sexta-feira, 25 de maio de 2007

Combustíveis fósseis são maiores responsáveis pelo efeito estufa

Rubens Junior

Se nesse instante o mundo parasse de desmatar as florestas em 100%, mesmo assim, a providência não seria suficiente para frear o ritmo forte do aquecimento global. Isto só seria possível se os países desenvolvidos parassem já de queimar combustíveis fósseis, como gasolina ou diesel. O alerta foi renovado nesta quinta-feira pelo representante do Ministério do Meio Ambiente Adriano Santhiago, no segundo dia de debates da Semana Nacional da Mata Atlântica, realizada de 23 a 26 de maio na capital gaúcha. Ainda assim, fazendo a sua parte, afirmou ele, o Brasil tem na Mata Atlântica um enorme potencial para reflorestamento e para a mitigação dos danos não só naturais, mas também climáticos.

Segundo Adriano, do volume de emissões de gases de efeito estufa (gás carbônico - CO2), apenas 20% são provenientes de atividades de desmatamento ou de outros usos inadequados do solo. "A grande maioria, 80%, provém da queima de combustíveis fósseis", garante. Relatório do IPCC mostra que os maiores responsáveis pelas emissões são, pela ordem, os setores de Energia, de Transportes, a Indústria e, por fim, o desmatamento. "Ou seja, é bobagem dizer que a redução do desmatamento resolverá o problema do aquecimento", insiste Adriano, reconhecendo, porém, o compromisso do governo brasileiro com a redução do desmatamento no País. O Brasil, que, segundo relatório do IPCC, é o país que mais emite CO2 por desmatamento, vem atacando o problema de frente. Tanto assim que, nos últimos dois anos, conseguiu reduzir a taxa do desmatamento na Amazônia - bioma mais atacado atualmente - em 52%. Segundo Adriano, o Brasil pode continuar a contribuir muito com políticas de mitigação dos danos climáticos, aprofundando estratégias de florestamento/reflorestamento, de utilização de energia obtida a partir da biomassa (como álcool), da introdução de novas tecnologias no setor energético, mantendo o controle por sensoriamento remoto. "Mesmo assim" - alerta o assessor - "dependendo da região, as mudanças climáticas podem inclusive afetar o potencial de mitigação das emissões de gases de efeito estufa no setor florestal".

No tocante às técnicas de florestamento/reflorestamento, o mundo vem avançando muito, diz o assessor. "Se, até dois anos, não havia metodologia oficial para esse procedimento, agora existem nove registradas", diz. E a Mata Atlântica, segundo ele, tem grande potencial para projetos de florestamento com os chamados Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL).
O palestrante concluiu sua apresentação ressaltando a proposta brasileira de concessão, pela Convenção Mundial do Clima, de incentivos positivos para os países que reduzam emissões de CO2. "A proposta, feita em 2005, durante a Conferência das Partes (COP-11), traz grande impulso à luta pela mitigação do problema do aquecimento e seus múltiplos efeitos", disse. "Sem a contribuição da ministra Marina Silva, esse item não teria 'vingado' para ser apresentado ao conjunto dos países", ressaltou. A proposta, porém, ainda será motivo de negociação entre os países, mesmo porque nem todos os países possuem capacitação tecnológica para reduzir as emissões, e outros ainda não aceitaram a idéia.

Em outro painel de debate, nesta quinta-feira, intitulado Políticas Públicas para Conservação da Mata Atlântica, Gustavo Trindade, da Consultoria Jurídica do MMA, apresentou um histórico da legislação ambiental no Brasil, que, segundo ele, ganhou impulso e se consolidou nos últimos 30 anos. Outro assessor do MMA, Marcus Reis Rosa, falou sobre as áreas prioritárias para conservação, uso sustentável. Abordou também o tema da repartição de benefícios da biodiversidade da Mata Atlântica, uma das mais ricas do planeta, apesar de encontrar-se reduzida a 8% da sua cobertura original.

O evento continua nesta sexta-feira, com a realização do Encontro Nacional e Assembléia Geral da Rede de Ongs da Mata Atlântica.

Fonte: MMA

Um comentário:

Tadêu Santos disse...

QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS – O GRANDE VILÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL.
Existe uma evidente desconsideração por parte da comunidade ambientalista não-governamental e governamental para com a queima de combustíveis fósseis para a geração de energia no sul do país (SC e RS), porém quando o assunto é desmatamento na Amazônia e construção de hidrelétricas a reação é imediata. Algumas exceções como o Adriano Santhiago do MMA reconhecem a queima dos fósseis como maior culpado pelo aquecimento global. Numa outra ocasião quando o Tolmasquim (EPE) e o Ministro Lobão (MME) ameaçaram recorrer às térmicas a carvão em decorrência da resistência dos ambientalistas contras as hidrelétricas, nós do sul de SC, reagimos manifestando que não poderemos mais aceitar os impactos ambientais das térmicas a carvão na região, além da famigerada Jorge Lacerda 856MW, em Capivari de Baixo/SC. Fomos na época criticados em vários grupos de discussão porque entre a decisão política de escolher qual o melhor para a nossa região, declaramos que se o governo vir a utilizar desta indecente e inconveniente manobra, que então construam as hidrelétricas em vez das termelétricas. Concordamos que as alternativas são as renováveis, basta vontade política para facilitar os investimentos em eólicas e solares por exemplo. Recentemente houve contestação a declaração da Senadora Marina em relação às hidrelétricas na Amazônia, mas penso que a ex-Ministra sabe o diz. Se em vez do Chico Mendes tivesse sido ela a vítima, certamente seria imortalizada também como Santa.
OBS. I. Lembramos que mais térmicas a carvão passam a ameaçar outros estados como o Pará, Maranhão e Ceará com carvão importado.
OBS. II. Lembramos que nesta região as adversidades e mudanças climáticas comprovadamente já estão acontecendo e a população afetada pelas ‘’tragédias do clima’’ quer respostas!
Tadeu Santos / ONG Sócios da Natureza Araranguá – SC.