quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Hidrelétrica chinesa pode levar a 'catástrofe ecológica', alertam autoridades

Marina Wentzelde

Construção causou deslizamentos, erosão e poluição da água

A construção da maior hidroelétrica do mundo, a de Três Gargantas, na China, pode resultar numa “catástrofe ecológica” sem precedentes se nada for feito para impedir os danos ambientais causados pela obra, alertaram autoridades do país. Em uma conferência na cidade de Wuhan (centro-leste da China), envolvidos no projeto relataram casos de deslizamentos de terra, erosão do solo e poluição da água nas regiões próximas à Três Gargantas, em funcionamento desde 2006. O diretor do Comitê do Conselho de Estado do Projeto, Wang Xiaofeng, reconheceu que já não é mais possível ignorar os “problemas de segurança ecológica e ambiental trazidos pelo projeto”. Segundo ele, o “desenvolvimento irracional" da China é a principal razão por trás do desequilíbrio ecológico no país.

Desabamentos

A margem da represa já desabou em 91 pontos e uma área equivalente a 36 km foi engolida pelo reservatório, revelou Tan Qiwei, vice-prefeito da cidade de Chongqing, uma metrópole nas cercanias da usina. Quando a terra cede em um lado da costa levanta ondas de quase 50 metros que se propagam até a margem oposta e causam desgaste do solo, resultando em um novo desabamento, explicaram os especialistas. Os deslizamentos de terra têm freqüentemente ameaçado os moradores das áreas vizinhas da barragem e o governo já investiu mais de 12 bilhões de yuans (cerca de R$ 2,9 bilhões) para aliviar o problema. A poluição causada pela sedimentação decorrente da obra também comprometeu a qualidade da água potável que abasteceria 50 mil pessoas e causou a proliferação de algas em vários rios adjacentes, reconhecem as autoridades. Alem disso, a escassez de terrenos férteis e água potável têm agravado os conflitos por posse de terra na região. "Nós absolutamente não podemos sacrificar nosso ambiente em troca de prosperidade econômica provisória", reforçou Wang.

Energia Verde

O governo da China optou por construir a megausina no começo dos anos 90 sob o argumento de que a obra geraria energia verde, reduzindo emissões de gás carbônico, bem como ajudaria a controlar as cheias do rio Yang-tsé. De acordo com números oficiais, a hidroelétrica é capaz de reduzir em 100 milhões de toneladas ao ano as emissões de gás carbônico no país, o que ajuda a evitar o aquecimento global. Por outro lado, críticos do projeto há tempos alertaram para os efeitos colaterais da obra. Além de causar os danos ecológicos agora reconhecidos pelas autoridades, a usina também contribui para a destruição do patrimônio histórico das cidades que foram inundadas, bem como causa a miséria das populações deslocadas pelo projeto, dizem os opositores. O impacto da represa na vida selvagem da região é outra questão sensível apontada pelos críticos.

Fonte: BBC Brasil

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