Thiago Romero
Estudos publicados em revistas científicas internacionais sugerem que plantas epífitas, que não enraizam no solo e se fixam em outras árvores para receber mais luz solar, são especialmente vulneráveis às variações de temperatura e, por isso, poderiam ser utilizadas como importantes indicadores biológicos do aquecimento global.
O potencial foi reforçado por Gerhard Zotz, responsável pelo Laboratório de Ecologia Funcional da Universidade de Oldenburg, na Alemanha, durante a palestra magistral “Flora epífitica e mudanças climáticas globais”, realizada no 58º Congresso Nacional de Botânica, terça-feira (30/10), em São Paulo. O epifitismo ocorre principalmente em florestas tropicais em que a competição por luz e espaço não permite que prosperem sobre o solo algumas espécies, que acabam germinando sobre as árvores. As raízes superficiais das plantas epífitas se espalham pelo ronco e galhos para absorver a matéria orgânica em decomposição. “Alguns trabalhos sinalizam que, se a fisiologia das epífitas for afetada, esse talvez seja o primeiro passo para que o resto da floresta sofra as consequências das mudanças climáticas”, disse Zotz. “As epífitas não só recebem uma carga de radiação solar maior como também ficam mais longe do solo, onde estão nutrientes e água. Mesmo assim, pesquisas recentes destacaram que elas são extremamente sensíveis a umidade e a eventos como a seca”, explicou.
Segundo ele, enquanto as árvores são responsáveis por cerca de 90% da biomassa das florestas tropicais, as epífitas a elas associadas representam aproximadamente 10% do total de plantas vasculares (com raiz, caule e folhas) presentes na biodiversidade mundial. “Por isso, as epífitas afetam diretamente a dinâmica das florestas tropicais no que diz respeito à absorção de nutrientes e à manutenção dos ciclos hidrológicos”, disse. O professor chamou a atenção para a potencial contribuição das plantas epífitas em um sistema de monitoramento de florestas nos países tropicais, de modo que informações sobre o comportamento das epífitas frente às variações climáticas seja colocado em perspectiva nos próximos anos. “Precisamos analisar com mais profundidade a criação de um sistema de alerta ao aquecimento global, principalmente em regiões montanhosas, nas quais as epífitas têm forte impacto sobre o ecossistema. Isso porque a biomassa das epífitas pode ser tão grande que a biomassa das próprias árvores”, disse à Agência FAPESP.
Zotz ressaltou a importância de que mais trabalhos sobre os teores de biomassa nas epífitas e sua contribuição para a medição do aquecimento sejam realizados. “Pesquisadores que já desenvolvem estudos sobre monitoramento climático a longo prazo precisam publicar seus resultados para que a comunidade científica mundial possa ter um melhor entendimento sobre esse assunto”, disse.
Fonte: Agência Fapesp
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