Por trás da compra de um lindo móvel de mogno, um casaco de pele ou uma jóia de marfim e coral está um mundo cheio de interesses econômicos que se sobressai à proteção das espécies de animais e plantas que constituem sua matéria-prima e que são sofrem risco de extinção.
A 14ª Assembléia da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (Cites), que começa hoje em Haia e terminará no dia 15 de junho, inverterá a comum ordem de interesses e colocará em primeiro plano o ecossistema em relação ao mercado.
A proibição da exportação de mogno peruano, a proteção do lince ibérico e o combate ao tráfico de marfim, mercados que geram grandes lucros em escala mundial, serão os temas centrais da reunião, que pela primeira vez será realizada na Europa. Sendo um dos maiores consumidores de produtos de espécies selvagens, a União Européia (UE) possui um papel determinante no processo de votação do Cites, já que nenhuma proposta consegue ser aprovada sem o apoio do bloco, disse em Haia Daniela Freyer, coordenadora européia da associação
"Defensores da Vida Selvagem".
Uma das decisões mais importantes que a assembléia deve tomar refere-se ao pedido dos Estados Unidos de eliminar a regulação do mercado de peles de lince americano. Apesar de esta espécie não correr risco de extinção, o livre mercado do lince americano ameaça ainda mais o lince ibérico, já que as peles destes dois animais não podem ser diferenciadas de forma alguma.
Os dois tipos de felinos se diferenciam pelas orelhas e pela cauda, mas estas características não podem ser percebidas quando a pele do animal já foi retirada. Por isso muitas vezes o lince ibérico é vendido como lince americano, disse Freyer. Por causa desta semelhança, sua caça não pode ser indiscriminada e é preciso assegurar que a captura destes felinos não ameace a sobrevivência da espécie, uma ressalva que os americanos desejam eliminar. No mercado, um casaco de pele de lince custa cerca de 20 mil.
Outra representante da "Defensores da Vida Selvagem", Kris Genovese, criticou o fato de a postura da UE quanto à proposta de proibir por aproximadamente um ano as importações de mogno proveniente do Peru ainda não estar definida. O Peru, disse Genovese, viola as convenções do chamado ouro vermelho, que é vendido a um preço de US$ 1.800 por metro cúbico e deve ser explorado de forma sustentável para que seu comércio possa ser permitido.
"Há uma falta de vontade política" das autoridades na hora de oferecer dados sobre exploração e corte desta espécie, denunciou Genovese, acrescentando que as informações fornecidas pelo Instituto Nacional de Recursos Naturais do Peru não são confiáveis. Segundo a entidade, a cada ano, 16 mil árvores são derrubadas no Peru, o que equivale a 14 mil metros cúbicos de floresta.
No entanto, estudos americanos constataram que este número corresponderia a um volume de entre 5 mil e 7 mil metros cúbicos, portanto a quantidade de árvores cortadas deve ser muito maior.
O mogno precisa de espaço para crescer e sua poda precipitada tem grandes conseqüências para a conservação da espécie, que tem um ciclo reprodutivo lento (precisa de cerca de um século para atingir os 55 centímetros de diâmetro). O membro do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais da Cites Ari Herhowitz acredita que o valor total das exportações de mogno peruano (destinada 90% ao mercado americano) em 2006 chegou a US$ 37 milhões. Junto ao lince e ao mogno, outro tema que terá destaque na assembléia da Cites será o avanço na luta contra o tráfico de marfim de elefante.
Os países africanos Mali e Quênia pedirão que o comércio de marfim seja proibido por 20 anos, uma proposta sobre a qual a UE ainda não se manifestou, disse a especialista do SSN Shelly Waterland. Segundo dados fornecidos por Waterland, entre 1998 e 2007, foram vendidas 170 toneladas de marfim, o que corresponde a presas de 29 mil elefantes. O preço do marfim, por sua vez, também aumentou nos últimos anos, para US$ 850 por quilo. A Cites conta atualmente com 171 países inscritos e as assembléias são bienais ou trienais. A convenção é um acordo internacional dos membros da União Mundial para a Natureza redigido em 1963, apesar de só ter entrado em vigor em 1º de julho de 1975.
Fonte: EFE
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