A pressão política e a postura da China dificultam as conversas que especialistas de cerca de 150 países realizam em Bangcoc para concluir o relatório das Nações Unidas sobre as medidas e tecnologias destinadas a combater a mudança climática.
Os cerca de 400 cientistas e representantes de Governos que participam da reunião do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) concordam que é preciso agir rapidamente para conter o processo de aquecimento causado pelas emissões de gás poluente. Mas as soluções defendidas pelos especialistas no relatório preparado em sessões a portas fechadas se deparam com a pressão política exercida pelas delegações governamentais.
"Alguns países provavelmente sairão perdendo da reunião, em que está surgindo um jogo político na negociação", disse Sitanon Jesdapipat, representante tailandês no IPCC, organismo criado em 1998 para abordar o problema da mudança climática.
Após abrir na segunda-feira a reunião de cinco dias, o próprio presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, admitiu que esperava que fosse realizado um intenso debate entre o grupo dos cientistas e o dos representantes dos Governos, e, dentro desse grupo, entre os países industrializados e os menos desenvolvidos. Assim que começou a reunião na capital tailandesa, apareceram as diferenças entre as nações desenvolvidas e as menos industrializadas em relação aos métodos mais adequados para reduzir a emissão de gases poluentes. Segundo delegados dos países menos desenvolvidos, a maioria dos cientistas que redigem o relatório, que com os outros dois adotados previamente formarão a base para as futuras negociações multilaterais sobre medidas para conter o efeito estufa, é de países industrializados. "Acho que os cientistas abordam em seu relatório assuntos menores sobre a emissão de gás metano em países pouco industrializados com a intenção de sustentar argumentos que demonstrem que este também é emissor", disse Anond Snidvong, professor de bioquímica do Instituto Asiático de Desenvolvimento, uma das entidades docentes consideradas de maior prestígio no continente.
Delegações de algumas nações pobres, que por emitirem uma menor quantidade de gases do que as potências industrializadas se consideram menos culpadas pelo aquecimento global, denunciam que o relatório é redigido segundo as conveniências dos países ricos. "Se o relatório final do IPCC for como o projeto, nós, dos países em desenvolvimento, saberemos as oportunidades que temos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, mas muito pouco sobre as medidas que os industrializados adotarão", disse um delegado indonésio. No segundo dia de conversas, a União Européia (UE), que em março se comprometeu a reduzir as emissões em cerca de 20% até 2020 (em relação aos níveis de 1990), instou os países menos desenvolvidos a reduzirem sua emissão de gases. "Precisamos nos assegurar de que, nos próximos anos, o aumento das emissões nas nações em desenvolvimento registre uma queda e seja eventualmente coberto para que fique de acordo com nosso objetivo de 2 graus Celsius", destacou Tom Van Ierland, especialista da UE em mudança climática, em entrevista coletiva.
O especialista europeu disse que os países menos desenvolvidos não devem adotar políticas próprias para combater a emissão de gases, em uma aparente alusão à China, que afirma que aplicará medidas unilaterais para solucionar o problema. A China, o segundo país mais poluente do mundo, e que se aproxima dos 6 bilhões de toneladas de CO2 emitidas a cada ano pelos Estados Unidos, está submetida a uma forte pressão de outras nações e também por parte de seus cientistas, que alertaram sobre a possibilidade de um futuro catastrófico caso não se contenha o aquecimento global. A delegação chinesa, que na reunião de Bangcoc advertiu que o mundo industrializado deve se abster de impor diretrizes ao IPCC, apresentou centenas de emendas ao relatório que deverá ser divulgado na sexta-feira.
Fonte: EFE
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