quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Museu Goeldi realiza inventário da biota de município paraense

Maria Lúcia Morais

Os estudos vão subsidiar o monitoramento da fauna e da flora das áreas impactadas pela extração de bauxita realizada pela Alcoa Omnia Minérios.

A mineração de bauxita é uma atividade que altera drasticamente o meio ambiente. Para se extrair o minério, é necessário retirar toda a vegetação nativa, além de grandes quantidades de solo. Após a lavra, o cenário é de "terra arrasada", completamente sem vida. Recuperar essas áreas, respeitando toda sua complexidade de ecossistemas e de biodiversidade, além de uma obrigação, também se constitui em um grande desafio para empresas, técnicos e pesquisadores.
Para assegurar um eficiente processo de recuperação das áreas que serão degradadas pela extração de bauxita, no município de Juruti, no oeste do Pará, a Alcoa, empresa responsável pelo empreendimento, firmou uma parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT) por meio do projeto "Monitoramento dos Programas Ambientais do Meio Biótico da Mineração Alcoa".

O projeto tem o desafio de estudar a fauna e a flora das áreas que serão impactadas ou alteradas pela extração do minério de bauxita. A meta é atender os condicionantes dos Planos de Controles Ambientais (PCA) da Alcoa e, para tal, o projeto contará com a participação de 35 pesquisadores do Museu Goeldi e da Universidade Federal do Pará (UFPA), além de 17 alunos de pós-graduação e 50 técnicos das duas instituições. O projeto também auxiliará as ações do Programa de Conservação da Flora a ser executado na região de Juruti, especificamente, na área do empreendimento. Na primeira etapa, os pesquisadores vão conhecer, por meio dos inventários biológicos, as diversas faces da floresta nativa, sua biodiversidade e ecossistemas. A função do inventário biológico é levantar o máximo de informações possíveis sobre um determinado ecossistema, visando a preservar um ‘retrato’ de suas condições originais, já que a paisagem natural sujeita às alterações, poderá estar totalmente desfigurada no futuro. Além de analisar a florística, estrutura, fitossociologia (relação das comunidades botânicas com o meio ambiente) e dinâmica dessas áreas, os inventários botânicos também avaliam os riscos das espécies no que concerne ao perigo de extinção."Assim, quando for preciso recuperar ou restaurar uma paisagem florestal será possível conseguir isso de modo mais eficaz, em menos tempo e a custos menores, pois não se partirá do 'zero', e sim de informações contidas nos inventários biológicos elaborados quando o ambiente estava intocado", explica o pesquisador do Goeldi, Rafael Salomão, que coordena o projeto.

Além do inventário da biota da região, o projeto também inclui o monitoramento dos estudos realizados, através do acompanhamento da evolução das espécies de plantas e animais que habitam tanto a floresta nativa quanto as áreas que serão recuperadas através do reflorestamento. Nesta etapa, serão analisados o crescimento da floresta e o comportamento das populações de plantas e animais tanto no ambiente primitivo quanto naquele alvo da ação humana, antropizado. "É importante para a recuperação das áreas degradadas o conhecimento prévio das principais espécies nativas", afirma Rafael.

Estudos

As atividades começaram em junho deste ano e prosseguem até maio de 2009. O projeto já conta com uma base física equipada, que dá apoio logístico às pesquisas em andamento e hospedagem às equipes quando em trabalho de campo. Também já foram iniciados os inventários da vegetação, incluindo o resgate e re-introdução de epífitos, como bromélias e orquídeas, e as análises de unidades de paisagem. Nas duas primeiras campanhas da equipe de vegetação foram implantadas duas parcelas permanentes, de um hectare cada, em áreas de floresta primária. Entre as ações, está prevista a implantação, em Juruti, de um banco de germoplasma de espécies florestais, com o objetivo de produzir sementes e mudas para a recuperação das áreas degradadas. Composto por 13 grupos de estudos, o projeto atuará em três grandes áreas de pesquisa: Botânica, Fauna de Vertebrados e Fauna de Invertebrados. O estudo da vegetação local compreenderá a identificação da flora, dos epífitos (bromélias e orquídeas) e das unidades de paisagem. Já a pesquisa sobre a fauna de vertebrados focará os grupos de anfíbios, avifauna, ictiofauna (peixes), lagartos, mastofauna (morcegos) e serpentes. De invertebrados, serão estudados os seguintes grupos: dípteros (moscas, mosquitos e mutucas), araneofauna, drosophilidae, insetos hematófagos, termitofauna (cupins) e vespas sociais.

Os estudos serão realizados nas áreas impactadas pela extração do minério de bauxita e pela construção de uma rodovia e de uma ferrovia que ligarão o núcleo urbano de Juruti ao empreendimento. "Essas áreas ainda são pouco conhecidas em termos de biodiversidade, por isso temos um interesse muito grande em estudá-las", afirma Rafael. A mineração de bauxita será realizada inicialmente no platô Capiranga, que possui cerca de 70 metros de altura. Para se extrair o minério do subsolo será necessário realizar primeiro o desmatamento da área, que é composta basicamente por floresta primária. Após o corte raso da floresta, uma grande quantidade de terra será retirada, através de um processo chamado "decapeamento". Só então a bauxita será extraída, a uma profundidade de 4 a 6 metros da superfície do solo. Após a lavra, a empresa vai executar a restauração da área, através do reflorestamento com espécies nativas e da indução/facilitação da regeneração natural.

Segundo o pesquisador, os dados obtidos pela pesquisa fornecerão subsídios para a recuperação das áreas degradadas após a lavra do minério, para a produção de sementes e mudas, que serão utilizadas no reflorestamento, além de fornecer suporte aos programas de educação formal e ambiental e de conservação da fauna local. Os resultados também vão contribuir para o enriquecimento dos acervos científicos do Museu Goeldi sobre a biodiversidade desta região pouco conhecida da Amazônia. "Na execução desses estudos nós teremos um conhecimento bem satisfatório da biodiversidade dessa região", conclui Rafael.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social do Museu Goeldi

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