quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Crescimento sem impacto negativo

Thiago Romero

A proposição de estratégias e soluções para que o Brasil supere os desafios científicos e tecnológicos impostos pelos biocombustíveis é o assunto discutido na Conferência Nacional de Bionergia (Bioconfe), que teve início quarta-feira (26/9), em São Paulo, mas é também o foco central de um relatório apresentado na ocasião com recomendações para o incremento do setor energético brasileiro.

O presidente da Comissão Especial de Bionergia do Estado de São Paulo, José Goldemberg, apresentou parte do conteúdo do documento na conferência inaugural do encontro, que ocorre até sexta-feira (28/9) com entrada gratuita e promoção da Universidade de São Paulo (USP).
“Nosso objetivo é zelar para que a expansão da utilização de bioenergia no Estado de São Paulo não tenha impactos negativos, tanto do ponto de vista social como ambiental”, disse Goldemberg. O relatório final da Comissão Especial de Bioenergia, que será enviado ao governo do Estado em outubro, foi organizado por 14 grupos de trabalho. Uma das principais sugestões se refere à logística de produção do etanol. Estima-se que sejam feitas 500 mil viagens de caminhão por ano no estado para o transporte de etanol. Com a previsão de que a produção de etanol dobre até 2015, a proposta é diversificar o escoamento do produto em alcooldutos e hidrovias.
O documento propõe ainda a criação de políticas para a minimização do corte manual de cana, o

incentivo à colheita mecanizada e a implementação de um zoneamento ecológico para a expansão sustentável da cultura da cana. A transformação do bagaço e da palha da cana-de-açúcar em etanol por meio da hidrólise ácida e enzimática, de modo a aumentar a produção sem aumentar a área de plantio, também é uma das propostas. “A intenção é que nossas recomendações se transformem em projetos de lei. À medida que são feitas propostas claras e com embasamento científico, o governador se sentirá seguro em tomar providências para adotá-las. Uma das recomendações inclusive está sendo implementada, que é o encurtamento do cronograma de diminuição gradativa do corte manual da cana”, disse Goldemberg à Agência FAPESP. Segundo ele, cerca de 50 pessoas estão envolvidas na preparação do relatório final. “Conseguimos mobilizar os melhores nomes do setor em São Paulo e é importante dizer que esses grupos não são formados apenas por representantes do meio acadêmico, mas também por nomes do setor empresarial”, explicou. Liderança nacional em expansão

José Goldemberg, que além de ter sido reitor da USP de 1986 até 1990 foi ministro da Educação e secretário estadual do Meio Ambiente, ressaltou que São Paulo responde por dois terços da produção brasileira de etanol. “São cerca de 10 bilhões de litros por ano, ou 200 mil barris por dia, e esse programa de produção, que já é grande, está em pleno crescimento”, observou. Existem, segundo ele, pelo menos 150 destilarias de etanol no Estado e outras 50 aguardam autorização de funcionamento junto à Secretaria de Meio Ambiente do Estado. “Enquanto os combustíveis fósseis, o petróleo, o carvão e o gás representam 80% da matriz mundial de energia, as fontes renováveis como hidrelétrica e solar respondem por 13%. As biomassas modernas de resíduos vegetais representam 2% dessa oferta, com participação significativa do programa de etanol brasileiro”, apontou.

Em contrapartida, cerca de 57% da energia utilizada no Brasil vem de combustíveis fósseis e 43% de fontes renováveis. “Essa é uma situação excepcional e o programa de etanol do Estado de São Paulo tem participação significativa nesse contexto. O etanol já substituiu 40% da gasolina no Brasil”, disse. Para Carlos Vogt, secretário de Ensino Superior do Estado de São Paulo, presente na conferência, “o tema da bionergia é oportuno, pertinente e extremamente adequado para o momento vivido pelo país, seja do ponto de vista científico e tecnológico, seja do ponto de vista econômico e social.” “O professor Goldemberg lidera um grande trabalho que está definindo as linhas de desenvolvimento das pesquisas e a aplicação de seus resultados com vistas à transformação do conhecimento gerado em riqueza para todo o país”, disse o secretário. Também presente no evento, Suely Vilela, reitora da USP, destacou o papel da universidade no cenário de ampliação da eficiência energética nacional. “Sabendo que é indispensável o equilíbrio entre os cultivos destinados à energia e à alimentação humana, a USP mais uma vez vem cumprindo seu papel e atuando com sua reconhecida competência em um terreno onde tem todas as condições de contribuir. Estamos desempenhando essa missão de forma consistente com pesquisas de ponta, inovação, formação de recursos humanos e transferências de tecnologias”, destacou. Mais informações sobre a Conferência Nacional de Bionergia (Bioconfe): www.usp.br/bioconfe

Fonte: Agencia Fapesp

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