quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Aquecimento: reunião secreta planeja era pós-Bush

Gregor Peter Schmitz

A Spiegel Online foi informada de que funcionários do governo chinês e membros do Congresso dos Estados Unidos realizaram uma reunião secreta, sem a participação de representantes da Casa Branca, sobre o futuro das políticas de proteção contra as alterações climáticas que devem ser adotadas por Washington. Os representantes chineses estavam tentando determinar o que deveriam esperar dos americanos na era pós-Bush. O vice-presidente da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento Nacional da China, Xie Zhenhue, realizou uma reunião na manhã de quarta-feira com uma delegação bipartidária de legisladores americanos, a fim de discutir os futuros desdobramentos das políticas de proteção contra as alterações climáticas no âmbito do governo americano, apurou a Spiegel Online.

Os representantes do governo chinês e do Legislativo americano realizaram sua reunião na véspera de uma conferência de dois dias sobre as alterações climáticas promovida pelo presidente George W. Bush, com o objetivo de reunir de maneira informal representantes dos países responsáveis pelas maiores emissões mundiais de carbono. Os críticos do governo americano esperam que a reunião promova pouco de prático, devido à perda de influência de Bush e ao fato de que os Estados Unidos estão pressionando pela adoção de metas hipotéticas, expressas em forma de "aspirações", e não de limites compulsórios para as emissões de poluentes. Funcionários de primeiro escalão familiarizados com os participantes do encontro entre a delegação chinesa e o Congresso americano disseram que os chineses estavam tentando descobrir até que ponto o Congresso está determinado a impor leis rigorosas de proteção contra as alterações climáticas, no futuro. Durante as discussões, os congressistas americanos deixaram claro que eles gostariam de votar o mais breve possível um projeto de lei que imporia limites compulsórios às emissões. No entanto, os congressistas declararam que não poderiam oferecer aos chineses um cronograma firme quanto a esse processo.

Ainda que reuniões entre delegações estrangeiras e representantes do Congresso americano, sem a participação da Casa Branca, sejam coisa corriqueira, o encontro da quarta-feira foi incomum porque sublinha o grau de preocupação que a China vem sentindo sobre a posição dos americanos com relação às alterações climáticas. A China, segunda maior emissora de gases responsáveis pelo efeito estufa no planeta, atrás dos Estados Unidos, por muito tempo foi capaz de usar a recusa de Washington quanto à adoção de medidas decisivas de proteção ao clima como desculpa para sua própria tergiversação sobre o tema. Rob Watson, presidente-executivo da Eco Tech Internacional, uma empresa de energia ecológica sediada na China, declarou esta semana que "os chineses não levarão nada do que dissermos a sério se nós mesmos não estabelecermos um exemplo". Nos preparativos para a conferência da quinta-feira, os chineses voltaram a expressar seu ceticismo quanto à possibilidade de adoção rápida de medidas contra as alterações climáticas. "A batalha contra a pobreza é a questão mais importante para os países em desenvolvimento", disse Xie durante uma discussão pública sobre o tema.

Com sua política de pressionar para que os países possam decidir por si sós as medidas de proteção contra as alterações climáticas que desejem adotar, e por não se esforçar para obter compromissos mais firmes das autoridades chinesas em suas conversações com Pequim, Washington propiciou aos chineses uma ampla margem de manobra que permite que pouco ou nada façam para combater as alterações climáticas. Mas essa política também vem causando isolamento cada vez maior da Casa Branca com relação ao público interno americano. Em projetos de lei recentemente propostos no Congresso, número crescente de medidas incluem cláusulas que imporiam severas medidas punitivas contra os parceiros comerciais americanos que não adotem limites compulsórios para as emissões de poluentes, e essas medidas certamente afetariam a China. Enquanto isso, há ações em curso no nível local e estadual, nos Estados Unidos, e pesquisas nacionais de opinião pública demonstram que uma clara maioria do público americano apóia a adoção de medidas mais decisivas de proteção contra as alterações climáticas.

Fonte: Der Spiegel

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