sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Temporada de chuvas: caos, prejuízos e desespero

*Prof. Jarmuth Andrade

Chegou a temporada de chuvas e com ela os transtornos indesejáveis para todas as nossas comunidades que não foram previdentes, não planejaram e não se prepararam para todos os acontecimentos e acidentes gerados pelo excesso de águas que se preciptam nessa época do ano. É comum nos noticiários dos rádios, televisão e jornais estampar o desespero da população (geralmente de baixa renda e instalada irregularmente em zonas de risco) sofrendo os sérios problemas de desabamentos, enchentes, erosões, inundações e lamentavelmente ampliando as estatísticas de mortes trágicas. Para não falar dos transtornos que trazem ao trânsito, ao dia-a-dia das pessoas, as ações dos serviços públicos que vêm ampliadas em centenas de vezes suas atividades para atender a demanda de restabelecer a ordem na desobstrução de vias, recuperação de pontes, passeios públicos, asfaltos, rede elétrica, acidentes de trânsito, retirada de famílias em áreas de risco, remoção de barreiras e muitos outros eventos.

Hoje mesmo podemos ver o Rio de Janeiro em polvorosa e caos total com o deslizamento do morro sobre o Túnel Rebouças, impedindo o deslocamento diário de quase 200 mil pessoas através da principal ligação entre as zonas norte e sul da cidade. E o pior, não há previsão para a reabertura do Rebouças. Em São Paulo as inundações em diversas áreas provocam centenas de quilômetros de congestionamento no trânsito, atrapalhando a vida de milhões de pessoas e também provocando grandes prejuízos no comércio e nas residências que são invadidas pelas águas, deixando muita sujeira e perda de mercadorias, móveis e até mesmo veículos. Mas essas duas cidades não são as únicas a sofrer esses sérios problemas na temporada das chuvas. Uma das principais causas desses problemas é a falta de planejamento urbano, falta de investimento na gestão integrada das águas urbanas (abastecimento, esgotamento, drenagem urbana e resíduos sólidos) e controle dos processos erosivos.

A erosão urbana é um dos principais problemas ambientais que afetam as cidades, e está diretamente relacionada com o processo de rápida urbanização sem planejamento e práticas de parcelamento do solo inadequadas e deficientes. Em algumas cidades a erosão assume formas assustadoras, destruindo a infra-estrutura urbana (ruas, guias, sarjetas, redes de água e esgoto, etc), causando assoreamento dos reservatórios e do leito dos rios, e agravando mais o problema das enchentes. A ocupação mais intensa dos terrenos próximos às ocorrências erosivas, multiplica os riscos de acidentes. Além disso, geralmente as boçorocas se tornam áreas de despejo de lixo, transformando as erosões em focos de doenças. Os prejuízos são enormes. Os governos estaduais têm auxiliado os municípios na realização de estudos e projetos e têm repassado recursos a fundo perdido para obras de controle de erosão, como galerias de águas pluviais, implantação de medidas preventivas, recuperação de áreas degradadas, incluindo projetos paisagísticos.

A cessão de máquinas pesadas e caminhões basculantes têm auxiliado muitos municípios a solucionarem problemas de erosão urbana e em estradas vicinais, reduzindo os custos das intervenções. Lamentavelmente muitos administradores municipais e até mesmo estaduais não vêm com bons olhos investir dinheiro nessa área de prevenção e realização de obras básicas que exigem altos custos de investimentos e "rendem poucos votos, pois não aparecem muito". Esquecem que a cada real aplicado na prevenção e solução de eventos com as águas urbanas economiza-se o triplo que é gasto para recuperação dos estragos ocasionados, reconstrução e atendimento das populações atingidas. Temos em nosso Fórum uma das maiores autoridades no assunto que é o Prof. Dr. Jorge Rios que já participou de importantes cargos públicos e já publicou extenso material sobre o assunto, além de ter participado do planejamento e execução de diversas obras urbanas em diversas comunidades brasileiras. Creio que ele pode falar com muito mais propriedade e competência sobre o assunto e até trazer algumas sugestões que podemos levar para nossas comunidades, nossos Comitês de Bacias Hidrográficas, nossas Universidades e administrações públicas para evitar que esses transtornos voltem a acontecer em cada temporada de chuvas.

Um dos principais fatores que a meu ver causa todos esses transtornos e prejuízos é a falta de maiores informações sobre a gestão das águas urbanas, aliada é claro à vontade política de resolver o problema. Como ambientalistas e interessados na solução dos problemas ambientais de nossas comunidades podemos buscar mais informação e conhecimento sobre o assunto e leva-las para nossos administradores públicos para minimizar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida de nossas sofridas populações.

Saudações ecológicas

*Físico e Ambientalista

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