Fábio de Castro
A lavoura de arroz representava, no ano 2000, cerca de 7% de toda a produção agrícola nacional, de acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Mas a rentabilidade dessa importante atividade econômica é cada vez mais baixa devido ao alto custo de produção, baixos preços e concorrência externa.
Um grupo de pesquisadores tem avaliado a aplicação de um método bastante original para tentar recuperar os ganhos dos produtores: cultivar camarões amazônicos nos próprios tabuleiros de plantação de arroz. Avaliar a viabilidade da rizicarcinicultura – a associação do plantio do arroz à produção de camarão – é o objetivo do projeto iniciado em dezembro por pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. O projeto, que tem apoio da FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa, é uma parceria entre o Pólo Regional do Nordeste Paulista da Apta, o Instituto de Pesca da Apta e o Centro de Aqüicultura da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal. A coordenação é de Hélcio Luis de Almeida Marques e Marcello Villar Boock.
De acordo com Boock, o projeto, que será finalizado em dezembro, pretende avaliar as possibilidades de agregar valor à produção de arroz na região, estimulando a atividade. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que a produção paulista passou de 114,2 mil toneladas, em 2003, para 70,5 mil toneladas, em 2007. “Na região nordeste do estado, que sempre foi um grande pólo produtor de arroz, a área cultivada encolheu 22,54% entre 2000 e 2004, passando de 1.743 hectares para 1.350 hectares”, disse Boock à Agência FAPESP. A produção deve ter caído ainda mais após 2004, segundo o pesquisador.
Adubo para arroz
O projeto avaliará a viabilidade da rizicarcinicultura em vários parâmetros. No aspecto técnico, o objetivo é definir as densidades adequadas para povoar os tabuleiros. Os pesquisadores determinarão também quais adaptações precisarão ser feitas nos tabuleiros de arroz para produzir os camarões da espécie Macrobrachium amazonicum. “Além disso, o projeto definirá estratégias de manejo do camarão para maximizar sua sobrevivência nos tabuleiros e pretende observar a estrutura populacional dos animais em relação às interações sociais entre eles. Temos que adequar o manejo a essa peculiaridade”, disse Boock. Segundo o pesquisador, uma vez que a viabilidade técnica e econômica do sistema seja avaliada, ele poderá ser aplicado em outras regiões, com algumas adaptações. A técnica é utilizada em alguns países do sudeste asiático. “No Brasil, até agora, só foram feitos alguns testes com camarão da Malásia em nossa estação experimental de Pindamonhangaba”, disse.
A pesquisa está sendo feita em uma área experimental do Instituto Agronômico (IAC) instalada em várzea de 48 hectares que era utilizada para ensaios de variedades de arroz e produção de sementes. “O projeto utiliza uma área de 700 metros quadrados dividida em 24 tabuleiros de cerca de 30 metros quadrados cada”, explicou Boock. Nas 24 parcelas, delimitadas por divisões de alvenaria, foi feito o delineamento estatístico da pesquisa. “Fizemos um tratamento com três densidades diferentes, utilizando 18 tabuleiros com seis repetições cada. E um tratamento sem camarão, ocupando outros seis tabuleiros”, disse. A lâmina d’água tem profundidades que variam entre 20 e 30 centímetros. Segundo Boock, a concepção do trabalho é de um sistema que, além de produção satisfatória, conte com boa sustentabilidade ambiental. Os produtos da excreção do camarão, em tese, serviriam como adubo para o arroz. “Isso será avaliado propriamente, mas imaginamos que os dejetos dos camarões possam adubar o arroz, proporcionando a diminuição da quantidade de adubo a ser usada na plantação”, afirmou.
Em circunstâncias normais, o arroz recebe uma adubação durante o plantio e mais duas chamadas adubações de cobertura, durante o crescimento. Essas últimas são adubações nitrogenadas. “Nossa expectativa é que, com o sistema, possamos excluir as adubações de cobertura, diminuindo os insumos”, disse. O ciclo de produção do arroz dura cerca de 130 dias. O ciclo do camarão é um pouco menor. Os pesquisadores já fizeram duas colheitas do arroz. Na primeira colheita, o camarão continua nos tabuleiros até o arroz rebrotar. “Existe a possiblidade de colher o camarão já na primeira colheita do arroz. Estamos na fase de tabulação e interpretação dos dados para o relatório. Os dados serão publicados em dezembro, com o relatório final do projeto”, disse Boock.
Fonte: Agência Fapesp
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