinários e proprietários sobre como lidar com os animais e evitar a contaminação.
As indicações foram publicadas na revista Clínica Veterinária. Por lidarem diretamente com os gatos infectados, as donas de casa e profissionais de saúde animal formam os principais grupos de risco para a epidemia carioca. Cães também podem ser infectados pela doença, mas dificilmente atuam como transmissores – nesta epidemia ainda não foi observado nenhum caso de transmissão do cão ao homem ou a outros animais. “Nos cachorros, como nos humanos, a esporotricose é uma doença mais branda, de tratamento mais fácil. Já os felinos podem apresentar infecções mais graves”, explica a veterinária Tânia Maria Pacheco Schubach, coordenadora do grupo. Os donos de gatos devem ficar atentos a feridas que não cicatrizam, mesmo quando aplicados os tratamentos habituais. Elas são o principal sinal clínico da esporotricose e, quando observadas, devem ser notificadas ao veterinário, que saberá tratá-las adequadamente. Animais com suspeita de esporotricose devem ser isolados dos outros e manipulados com luvas, para evitar a disseminação da doença. A melhor forma de transportá-los é em caixas de plástico de fácil limpeza, já que as de madeira constituem ambiente favorável à proliferação de fungos. A limpeza das caixas pode ser feita com água sanitária e, se possível, a secagem deve ser por exposição ao sol.
Entre as indicações aos veterinários, está o uso de avental impermeável, descartável e com mangas longas, além de luvas e óculos de acrílico. Calçados que deixem os dedos dos pés expostos devem ser evitados e os cabelos longos, permanecer presos e cobertos por toucas. Em caso de acidentes como mordidas ou arranhões, o profissional deve permitir o sangramento e, em seguida, lavar a região lesionada com água corrente e sabão.
Cuidado especial deve ser tomado na higienização dos consultórios e mesas de atendimento, inclusive com desinfecção diária dos pisos e paredes. Luvas, máscaras, toucas, aventais e outros materiais utilizados devem ser descartados em sacos brancos leitosos com identificação de risco biológico. Materiais perfurocortantes, como agulhas e lâminas de bisturi, devem ser adequadamente descartados em recipientes apropriados para esse fim, também alertando-se o risco biológico. Todos os instrumentos cirúrgicos devem ser lavados em água corrente e esterilizados. “A adoção dessas simples medidas proporciona maior segurança aos profissionais da área de saúde e minimiza o risco de contaminação, inclusive dos proprietários, no manuseio de animais doentes, reduzindo os acidentes ocupacionais”, justifica a veterinária Isabella Dib Ferreira Gremião, que também faz parte do grupo do Ipec. “É importante esclarecer veterinários e médicos sobre o assunto, já que a epidemia em zonas urbanas como o Rio de Janeiro pode ser considerada recente”, completa Schubach. A pesquisadora alerta os proprietários de gatos para a importância da posse responsável do animal. “O risco da esporotricose torna ainda mais importante seguir recomendações básicas, como não deixar que os gatos saiam para a rua, castrar os animais e levá-los periodicamente ao veterinário”.
Fonte:Fiocruz
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